MAIS MILHO

Área de milho deve cair cerca de 65% em alguns municípios no nordeste de MT

Produtores pontuam que a baixa remuneração do milho no mercado é a principal motivação no recuo nesta temporada

A área de milho segunda safra em alguns municípios da região nordeste de Mato Grosso deve ser 65% menor, em relação ao ciclo passado. A desmotivação na temporada 2023/24 é devido ao alto custo de produção e o baixo preço pago pela saca de 60 quilos. Em algumas propriedades, o cereal chega a dar lugar em 100% da área para o gergelim.

O gergelim, por exemplo, nesta safra ocupa 100% da área agricultável do produtor Arlindo Cancian, em Canarana. Segundo ele, que sempre plantava “meio a meio”, o preço baixo do cereal foi o principal fator para tal decisão.

“Essa área que iria ser plantada de milho está partindo para outras cultivares. E, como Canarana começou a mais tempo plantar gergelim, eu espero colher em torno de 500, 600 quilos por hectare”.

No que tange ao preço, o produtor de Canarana comenta que o valor pago pelo gergelim “está melhor que o milho”. Ele salienta ainda que espera que a remuneração do milho venha a melhorar com a usina de etanol que está sendo construída.

De acordo com o Sindicato Rural de Canarana, a estimativa é de que a área destinada ao milho no município seja reduzida para menos da metade dos 150 mil hectares cultivados no ano passado.

O presidente do Sindicato Rural, Alex Wish, pontua ao Canal Rural Mato Grosso que o levantamento da área total deve ser finalizado em breve.

“A gente não acredita que ultrapasse os 60 mil hectares esse ano no município. Não tem como plantarmos para tomar prejuízo. Infelizmente, os preços ofertados no mercado desestimularam o produtor a plantar”.

Redução pode afetar outros estados

Alex ressalta que a redução da produção de milho na região nordeste de Mato Grosso pode afetar, inclusive, estados vizinhos, como é o caso de Goiás.

“Goiás depende muito do nosso milho. Eles têm muito confinamento no norte do estado e é o milho mais próximo deles. Esse ano ainda não, mas a partir do ano que vem, se o milho não reagir vai complicar, porque, além do consumo ali, vamos ter as usinas de etanol. Então, esperamos que o pessoal valorize mais o grão para que viabilize o produtor plantar”.

Cautela prevalece no campo

Em Água Boa o cenário é semelhante, conforme o presidente do Sindicato Rural, Geraldo Delai. Por lá, a cautela continua a prevalecer nas tomadas de decisões.

“65% a menos. Esse ano está quase 30 mil hectares. Além de ter plantado menos, o nosso reflexo vai ser, principalmente, na oportunidade de negócio de milho. O custo de produção vai ficar em torno de 80, 85 sacas por hectare, se continuar nesses preços”.

Geraldo comenta que a situação é mais preocupante quando se olha para o arrendatário, pois “como ele tem um custo alto na soja, o milho seria a renda”.

“Então, como esse ano ele não colheu a soja, foi mal na soja e nem plantou o milho, por exemplo, ele teria dois prejuízos. Ele não teria condições de sobreviver somente com o plantio da soja e milho”.

As incertezas desta temporada levaram a Agropecuária Jerusalém, em Água Boa, a cultivar apenas 694 hectares de milho. As sementes utilizadas foram a sobra do estoque da última safra.

O gerente técnico da propriedade, Felipe Zmijewski, explica que no ano passado houve uma mudança de estratégia na propriedade, na qual se ampliou a área de integração da pecuária na lavoura, diminuindo assim a área voltada para grãos.

“Acabamos guardando sementes [de milho] para plantar esse ano. Por mais que tenhamos a expectativa que vai faltar produto e aumentar o preço, a incerteza é grande. Então, só fizemos a área que estava planejada. A ideia é que a gente faça o grão para o nosso confinamento e que tenha sobra. Mas, o milho safrinha em função de valor não paga a conta. O produtor tem que ter rentabilidade. Milho de R$ 30 não paga a conta”, diz ele ao Canal Rural Mato Grosso.

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