Viabilizar o acesso de pessoas de baixa renda à terapia que utiliza o cavalo como elemento chave para promover os avanços esperados durante o tratamento. Este é o principal objetivo do programa de equoterapia do Senar Mato Grosso, que desde 2005 devolve sorrisos e melhora o dia a dia de famílias que não conseguem pagar pelo tratamento.
Só no primeiro semestre de 2024, quase mil pessoas foram beneficiadas pelo programa em Mato Grosso.
O terceiro episódio do Senar Transforma visitou o Centro de Equoterapia da Polícia Militar de Mato Grosso (PMMT), que foi criado em 2019.
O tenente coronel Walmir Barros Rocha, comandante da Cavalaria da PM, explica que os atendimentos ocorrem no período matutino, aproveitando toda a estrutura do quartel da Cavalaria da PM.
Os profissionais policiais militares que realizam o atendimento possuem formação em fisioterapia, psicologia, educação física, dentre outras.
“E junto aos parceiros conseguimos realizar esses trabalhos, que ajudam muitas famílias aqui na Baixada Cuiabana”, diz o tenente coronel Walmir Barros Rocha.
O Centro de Equoterapia da PM é um dos 38 centros de equoterapia que recebem apoio do Senar Mato Grosso.
A parceria, de acordo com a coordenadora de promoção social do Senar Mato Grosso, Aline Poliane, é firmada através de termos de cooperação técnica financeira.
A analista de programas especiais do Senar Mato Grosso, Áurea Arruda de Lima Cruz, pontua que as parcerias são fundamentais, pois “nós sabemos, o Senar tem a consciência, que o custo para manter uma equoterapia é muito alto”.
Andar a cavalo é algo mágico
O sorriso estampado no rosto do pequeno Daniel, diagnosticado com Autismo, mostra o quanto a terapia em cima do cavalo faz bem para ele. William Monte da Cruz, pai do garoto, conta que ele teve “poda neural” com dois anos e depois de alguns meses a família conseguiu o diagnóstico.
Inicialmente o tratamento era particular, contudo, ficou oneroso para a família, inclusive a equoterapia que ele teve que parar.
“No ano passado nós fizemos a inscrição aqui na cavalaria e esse ano Graças a Deus saiu para nós essa oportunidade, que é muito importante para o Daniel. Quando ele sai daqui, sai mais animado, mais centrado. Ele socializa mais”, revela William, que reforça que a retomada da terapia veio na hora certa.
A evolução do pequeno Daniel, assim como de outros praticantes, tem um motivo: andar a cavalo é algo mágico.
Fisioterapeuta na Cavalaria da PM, o 1º Sargento Celso César, esclarece que o cavalo por si só já promove um movimento tridimensional, que trabalha toda a movimentação do corpo da criança.
“O movimento do cavalo é o que mais se assemelha ao ser humano. Nesse movimento ele trabalha mais de 1,8 mil músculos, que são movimentos de coordenação motora, equilíbrio e ganho de autonomia”.
Movimentos variados, terrenos e pisos com texturas diferentes. As atividades realizadas em cada sessão são definidas conforme o tratamento e as necessidades de cada praticante. Além disso, seguem os critérios dos quatro programas básicos da equoterapia: Hipoterapia, Educação e Reeducação, Pré-esportivo e Prática Esportiva e Para-equestre.
O equilíbrio da jovem Ana Vitória, de 12 anos, é outro exemplo de como a equoterapia faz a diferença. Risonha, gosta de mostrar para todos as acrobacias que aprendeu a executar enquanto o cavalo anda em círculos.
Uma conquista para a menina que tem Síndrome de Down, vista com orgulho pela família.
“Depois que ela foi diagnosticada com Síndrome de Down, o médico pediu para fazer a equoterapia. Ela ama vim fazer. É muito bom e ela evoluiu bastante. [No dia a dia em casa] ela ficou mais calma”, conta Silmara Salvaterra de Almeida, mãe de Ana Vitória, ao programa Senar Transforma.
Equoterapia gera inúmeros benefícios
O 1º Sargento Marcondes Filho Campos, psicólogo e coordenador do Centro de Equoterapia da PM, destaca, em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, que são inúmeros os benefícios proporcionados pela terapia. Entre eles, a autoconfiança.
“Qualquer evolução do praticante é um ganho. Qualquer evolução aqui traz melhoria na qualidade de vida. Talvez a gente não consiga enxergar em um simples olhar nos olhos de alguns autistas, mas para a família já é um grande ganho isso. Esses tipos de ganhos nos fortalecem e nos fazem querer trabalhar sempre dentro dessa perspectiva”.
Ganhos que a família do Davi Henrique, de sete anos, testemunha diariamente. Cada sorriso de quem está em cima do cavalo contagia e vira combustível para quem acompanha as sessões. Familiares e profissionais tornam-se testemunhas oculares da superação de medos, traumas e obstáculos.
“O Davi é uma criança maravilhosa. Teve o seu diagnóstico com três anos e meio de Autismo leve para moderado de TDAH. Desde então, a gente corre para procurar o melhor desenvolvimento para ele. Ele faz várias terapias e sem sombra de dúvidas, a mais importante foi a equoterapia”, revela Otávio de Abadia Nunes Júnior, pai do menino.
O método da equoterapia, conforme o presidente da Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), Jorge Dornelles Passamani, foi buscado pela entidade em 1988 na Europa. No Brasil a terapia vem trazendo inúmeros resultados positivos na reabilitação “já com comprovação científica em todas as áreas”.
Centro atende cerca de 70 famílias
O Centro de Equoterapia da PM atende atualmente cerca de 70 famílias. A parceria com o Senar Mato Grosso garante a gratuidade em pelo menos 30% delas.
“É uma parceria que garante o atendimento às pessoas que não conseguiram ser atendidas em outros locais e aqui recebem todo esse aparato. Além de um subsídio financeiro que eles fazem para essas 21 famílias, existe também a disponibilidade de capacitação. Nosso primeiro profissional capacitado aqui na cavalaria a sua capacitação foi subsidiada pelo Senar”, comenta o tenente coronel Walmir Barros Rocha, comandante da Cavalaria da PM.
A maioria dos 38 centros de equoterapia que fazem parte do programa fica na Baixada Cuiabana, sob a supervisão do Rodrigo Gonçalvez, supervisor regional do Senar Mato Grosso.
Ele frisa que a entidade está de “portas abertas para novos parceiros”.
“Toda parceria do Senar tem que partir do Sindicato Rural. A pessoa que possuir um Centro de Equoterapia, leva essa demanda ao Sindicato Rural, que vai fazer a análise deles e direcionar ao Senar a solicitação”.
Para se tornar um parceiro, o centro deve atender alguns critérios estabelecidos pela Ande-Brasil. A lista de exigências inclui o time de profissionais e a estrutura do lugar.
A coordenadora de promoção social do Senar Mato Grosso, Aline Poliane, ressalta que “além do apoio financeiro, o Senar tem como compromisso fortalecer essa inclusão social e a melhoria de vida da comunidade. Para nós é muito importante que haja ações sociais direcionadas à essa inclusão”.
Só no primeiro semestre de 2024 foram 984 praticantes tiveram acesso à equoterapia por meio do Senar Mato Grosso, totalizando mais de 14 mil atendimentos.
“A equoterapia do Senar é um atendimento gratuito. E é bom a gente ressaltar que isso vem dos recursos dos produtores rurais. Então, é o Senar levando não só qualificação profissional, mas também direcionando parte desses recursos para ações sociais”, diz Aline Poliane.
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