Produtores de Boa Esperança do Norte vivem a expectativa de eleger o primeiro prefeito da história. O município, emancipado em outubro de 2023, é o 142º de Mato Grosso e o mais novo do país.
A emancipação foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após uma longa batalha judicial, que durou mais de duas décadas. A força-tarefa agora é tornar o município caçula do agronegócio mato-grossense referência na produção das principais commodities do estado.
Distrito pertencente ao município de Sorriso até sua emancipação em outubro do ano passado, o desmembramento de seu território inclui terras do município de Sorriso, bem como terras de Nova Ubiratã.
Uma conquista que traz na bagagem histórias de superação e persistência dos primeiros desbravadores, a maioria gaúchos que abandonaram a terra natal em busca de um futuro promissor para garantir uma renda melhor para a família.
Como é o caso do produtor rural Armelindo Fabiani, de 83 anos. Ele conta que ao chegar o que hoje é Boa Esperança do Norte não tinha nada, era puro cerrado e a logística era precária.
“Deus o livre! Naquela época para tu sair para Sorriso levava o dia inteiro. Nós não fomos embora em 1989, 1990 porque não tinha para quem vender. Não tinha mais dinheiro. Sobrou só seis aqui na época”.
“Seo” Armelindo conta à reportagem do Canal Rural Mato Grosso que na época em que chegou à terra era comprada com sacas de soja.
“Eu trabalhei aqui cinco anos só com arroz e a primeira lavoura que eu consegui fazer com o meu dinheiro foi 23 hectares de terra. O meu sonho era dar uma vida um pouco melhor para os meus filhos. A minha preocupação e da minha esposa era sempre assim. Dar uma coisa melhor do que nós tivemos, porque lá era sofrido. Então, ficamos por aí mesmo para ver o que dava”.
Do pó a um sonho realizado
A história de “seo” Armelindo se funde com a de muitos produtores em Boa Esperança do Norte, como a do pecuarista Dirceu Prates Corrêa e do agricultor Dilvão Roberto Pase.
Dirceu chegou ao mais novo município de Mato Grosso há 30 anos. Ele lembra que na época em que desembarcou “era tudo estrada de terra, iluminação com motor a diesel”.
Dilvão também lembra, entre as tantas dificuldades enfrentadas, que houveram muitos problemas com o escoamento da produção.
“A estrada era muito ruim. Caminhão ia e não voltava, atolava. Acabava passando o período de colheita, porque não conseguia colher na hora certa. A comunicação com os familiares que ficaram no sul era bem restrita, cartório, banco, Sefaz. Essas coisas era tudo em Sorriso. Era um sonho nosso um dia emancipar Boa Esperança do Norte”, diz Dilvão.
“Depois foi mudando. Trouxemos a energia para cá, que veio de Sorriso, e depois de uns anos o asfalto chegou até aqui. Para nós era um sonho mesmo”, completa Dirceu.
Hoje, Boa Esperança do Norte tem uma população estimada em cerca de nove mil habitantes e 470 empresas instaladas em cima de aproximadamente 4,7 quilômetros quadrados. A Assembleia Legislativa de Mato Grosso criou o município em março de 2000, mas uma ação judicial acabou suspendendo o processo.
Na época o agricultor Moacir Antônio Guarnieri era tesoureiro da comissão de emancipação.
“Temos dois municípios mãe, que são Nova Ubiratã e Sorriso. Tivemos problemas judiciais, desacordos territoriais com Nova Ubiratã. Essa luta foi longa. Dá para ver. Estamos em 2024 e agora que vamos ter a chance de ter o primeiro pleito. Estamos correndo o pleito eleitoral para em janeiro colocarmos o nosso primeiro executivo e legislativo”.
Ao Canal Rural Mato Grosso, Moacir Antônio frisa que “para nós é uma satisfação vermos essas pessoas que estão aí hoje com a idade do meu pai, com idade dessas pessoas na faixa dos 80, que são realmente uns heróis brasileiros que gostam de ver o desenvolvimento desse país”.
Agronegócio será a principal fonte de arrecadação
Mesmo com a conquista da emancipação, Sorriso segue até dezembro responsável pela gestão de Boa Esperança do Norte. A partir de 1º de janeiro de 2025 o município começa a caminhar com o seu primeiro prefeito, vice-prefeito e os nove vereadores.
Quando da sua emancipação, Boa Esperança do Norte herdou aproximadamente 59 mil hectares de áreas abertas produtivas de Sorriso e mais de 240 mil hectares de Nova Ubiratã, ou seja, 20% de seu território pertencia à Sorriso e 80% à Nova Ubiratã.
Sendo assim, o candidato eleito a estrear a cadeira da prefeitura, que ainda será construída, vai ter no agronegócio a principal fonte de renda para o município.
“Sorriso é a capital da soja e Boa Esperança do Norte representava muito e ajudava muito. Hoje, Boa Esperança do Norte vive uma fase importante na sua vida, porque ganhamos visibilidade e vamos transformar isso com certeza em muita riqueza para poder ajudar quem quiser crescer junto com ela e dividir essa riqueza”, afirma o presidente da Coopermays, Fabiano Klein.
O agricultor Moacir Antônio frisa que o município terá uma área significativa voltada para a produção de grãos e que o clima é “espetacular” para o cultivo de soja e milho, além do algodão que está “vindo com muita força”.
Os dois candidatos para prefeito são agricultores e, conforme Moacir Antônio, “temos esperança que aquele que ganhar vai fazer um bom mandato, referente, principalmente, ao agro. Vamos para frente, 80% das famílias dependem do agro. É funcionário das fazendas, prestação de serviço nos armazéns. Até os que estão na área pública. Se o agro vai bem, tudo vai bem”.
A persistência que valeu a pena
Presidente e fundador de uma cooperativa em Boa Esperança do Norte, o “seo” Armelindo também se sente orgulhoso com a emancipação.
“A persistência valeu a pena. Nessa parte eu estou bem contente de ter feito aquelas loucuras que nós fizemos. A vida é assim. Vai ser uma cidade nova e grande. O potencial agrícola é muito grande. Nós temos um centro agrícola aqui e daqui não saio mais”, afirma ele com os olhos cheios de lágrimas.
“É um sonho realizado, né? Ter a família toda aí e conseguir ter um município aqui para nós. É muito bom! Demais”, frisa o agricultor Dilvão também emocionado pela conquista.
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