PATRULHEIRO AGRO

Agricultores em Mato Grosso temem perdas na soja por excesso de chuvas

Outro temor nesta safra 2024/25 de soja é quanto a uma concentração de trabalhos no momento da colheita

Lavouras encharcadas, com mais do que o dobro de água acumulada no campo em relação ao ano passado, dificuldades no manejo de tratos culturais, carência de armazéns e competitividade por espaço nos grandes centros com uma possível concentração de soja seca. Esses são considerados os atuais desafios enfrentados pelos produtores e previstos em relação a safra 2024/25 em Mato Grosso.

Em Jaciara, a Fazenda Santo Expedito cultivou 4,8 mil hectares de soja. De acordo com o gerente de produção Luis Antonio Huber, no ano passado nesta mesma época a propriedade tinha talhões com 200 milímetros de chuvas aproximadamente.

“Esse ano estamos chegando próximo de 600 milímetros acumulados. É até um pouco demais de chuva para a cultura da soja. A parte dos tratos culturais estamos conseguindo fazer. Atrasa um pouquinho, às vezes consegue adiantar. Já temos lavouras indo para a fase de enchimento de grãos”, comenta ele ao Patrulheiro Agro desta semana.

Luis Antonio frisa que torce para que o clima se normalize para que a lavoura possa ter uma boa produtividade.

“A lucratividade está muito próxima das despesas. Qualquer perda que tiver, por mínima que seja, já reflete no custo da empresa”.

Em Planalto da Serra a situação não é diferente. O produtor Jorge Diego Giacomelli comenta ao Canal Rural Mato Grosso que desde o dia 28 de novembro as chuvas não pararam no município. Na propriedade, segundo ele, 1,8 mil hectares foram semeados nesta temporada 2024/25 com soja.

“Eu até puxei recentemente o histórico da estação meteorológica nos últimos 30 dias e aqui tivemos 260 milímetros acumulados. Em novembro do ano passado não tinha nem chovido. Acho que não tinha chovido nem 30 milímetros”.

Jorge Diego frisa ainda que no histórico geral, a chuva em novembro estava bem mais concentrada e dezembro está se mostrando mais chuvoso.

“Está se realizando as previsões que diziam que a primeira quinzena de dezembro iria ser bem chuvosa”.

Falta de luminosidade na soja pode trazer perdas

De acordo com Jorge Diego, na região de Planalto da Serra há casos de produtores que não conseguiram finalizar o primeiro plantio por causa do excesso de chuvas. Ele frisa ainda que em sua propriedade não consegue há 15 dias entrar com o pulverizador na área, pois é uma região mais siltosa e há problemas de atoleiros.

“O solo está bem encharcado. Então estamos usando a tecnologia e fazendo aplicação com o drone e o pulverizador está guardado. E, você vê também uma soja mais amarelada, você vê bastante reboleira de encharcamento nos talhões”.

O produtor teme que a falta de luminosidade também prejudique ainda mais o desenvolvimento da soja.

“A gente sabe que isso depois reflete, principalmente, em peso de grão e isso com certeza vai diminuir produtividade se continuar assim, porque agora que ela está saindo da florada e daqui há pouco ela vai entrar na fase reprodutiva, que é a hora que pega canivete, enchimento de grãos nas vagens. É agora que ela precisa de um clima bom e precisa que a gente consiga fazer os manejos”, diz ele à reportagem do Canal Rural Mato Grosso.

Setor teme concentração na colheita

Outra preocupação do setor produtivo em relação ao excesso de chuvas no campo é quanto a uma possível concentração na colheita, principalmente nos municípios com baixa oferta de empresas receptoras de grãos.

“Deu esse atraso na chuva, depois quando ela veio e o regime se regularizou e quem tinha estrutura, e a maior parte dos produtores aqui no estado tem, entrou plantando do jeito que dava. Fazendo dois turnos e isso aí acelerou demais. Essa soja vai chegar toda de uma vez e se nós tivermos um ano de colheita chuvoso a gente sabe que vai chegar o grão úmido lá nos armazéns e isso acaba trazendo mais um problema”, salienta Jorge Diego quanto a questão da armazenagem.

Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que Mato Grosso possui capacidade para armazenar apenas 60% da produção de soja e milho. O déficit de armazenagem hoje é de 48,56 milhões de toneladas.

Jorge Diego comenta ainda ao Canal Rural Mato Grosso que Planalto da Serra é uma região “mais isolada, uma nova fronteira”. E que os armazéns mais próximos estão na região de Santa Rita do Trivelato e Nova Mutum, mas que é uma logística reversa, pois vai para o norte do estado.

“No caso, nós descemos para Campo Verde ou para Rondonópolis. A gente sabe que são grandes áreas de lavouras também, tem uma oferta de armazéns, mas, também, não é nada assim que sobre armazéns, e chegando essa soja úmida concentrada na época de colheita, com certeza vai ter um problema se esse pessoal não fizer um planejamento para nos atender”.

O gerente de produção da Fazenda Santo Expedito, em Jaciara, Luis Antônio Huber lembra que houve anos em que não conseguiram colher a soja em decorrência do excesso de chuvas, chegando a registrar perdas de 30% a 40% da soja com ardido em alguns talhões.

“Tem umas previsões de chuvas, bastante acúmulo de chuvas o ano que vem em janeiro e fevereiro e ninguém está preparado para isso. Tanto de secagem, principalmente de colheita. A estratégia é conversar com os vizinhos para trocar serviços. A gente já conversou com os vizinhos para um ajudar o outro”.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso), Lucas Costa Beber, frisa que “as empresas também têm que ser parceiras esse ano e estar atentas de talvez aumentar o turno. Coloca um turno a mais para poder receber esse produto para não termos nenhum caos durante a colheita”.

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