A avicultura foi a principal atividade do Sítio Boa Esperança, em Chapada dos Guimarães, durante 12 anos. O fechamento da indústria que comprava as aves acabou trazendo para a propriedade um novo foco: a bovinocultura de leite.
O sítio está localizado em uma área de aproximadamente 28 hectares na comunidade de Ponte Alta, numa região de furnas, que tem uma bela paisagem e é palco de uma história de resiliência, transformação e amor pelo campo.
Quando adquiriu o sítio em 2003, o produtor Adão José Onésimo lembra que o local possuía apenas a cerca em volta. O restante foi construído do zero, ao mesmo tempo em que trabalhava para terceiros. Ele conta ao programa Senar Transforma desta semana que assim foi durante quatro anos, até que em 2007 começou com a avicultura.
“A princípio mesmo foi a avicultura. E, com ela veio o leite junto. No princípio eu não quis ficar dependente só da avicultura, mas ela era a principal”, diz.
O produtor era um dos avicultores parceiros de uma agroindústria que atuava em Campo Verde, município vizinho à Chapada dos Guimarães. Tudo ia bem até que o grupo decidiu encerrar as atividades da unidade.
Com isso, Adão viu dos dois barracões que alojavam cerca de 54 mil aves parados por um bom tempo, até que veio a ideia de aproveitá-los na bovinocultura de leite, que de atividade secundária se tornou o carro-chefe no local.
“Muitos estavam optando por vender e desmanchar os barracões. Só que o preço que estavam pagando não estava atrativo. Era muito abaixo do mercado. Então eu optei em não me desfazer dos meus barracões. Aproveitei eles para a bovinocultura de leite”.
Das aves ao leite
Antes de transformar os barracões em confinamento, as vacas ficavam em piquetes e eram tratadas em cocho. Segundo Adão, no sistema em que trabalhava com as vacas havia muita incidência de parasita.
“Eu olhei para o barracão e falei ‘por que não confinar elas totalmente?’. Porque se eu já estou tratando e estou tendo esse desafio, então é melhor eu as colocar todas fechadas e dar comida diretamente na boca delas”.
A adaptação do espaço envolveu, conforme Adão, desde a concretagem do chão até a construção da sala de ordenha e a sala do resfriador, bem como a parte de cama para os animais.
“Tivemos que readaptar o aviário. Foram dois meses de serviço e investimento. Não ficou muito alto fazer, porque a maior parte das coisas eu fiz. Arrumei um pedreiro só para fazer a parte de concreto. As outras coisas, madeira e instalação de cocho, as baias das vacas foi tudo por minha conta. Nós fizemos do jeito mais simples e que fosse funcional”, conta o produtor à reportagem do Canal Rural Mato Grosso.
Das 42 vacas do plantel, 35 estão atualmente em lactação. A sala de ordenha, que também foi parar dentro do barracão, é usada em dois momentos do dia. Logo cedo pela manhã e no fim da tarde.
A rotina na propriedade, conforme a produtora rural Simone Aparecida Frasnelli, é intensa. Mas, assim como o marido, também ergueu a cabeça e olhou para a frente quando a família precisou direcionar todos os esforços para a pecuária leiteira.
“Eu e o Adão sempre fomos realistas. Sempre fomos simples. Para nós não foi um baque a fechada dos aviários, porque a gente já trabalhava no leite. Nós tínhamos duas pernas e quebrou uma. Mas, nós falamos que tínhamos leite. Nós vamos continuar com o leite”.
Conhecimento, um insumo para o sucesso
Além do foco total na melhoria da produção de leite, a transformação da realidade do Sítio Boa Esperança também contou com apoio do Senar Mato Grosso. O produtor é atendido pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) e recebe visitas mensais de um técnico que fornece um insumo fundamental para o sucesso da propriedade: o conhecimento.
A propriedade é atendida pela ATeG do Senar Mato Grosso há pouco mais de dois anos e, de acordo com Adão, é um apoio fundamental para os resultados observados.
“Ela nos deu a maior força para nós confinarmos as vacas e também na nutrição, quando mudamos as vacas para os galpões. Quando muda para a parte de confinado a nutrição é outra. E essa parte de nutrição ele deu todo o suporte para nós. Ficamos bem satisfeitos com o Senar”.
A ponte entre o produtor rural e o Senar Mato Grosso foi feita pelo mobilizador do Sindicato Rural de Chapada dos Guimarães, Alex Humberto Faria Junior. Ele comenta ao Senar Transforma que o programa tem sido bem aceito pelos produtores rurais do município.
“Os produtores têm aceitado muito bem a ATeG, tem deixado o Senar entrar porteira à dentro. E os produtores em que o Senar tem entrado adentro com a ATeG eu tenho visto alguns resultados positivos, que tem aumentado a produção, melhorado a produção, melhorado a questão de rebanho, melhorado e aumentado a questão da produtividade”, pontua Alex.
Transformação que gera resultados
A transformação vista no Sítio Boa Esperança é nítida. Além dos barracões que abrigam os animais e o espaço de ordenha, cerca de 60% da propriedade é destinada para o cultivo de milho.
O cereal é utilizado na nutrição das vacas, enquanto o esterco dos animais vira adubo para a lavoura.
“Nós vamos economizar no adubo. Para se ter uma ideia, esse ano fiz a análise e a terra não estava precisando colocar fósforo no plantio, porque a terra está bem alimentada”, conta Adão.
Supervisor regional Senar Mato Grosso, Rodrigo Gonçalves, comenta que o produtor “literalmente” abriu suas portas para a entidade.
“Ele já era aberto a receber os apontamentos da cooperativa na qual ele faz parte. Então, ele sempre foi muito ativo, executava as orientações, comprava sempre as ideias da cooperativa. Quando o nosso técnico chegou na propriedade, que começou a entender a abertura que o Adão dava, as sugestões foram de bate e pronto acatadas”.
A produção de milho foi uma delas e que vem gerando rentabilidade ao produtor rural. O supervisor do Senar Mato Grosso comenta que a redução de custos com a ração foi significativa, de R$ 480 a tonelada para em torno de R$ 110.
Com todas as adaptações realizadas na propriedade, a produção de leite saltou de 12 litros por animal para 17 litros. O produtor almeja, revela Rodrigo, chegar a 20 litros de produtividade por animal, o que deve ser atingido com o processo realizado por lá.
“O limite só depende do investimento e da dedicação dele. O seo Adão é fora do comum. E estar aberto às mudanças e às melhorias, porque as melhorias acabam vindo para eles, retorna para a propriedade”.
E o retorno já pode ser observado no Sítio Boa Esperança. A movimentação ao lado do antigo aviário revela que logo, logo vai ter novidades na propriedade.
“Agora estamos construindo um bezerreiro. Vamos mudar as bezerras do anexo do outro galpão. E estamos construindo também um galinheiro para galinha caipira. Hoje eu estou utilizando só um galpão, mas futuramente eu estou vendo que já vou ter que utilizar os dois galpões, porque graças a Deus o rebanho está aumentando, as fêmeas estão aumentando. Eu não vendo as crias. A nossa intenção é aumentar, porque hoje você está na atividade aqui, a sua estrutura comporta mais, os seus equipamentos também estão ociosos, então você tem de aumentar a produtividade para não ficar com os equipamentos ociosos”, revela Adão.
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