Aves criadas soltas, livres para fazer e comer o que quiserem. É assim que funciona hoje a avicultura no Rancho Oliveira, em Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso. A produção de ovos caipiras e frangos é apenas uma das atividades desenvolvidas na propriedade.
O Rancho Oliveira é uma das 30 propriedades atendidas pela Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar Mato Grosso no município, conhecido mais pelas suas belas cachoeiras e potencial turístico.
A propriedade possui 22 hectares. O produtor Elias de Oliveira, conta ao programa Senar Transforma desta semana, que tudo começou com a criação de suínos, após a aquisição de duas matrizes. Em seguida surgiu a produção de leite e de ovos e frangos.
Ele confessa que iniciou as atividades sem conhecimento. “Zero. Por ser empreendedor, falei vamos tentar. Se der certo, deu. Se não der, a gente muda”.
A falta de conhecimento técnico sobre a avicultura expôs o produtor à erros e o prejuízo não tardou a aparecer.
“Lá no início nós compramos pintainhas poedeiras e, também, nós tínhamos frango de corte pesadão. E o frango pesadão vem com a fêmea junto e nós pegamos essas frangas e colocamos com as galinhas poedeiras. Uma coisa que não pode acontecer”, frisa à reportagem do Canal Rural Mato Grosso.
Outro erro, segundo ele, foi com relação ao tempo de engorda dos frangos de corte.
Da resistência às mudanças assertivas
Este obstáculo com a avicultura foi superado há pouco mais de três meses quando o rancho entrou no programa da ATeG Avicultura do Senar Mato Grosso. Durante três anos de assistência eles vão receber 36 visitas da técnica de campo, com aproximadamente quatro horas de duração cada, com acompanhamento e orientações com foco na transformação da realidade do local.
A técnica de campo do Senar Mato Grosso Nariane Gonçalves atende o Rancho Oliveira e outros 29 novos produtores em Chapada dos Guimarães por meio da ATeG Avicultura. Ela conta que “muitos produtores viam a atividade como uma atividade de consumo próprio” e que hoje, após receberem as orientações, “eles conseguem enxergar como uma atividade rentável e de mudança de vida para eles mesmos”.
No Rancho Oliveira, de acordo com a técnica do Senar Mato Grosso, faltavam informações básicas desde a questão alimentar, no qual lotes mais antigos de frango, por exemplo, não conseguiam chegar no peso para o tempo de abate. Outro ponto observado na época em que chegou à propriedade era a ausência de separação dos lotes de aves por sistema e ambiente, tanto por idade quanto por segmento.
Mas, para que pudesse colocar as mudanças necessárias na propriedade, a Nariane enfrentou a resistência dos produtores.
De acordo com a produtora Elaine Gonçalves de Oliveira, esposa do ‘seo’ Elias, no início eles olhavam para a técnica e viam “uma menina que quer mandar nas nossas galinhas, na nossa propriedade”.
“Mas, fomos entendendo a importância da técnica aqui, o potencial que tínhamos seguindo as orientações dela e hoje a Nariane é a chefe da nossa avicultura. Antes nós achávamos isso, achávamos aquilo, achávamos que podia misturar, mas aí fomos entendendo com assistência que não é bem assim. A alimentação é diferente, o trato é diferente. É um negócio e a gente precisa seguir as orientações para ter lucro”, diz a produtora ao Senar Transforma.
Hoje, os dias da visita da técnica de campo são aguardados com ansiedade e aquele cafezinho pronto para receber as orientações, revela a gerente da propriedade Gracilene Pereira Pires.
“A gente tem aprendido muito com ela. O carinho que ela traz através do conhecimento dela é muito bom, porque ela explica passo a passo”.
Também gerente no local, Anderson da Mata Oliveira completa que “é uma experiência o que ela passa para nós”, pois “antigamente aprendemos que criação era tudo solto, jogava o milho, a cada 15 dias lavava o bebedouro. Hoje aprendemos diferente, que tem que ter manuseio dos bebedouros, tem que lavar, higienizar os bebedouros, e comedouros”.
Investimento em genética e manejo
Uma das orientações para o rancho foi o investimento em genética, ou seja, melhorar gradativamente a qualidade do plantel. A dica foi substituir as aves rústicas por linhagens que agregassem maior produtividade e também ganho de peso, garantindo assim maior viabilidade econômica para o negócio.
Para a produção de ovos a linhagem escolhida foi a Embrapa 051, enquanto para a engorda a linhagem Pesadão.
Outra dica foi a padronização do manejo, um conceito básico na avicultura industrial e que faz a diferença na criação de aves caipiras.
Na coleta dos ovos e na pesagem das aves, o resultado do investimento em genética e da padronização do manejo já aparecem. A taxa de postura saltou de 45% para 65%. Na engorda as aves já chegam ao peso do abate dentro do prazo esperado e alguns lotes até antes disso.
Tudo é anotado pelo Rafael Pereira de Oliveira, filho do dos gerentes do Rancho Oliveira, que também acompanha e aprende com as visitas da técnica do Senar Mato Grosso.
