O ano de 2022 foi considerado turbulento para a agropecuária brasileira, com preços altos, em especial dos fertilizantes, e ausência das chuvas em momentos determinantes para a produção. Em 2023, as incertezas ainda rondam o segmento e a cautela segue como palavra de ordem em Mato Grosso.
Os custos elevados e preços retraídos preocuparam os pecuaristas mato-grossenses. O estado concentra o maior rebanho bovino do país, com quase 33 milhões de animais, e na avaliação do presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, 2022 foi um ano desafiador para a atividade.
“Os preços da arroba voltaram aos de dois anos atrás. Tivemos recuo muito grande no valor da arroba. Por outro lado, os nossos custos de produção aumentaram demais. Custos de combustível, petróleo por causa da guerra da Rússia, custos dos grãos para ração animal, não só a pecuária bovina, mas suína e frango sofreram bastante também. Confinamentos estão levando prejuízo muito grande por animal. Não foi um ano compensador para a pecuária”, diz Ribeiro Junior.
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Apesar dos obstáculos, a pecuária mato-grossense apontou avanços. A necessidade de vacinar os animais contra a febre aftosa, por exemplo, chegou ao fim após 30 anos de imunização. Passo considerado importante à busca de um novo status sanitário, que pode abrir as portas dos mercados mais exigentes.
Outro destaque dentro das fazendas voltadas para a pecuária bovina foi o investimento em pesquisas e ferramentas mais modernas.
“Felizmente, o pecuarista conseguiu fazer ainda, dentro da porteira, o seu dever de casa. Graças a utilização destas ferramentas da pecuária moderna, que é o manejo, a sanidade, a genética, a nutrição. Ele investiu muito em nutrição, em genética. Nós fixamos ainda muito a utilização do DDG na ração, estamos trabalhando muito forte a questão ambiental nas fazendas, a fixação de gás carbônico”, pontua o presidente da Acrimat.
Quando o assunto é futuro, o presidente da Acrimat frisa que é de cautela diante de um cenário ainda incerto.
“O pecuarista, o produtor rural, é conservador em tudo. Não gosta de mudanças radicais. Como nossa pecuária é de ciclo muito longo, a gente tem de programar nossa vida. Não dá para programar para janeiro de 2023. Temos que programar para 2024, 2025, 2026. O ciclo nosso é longo. Todas nossas programações estão com pé no freio”.
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Custo de produção da soja subiu quase 70%
A agricultura também foi marcada por altas despesas. Para plantar um hectare de soja na safra 2021/22, o agricultor mato-grossense precisou desembolsar R$ 4,9 mil. Quase 70% a mais do que na safra anterior.
“Primeiramente a avaliação cambial, depois tivemos um aumento generalizado no custo de produção e isso vai desde máquinas agrícolas, peças insumos, fertilizantes. Tivemos casos de aumentos até 1000% potencializados pela guerra da Rússia e Ucrânia e nessa esteira entrou também defensivos agrícolas principalmente, puxados pelos herbicidas com a retirada de algumas moléculas do mercado com paraquat”, lembra o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore.
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Segundo Cadore, o setor iniciou com uma desproporcionalidade de custo em relação à safra anterior que já coloca a perspectiva de renda em cheque.
A falta de chuva é outro momento que comprometeu a renda de muitos agricultores em 2022. Ainda assim, a produção em Mato Grosso bateu recorde registrando 40,8 milhões de toneladas de soja e 43,8 milhões de toneladas de milho. E, de acordo com Cadore, tal desempenho histórico reforçou a necessidade de atenção à infraestrutura.
“Já temos um descompasso que dura décadas, porque a evolução agrícola do estado de Mato Grosso caminhou numa velocidade incompatível com a velocidade e método do potencial da implantação de infraestrutura do estado e do país. Seja nas vias rodoviárias, seja nas ferroviárias e seja na integração dos modais fluviais também”.
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O presidente da Aprosoja-MT salienta que questões ambientais, além das incompatibilidades burocráticas, travam o desenvolvimento de infraestrutura.
“Então, a agenda ambiental que é muito importante obviamente tem se transformado de certa maneira em uma agenda econômica e colocando, jogando todo esse custo para o produtor rural e consequentemente a sociedade brasileira que é quem paga a conta final”.
Futuro de incertezas leva produtor a segurar investimentos
As incertezas do futuro político e econômico do Brasil também geram apreensão do setor produtivo. Em Sorriso, município que mais planta soja no país, há produtor segurando os investimentos.
“Ainda hoje é uma grande interrogação, uma grande dúvida falar de 2023. Produtor, de uma maneira geral, que iria fazer novos investimentos, colocou pé no freio esperando ver o que acontece para só então se programar novamente e voltar a investir”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Sadi Beledelli.
Apesar das preocupações, o olhar adiante segue como uma das características mais marcantes de quem produz alimentos.
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“O produtor rural, não só de Mato Grosso, mas de todo o país, do mundo inteiro, dá pra se dizer assim, é o homem do ano que vem. Porque a esperança tem que estar semeada junto com a safra, já que dependemos de fatores que extrapolam o controle humano”, salienta o Fernando Cadore.
Ex-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Normal Corral, destaca que mudanças normalmente causam receio.
“A história da agropecuária brasileira é uma história de superação. O que precisa e que acaba beneficiando o agro, são reformas estruturais no Brasil. Nós tivemos a questão da reforma trabalhista que foi feita, mas ainda precisamos melhorar principalmente na reforma tributária e política, do judiciário. Tem muita coisa pra ser feita que afeta vários setores, não vou falar só do agro porque não é só ele que faz com que a economia nesse país cresça”.
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