Localizada na MT-235, que liga Nova Mutum a Santa Rita do Trivelato, a Escola Agrícola Ranchão vive um novo capítulo. São quase três décadas atuando na formação de técnicos em agropecuária para atender a do campo, que encontra dificuldades na hora de contratar novos profissionais.
A história da escola, tema do programa Senar Transforma desta segunda-feira (21), começa em dezembro de 1990 com a oficialização da sua criação. Era ali o início da realização de um sonho da comunidade Ranchão, que começava a ser viabilizado a partir da doação das áreas que abrigam a sua estrutura. A doação foi feita por produtores rurais.
De lá para cá, inúmeros profissionais foram formados em técnicos em agropecuária e direto para o mercado de trabalho.
“É fácil ouvir muitas histórias, com muita emoção dos moradores daqui, porque, na verdade, eles se sentem donos e são de fato os donos disso aqui. Antes eram pequenos sítios, que por motivação de alguns, doaram isso para a Prefeitura, justamente por vir de encontro com aquela necessidade, mas já visando o futuro. Foram visionários”, comenta o gerente de educação do Senar Mato Grosso, Marcos Medeiros.
Técnico de Campo da escola, Wanderley Borsatto é um exemplo desta relação de pertencimento. Ele é filho de um dos produtores que doaram parte das terras para a construção do local.
Técnico em agropecuária, ele dedicou boa parte da vida profissional a Escola Agrícola Ranchão, já tendo, inclusive, sido diretor.
“Eu sai daqui para ir à outra cidade fazer o meu curso técnico. [Meu pai dizia] ‘Não é possível que os nossos jovens estão indo para fora estudar’. Então, esse trabalho que eles fizeram aqui, junto com o prefeito, para formar essa escola foi muito bom. Empolga a gente demais, porque forma profissionais. Eles têm vontade de aprender e a gente de ensinar”.
Reforço do Senar Mato Grosso
Este papel transformador na vida de quem frequenta a Escola Agrícola Ranchão ganhou um reforço de peso há dois anos, quando a antiga Escola Municipal Rural Produtiva Ranchão começou uma nova fase e se tornou símbolo de uma iniciativa inédita no Brasil.
A mudança, conforme Marcos Medeiros, vem de encontro do interesse do município de Nova Mutum, do Sindicato Rural e do Sistema Famato que enxergaram uma oportunidade de colocar o Senar Mato Grosso à frente da gestão de uma unidade escolar, dos desafios enfrentados pelo setor em colocar mão de obra nova no mercado de trabalho.
O gerente de educação do Senar Mato Grosso explica que foi construída uma cessão pública, na qual a prefeitura cede a estrutura para a instituição de ensino. Ele ressalta que o local ainda conta com servidores públicos cedidos, pois é uma operação que já ocorria e a entidade veio para somar.
“Então nós temos servidores que fazem parte desse quadro, já temos contratados pelo Senar dentro da estrutura da escola. Contratamos muitas pessoas da própria comunidade, trazendo um benefício social para elas também. E, assim surge a Escola Agrícola do Senar. A primeira unidade em nível nacional. É um projeto piloto que o Senar está encampando”.
Escola fornece aulas teóricas e práticas
Com 160 hectares, a Escola Agrícola Ranchão é uma “pequena fazenda” toda estruturada para receber aulas teóricas e, principalmente, práticas com o objetivo de garantir a formação de profissionais realmente preparados para atender o mercado.
Os alunos ficam no local por dois anos, segundo a supervisora pedagógica Adriana Sonaglio.
No primeiro ano os estudantes recebem informações sobre infraestrutura e parte animal, enquanto no segundo ano é trabalhado com eles a parte de produção vegetal e produção agroindustrial.
O coordenador da Escola Agrícola Ranchão, José Paulo Souza Santos, pontua que os alunos cumprem em média uma carga horária de 2,4 mil horas, além de outras cerca de 400 horas de estágio.
Entre os profissionais que trabalham diretamente com os alunos na parte prática, além da sala de aula, existem técnicos de campo, auxiliares de campo e professores.
