Na última safra de milho, o Brasil produziu um recorde histórico de 131 milhões de toneladas do cereal. Para a safra 2023/24, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê diminuição de quase 10% nessa produção. Para o consultor da Safras & Mercado, Paulo Molinari, a principal diminuição será de áreas plantadas e no uso de tecnologia nas lavouras devido ao aumento no custo de produção.
Molinari foi o entrevistado da segunda Live Mais Milho, realizada pelo Canal Rural Mato Grosso, na noite de sexta-feira (20). A live integra a oitava edição do projeto Mais Milho, realizado pelo Canal Rural, pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
O consultor explicou que o primeiro grande consenso é que o investimento em tecnologia, vai ser menor pelo preço do milho a pouco mais de R$ 35. “O produtor vai ter que encaixar para a safrinha 2024 a realidade de custo e a realidade de preço e isso vai derrubar a tecnologia”, comentou.
Plantio atrasado da soja prejudica safrinha
Os campos de lavouras de soja ainda aguardam chuvas para o desenvolvimento das plantas da oleaginosa. Em algumas regiões, os produtores nem chegaram a plantar e esperam pela chuva para um plantio mais coerente. Entretanto, esse atraso pode comprometer a janela de plantio de safrinha.
“Se essas chuvas, previstas para o ano que vem, não chegarem, é preciso pensar que teremos um plantio tardio de milho com curva de produtividade delicada. Como estamos com um El Ñino dentro do normal, a chuva chega tarde mas ela corta mais cedo para algumas regiões de Mato Grosso. A gente deve considerar esses fatores”, explicou.
Mercado externo do milho
Quanto ao mercado externo, Molinari comentou que no pós-pandemia ainda busca-se um ponto de equilíbrio de preço. Em 2023, o reacordo entre a China fez com que o país priorizasse a compra do cereal brasileiro. E neste ano, já foram embarcadas sete milhões de toneladas para a China, um mercado que antes comprava o grão do mercado norte-americano.
O Brasil está inserido em um processo internacional de demanda. E de acordo com Molinari, os custos de produção precisam se encaixar nesta realidade.
“Nós exportamos milho para 150 países. O mercado internacional já sabe que no segundo semestre o Brasil tem um excedente de pelo menos 50 milhões de toneladas, mesmo que caia a safrinha nós teremos essa quantidade para atender essa demanda mundial. Mas sempre teremos os Estados Unidos como nosso grande concorrente. Mas teremos uma grande demanda internacional”, disse.
Já no mercado interno, é possível prever mais um recorde de demanda. A projeção para 2023 é de 84 milhões de toneladas e para o ano que vem, a média é de 88 milhões de toneladas.
Impacto das guerras geopolíticas
Molinari explicou as consequências que esse cenário pode trazer para o mercado. A Ucrânia, por exemplo, trouxe impactos fortes nos preços pelo processo da logística internacional, pela pandemia. Quando surgiu a guerra, a dificuldade global para o fornecimento de trigo, pela Rússia, aumentou.
O novo episódio são os conflitos das últimas semanas entre Israel e Palestina. “O petróleo, por exemplo, ele mexe com o preço dos combustíveis, de alguns fertilizantes, que são utilizados na agricultura e mexe com o Brasil, podendo alterar o preço do etanol, do diesel e assim, alterar o preço do milho e do óleo de soja”, comentou Molinari.
Para Molinari, os atentados criam um ambiente de preocupação podendo ser maior que a guerra da Ucrânia, uma vez que neste conflito, a grande questão foram os embargos impostos pela Rússia.
“Se esse conflito ficar centralizado entre Israel e a faixa de Gaza, sem transpor as fronteiras políticas e físicas, o petróleo vai ficar em tom de preocupação. Se os aliados dos dois lados, fossem se envolver, isso envolve os maiores produtores de petróleo. Deixando a situação mais tensa e preocupante para os mercados. Não apenas pela alta nos preços, mas pelo quadro recessivo que ele pode gerar”, pontuou.
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