“A anotação é uma coisa muito importante para sabermos como a galinha está, porque não é só ir lá ver se ela está bem, mas sim saber o desenvolvimento dela. É uma coisa que estou aprendendo muito. Eu vejo que está dando resultado e vai crescer mais”.
Meta é ampliar o plantel em 2025
O plantel de aves poedeiras que começou com 50 galinhas, tem hoje 85 em postura. Com a melhora do desempenho e a orientação técnica, a meta é multiplicar este número, pontua o produtor Elias.
“Nós pensamos em chegar quem sabe o ano que vem, tudo dando certo, a 400 aves poedeiras. É diferente quando você tem um técnico que está te orientando e estamos nos dando todas as chances para aprendermos. Ela vai ficar aqui três anos por aqui e daqui três anos, tudo dando certo e Deus permitindo, vamos ser grandes produtores de ovos e frango de abate”.
Hoje a produção do Rancho Oliveira é vendida no próprio município. São aproximadamente 1,6 mil ovos e entre 25 e 30 aves por mês.
Elaine conta ao Senar Transforma que as vendas são realizadas para amigos, conhecidos, vizinhos, mercado local, além da Prefeitura de Chapada dos Guimarães. Os ovos para o consumidor final são comercializados a R$ 15 a dúzia, enquanto para o mercado e a prefeitura a R$ 12. Já o frango é vendido a R$ 65.
Produção crescente, desafios fora da porteira
Esperançosa com o futuro da avicultura na propriedade, a dona Elaine aponta a existência de um desafio para além da porteira: conquistar novos consumidores para ver a demanda crescer.
“Pelo nosso produto ter uma qualidade diferenciada o preço dele é diferenciado e às vezes o mercado não está preparado para isso. Então a nossa preocupação é que temos uma quantidade de ovos X por semana. Como vamos fazer para escoar essa produção? Nós temos que pensar quando chegarmos a 400 aves. Nós precisamos de um mercado que já esteja preparado para receber essa produção”.
A técnica de campo do Senar Mato Grosso, Nariane, frisa que “hoje o grande entrave de fato é a comercialização, porque eles não conseguem competir com o preço”.
Ela acrescenta que “sempre tento passar para eles uma visão positiva é a tendência de mercado. Então, hoje nós temos um público crescente que tem uma visão e quer saber sobre o sistema de criação”.
Outra iniciativa foi pensar em grupo. Somar forças com outros avicultores da região para superar barreiras comuns.
“O produtor individual quando ele começa a trabalhar em formato correto, de padronização, ele consegue ter um resultado legal. Mas, quando ele trabalha em grupo, a gente consegue perceber que um grupo tem muito mais força. Hoje temos um grupo aqui na região da Chapada dos Guimarães, que é uma Associação de Avicultura, que se chama Grupo Produzir Chapada. E essa Associação funciona com pouco mais de 40 associados e começou na Comunidade Jangada Roncador e hoje se espalhou por outras comunidades aqui da região”, diz Nariane.
O grupo possui foco na produção de ovos e até possui parceria com a Prefeitura de Chapada dos Guimarães para a entrega do produto para a merenda escolar.
“É uma conquista que eles tiveram recentemente foi a emissão do Sistema de Inspeção Municipal (SIM) e eles estão trabalhando para conseguir o Estadual”, revela a técnica de campo.
O marketing e a diversificação como a alma do negócio
E já que o sistema de criação é um diferencial, o Rancho Oliveira tem apostado em mostrar a rotina do local como uma estratégia para atrair a clientela. Todo o trabalho desenvolvido vai para as redes sociais e a divulgação fica à cargo da gerente Gracilene.
“Nós fazemos as imagens das aves, colhendo os ovos e aí nós divulgamos nas redes sociais. Nós criamos o vídeo, criamos o conteúdo, faz a edição certinho e coloca lá. Tem dado certo, os clientes tem gostado, tem visto como é o manejo das aves, o ambiente em que essas aves são criadas. Isso dá uma certeza de que eles estão adquirindo um produto de qualidade. E tem aparecido muitos clientes”.
A diversificação da oferta de produtos também faz parte do plano para ampliar a clientela. Além dos ovos, na cesta do Rancho Oliveira também há mel, doces e outros produtos artesanais. Tudo feito ali mesmo. Uma parceria entre a dona Elaine e a Gracilene.
E assim, unindo forças e abrindo portas para a informação, produtores, gerentes e a nova geração no Rancho Oliveira vencem desafios e miram num amanhã mais próspero. Cientes de que o conhecimento é combustível para chegar mais longe.
“Ano que vem vamos estabilizar essa coisa melhor e eu creio que até o final do ano [2025] tenhamos uma postura bem definida do que nós vamos fazer com essas galinhas. Agora com a assistência técnica eu creio que a gente consegue alcançar o objetivo que a gente teve lá no começo”, frisa Elias.
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