O Renato Costa é professor e está há 22 anos lecionando na escola. Para ele, tanto a orientação dentro da sala de aula quanto na prática é de suma importância para a formação dos futuros profissionais.
“Tudo isso para ele ter uma melhor performance na sua aprovação. Até porque, não adianta passarmos o conhecimento e ele na prática não ter essa habilidade desenvolvida”.
Em 2024 a expectativa da Escola Agrícola Ranchão é formar 30 novos técnicos em agropecuária. Entre os novos profissionais está Hadja Cristiny, de 17 anos.
Natural do Paraná, ela se mudou com os pais para Nova Mutum. Ela conta ao programa Senar Transforma, do Canal Rural Mato Grosso, que a sua ideia inicial era fazer faculdade de psicologia.
“A minha mãe falou que era uma oportunidade interessante [o curso técnico]. Ao mesmo tempo eu não queria vir e quando cheguei aqui foi tudo diferente. Hoje eu penso em fazer uma faculdade de agronomia e trabalhar na área de pesquisa”.
Ensino em diversas áreas da agropecuária
A contratação de novos colaboradores é um desafio para agricultores e pecuaristas. Uma pesquisa feita pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) traduziu isso em números.
O Instituto ouviu 392 produtores rurais de todas as regiões do estado. O levantamento mostrou que 70% deles disseram ter “alta dificuldade” na hora de encontrar mão de obra qualificada, especialmente operadores de máquinas agrícolas, vaqueiros e profissionais de campo, ou seja, quem bota a mão na massa.
Na Escola Agrícola Ranchão os alunos possuem a oportunidade, de acordo com o gerente de educação do Senar Mato Grosso, Marcos Medeiros, desde o preparo do solo à colheita de ciclos anuais, como a soja e o milho, bem como da fruticultura e olericultura.
Na área pecuária, a escola conta com estrutura para a produção de gado de corte, gado de leite, ovinocultura, suinocultura, avicultura e até mesmo piscicultura.
“Eles saem daqui prontos. Excelentes profissionais para o mercado. Muitas fazendas e empresas nos procuram [diante da dificuldade de mão de obra]”, comenta a supervisora pedagógica Adriana Sonaglio.
Produtor em Nova Mutum, Emerson Zancanaro pontua, ao Canal Rural Mato Grosso, que a demanda tecnológica por mão de obra não é apenas na parte de máquinas, mas também de processos, inclusive na área de gestão administrativa.
“E a gente sente que nessa parte agrícola, de técnico agrícola é o que está faltando”, diz. O produtor frisa que para quem sai da Escola Agrícola Ranchão, o espaço no mercado de trabalho “está garantido”.
“Não só garantido para trabalhar no campo, mas como ascender em outros patamares do agronegócio. A pessoa sai daqui capacitada para tudo”, completa Emerson Zancanaro.
Oportunidade para quem já se formou
Hoje, a escola possui capacidade para receber 240 alunos divididos entre período matutino e vespertino. O foco principal são estudantes que estão no ensino médio, contudo, conforme o gerente de educação do Senar Mato Grosso, Marcos Medeiros, também são acolhidos aqueles que já concluíram os estudos e desejam uma formação técnica.
Natural de Rondônia, Henrique Martins Angélico é aluno do ensino médio. Para ele, estar na Escola Agrícola Ranchão é “uma nova oportunidade”, pois após entrar nela “passou a gostar” da atividade.
“É um mundo completamente diferente. Se tornou, querendo ou não, um desafio para mim. E eu quero enfrentar esse desafio e participar desse mundo [do agronegócio] de alguma forma”.
Aos 26 anos, Felipe Ribeiro é um dos 240 alunos da Escola Agrícola Ranchão. Ele deixou o trabalho com carteira assinada e a sua “liberdade” financeira, como diz, para se capacitar.
“A gente sabe que não é fácil. Só que com essa oportunidade que eu tive, vi que poderia crescer e chegar aonde eu almejava. E, eu ficando só num lugar, achei que não poderia alcançar o que eu queria. [É uma oportunidade] gigantesca. Eu pretendo me formar como técnico esse ano, seguir na carreira de agronomia, me formar e, se Deus permitir, entrar em uma fazenda e ali dentro crescer”.
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