A resistência de plantas daninhas a diversos herbicidas vem desafiando a pesquisa, além de preocupar a cada dia o produtor rural. Em Mato Grosso a grande presença do capim-de-galinha no campo tem ameaçado a produtividade das principais culturas.
Nas últimas três safras controlar a presença do capim pé-de-galinha tornou-se um desafio para o produtor Fernando Ferri, em Campo Verde. Conforme ele, neste ano o manejo este ano ficou ainda mais difícil. Mais resistente aos herbicidas disponíveis no mercado, a planta daninha foi favorecida pelo clima adverso, que passou a disputar mais espaço com a soja em alguns talhões.
O produtor comenta que mesmo fazendo todo um manejo, não conseguiu controlar a planta daninha, elevando ainda mais as perdas dentro da lavoura e os custos de produção.
“É lógico que são reboleiras dentro do talhão. Isso aqui no final dá quebra”, diz o produtor.
O risco oferecido pela erva daninha à produtividade agrícola não é somente por meio da matocompetição. O enraizamento volumoso do capim pé-de-galinha também é alvo de esconderijo para insetos. Entre eles está o percevejo castanho, praga considerada de difícil controle e capaz de causar prejuízos significativos para a produção de grãos.
“Esse percevejo castanho não tem nada que você possa fazer que controle ele. Faz um manejo único, que só é na pulverização de suco ou aplicação de metarhizium que ataca ele. Com as intempéries para produzir hoje está muito difícil, cada vez o produtor gasta mais e tem menos resultado com a atividade”, salienta Fernando Ferri.
Rentabilidade ainda mais em risco
Em Jaciara o produtor Jeferson Shinoca semeou 3,1 mil hectares de soja nesta safra 2023/24. Segundo ele, a invasão de pé-de-galinha resistente deve prejudicar ainda mais a rentabilidade da propriedade, uma vez que as quatro aplicações de herbicidas específicos realizadas para eliminar a planta não foram suficientes para evitar as perdas provocadas pela matocompetição.
“Teve área que nem colhemos. Talhão de 30 hectares que não consegui rodar porque o pé de galinha tomou conta. Esse ano foi um ano que teve uma estiagem no começo, aplicamos, o mato tudo estressado, competiu e não tinha o que fazer mais. A gente vem usando o pré-emergente em todas as áreas, em soja e milho, e não está dando resultado para ela não”, pontua Jeferson Shinoca.
O produtor de Jaciara frisa ainda que, além do pé-de-galinha, a presença de outras plantas daninhas no campo aumenta a preocupação, como a buva, a tiririca, a erva Santa Luzia e trapoeraba.
Empresas ampliam o foco para o problema
A maior dificuldade no controle das invasoras também amplia o foco de empresas do setor para o problema. Estima-se, hoje, que 60% da área total cultivada com soja no Brasil existem plantas com resistência a pelo menos um princípio ativo existente no mercado. A previsão é de que até 2030 esse número suba para 65% da área destinada ao grão.
“Se não vier produtos novos, que consigam realmente fazer esse controle, infelizmente nós vamos começar perder em produtividade, perder em produção. Já temos diversas plantas daninhas, tanto de folhas estreitas quanto de folha larga, apresentando resistência praticamente a todos os produtos já disponível no mercado, mesmo os específicos”, destaca o presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan.
Conforme o diretor de negócios soja e algodão da Bayer, Fernando Prudente, a questão é uma preocupação global.
“Nós estamos em um momento que preventivamente, e essa é a ideia da pesquisa, que a gente possa trazer soluções que evitem chegar em situações de complexidade que você possa inviabilizar alguma área de plantio. Considerando o tamanho e a dimensão do Brasil há necessidade de ter soluções personalizadas para cada região”.
Com um centro de pesquisas em Sorriso, região médio-norte de Mato Grosso, a multinacional frisa estar empenhada no desenvolvimento de um conjunto de soluções que engloba todo o sistema de produção. Ou seja, desde a fase pré-emergente das invasoras até a etapa pré-colheita da soja.
O objetivo, segundo a empresa, é conter a propagação e minimizar os efeitos das plantas daninhas em culturas como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar.
A Bayer revela estar com um herbicida em fase de aprovação regulatória, que promete desempenhar um papel importante no manejo de ervas daninhas, especialmente o capim-amargoso e o pé-de-galinha.
“Ele é um mecanismo de ação novo dentro do segmento de plantas daninhas na pós-emergência, é altamente eficaz contra um grande espectro de plantas daninhas. A gente tem aí mais de dez anos de pesquisa. Temos tanto a questão agronômica muito forte, mas, também, todas as questões toxicológicas e ambientais muito positivas, que traz uma segurança muito grande no estabelecimento desse produto no Brasil”, diz o gerente de herbicidas da Bayer, Matheus Palhano.
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