LIVE MAIS MILHO

‘Safra 23/24 é uma tempestade mais do que perfeita’, diz presidente de comissão na CNA

Chuva deve cortar na segunda quinzena de abril na região Centro-Oeste e produtores devem estar atentos quanto a cigarrinha no milho

O ano-safra 2023/24 continua sendo classificado como “complicado”. O clima trouxe transtornos não somente para o Brasil, mas como diversos pontos do planeta. As questões climáticas somadas a quebra de produtividade e quedas de preços (soja e milho) são vistas como “uma tempestade mais do que perfeita”.

A influência do clima nesta temporada no crédito do produtor foi o tema da live do projeto Mais Milho realizada na noite de quinta-feira (29).

A live integra a oitava edição do projeto Mais Milho, realizado pelo Canal Rural Mato Grosso, pela Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

Conforme o meteorologista do Canal Rural, Arthur Müller, o Brasil foi afetado não somente pelo fenômeno El Niño. O aquecimento das águas e do ar promoveram o aumento das temperaturas em Mato Grosso, além dos registros de enchentes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

As previsões, salientou ele, para o mês de março no Rio Grande do Sul apontam chuvas volumosas a partir da segunda quinzena. “Os próximos 15 dias eu aconselharia o produtor acelerar a colheita”.

Situação preocupante

Presidente da Comissão de Grãos da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Ricardo Arioli, é produtor rural em Mato Grosso. Segundo ele, em 37 safras que planta no estado “nunca havíamos tido perdas por seca” e que os problemas vistos hoje “a minha geração não tinha visto em Mato Grosso”.

Mato Grosso produz hoje cerca de 8% da soja mundial e aproximadamente 30% do grão brasileiro. Se fosse um país, na safra 2022/23 teria ficado apenas atrás dos Estados Unidos e do próprio Brasil em termos de produção da oleaginosa.

“Além do clima e da perda de produtividade, estamos com 11 semanas de queda nos preços. Ouvi um analista de mercado dizendo que essa sequência de quedas de preços na bolsa de Chicago somente tinha acontecido quando lançaram o contrato de soja na bolsa, lá pelos idos dos anos 60, início dos anos 70. Então, é uma tempestade mais do que perfeita. O produtor está meio sem saber o que fazer direito”.

Arioli salientou, durante a live, que o atraso no plantio da soja causou um efeito cascata no milho segunda safra. As projeções do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) já apontavam reduções para o ciclo 2023/24 para o cereal em decorrência da queda de preço e alto custo de produção.

“A janela ideal é até 25 de fevereiro. Passou disso é risco. Em Campo Novo do Parecis muita gente optou por plantar pipoca e algodão. A quebra no milho está estabelecida. Ninguém está arriscando plantar fora da janela. Agora nem mesmo as lavouras de alta tecnologia estão se pagando com a saca a R$ 40”.

Cortes de chuvas em abril

O período do desenvolvimento do milho segunda safra, pontuou o meteorologista Arthur Müller, seguirá com tempo seco e quente, porém com chuvas durante o mês de março. Ele alertou ainda a necessidade dos produtores rurais da região Centro-Oeste, em especial Mato Grosso, estarem atentos quanto a cigarrinha.

“Os modelos [meteorológicos] indicam corte de chuva depois da segunda quinzena de abril na região Centro-Oeste. Região Sudeste também ficar com esse linear de corte de chuva. Então, as lavouras que já foram semeadas e estão em desenvolvimento vão pegar as chuvas ainda nas próximas semanas, vai favorecer, principalmente, na época do enchimento de grãos”.

Ainda segundo o meteorologista, para a região do Matopiba os próximos meses seguem chuvosos, principalmente no Piauí e no Maranhão, que pode até mesmo atrapalhar os trabalhos no campo, porque a zona de convergência intertropical se encontra bem ativa na localidade.

A crise é de renda

No que tange a saúde financeira do produtor rural nesta safra, o presidente da Comissão de Grãos da CNA, Ricardo Arioli, destacou que existem algumas preocupações. Entre elas está a situação do Rio Grande do Sul que nos últimos três anos teve dois problemas sérios de quebra de safra de soja e milho, e no ano passado também com o trigo com a falta de qualidade e baixa produtividade provocadas pela presença do El Niño e preço baixo.

“Até hoje o Rio Grande do Sul não foi socorrido, apesar das promessas do governo [federal] que esteve lá e viu a situação. Mas, parece que tem uma demora em tomar as decisões”.

Ele comentou que reuniões foram realizadas entre as federações de agricultura e algumas demandas foram apresentadas ao governo federal.

“Nós estamos em uma situação de falta de produto e preço baixo. A crise é renda. Olhando para os preços agora, o faturamento diminuiu. Então, a primeira coisa que o governo pode fazer para nos ajudar é prorrogar os vencimentos. Nós pedimos uma prorrogação de vencimentos para seis meses. A segunda questão é que o que tira o produtor da crise é plantar de novo. Plantar de novo para nós é o milho. Se nós temos um problema de preço de milho, que não está encorajando os produtores, nós sugerimos que houvesse uma revisão nos preços mínimos”.

Na avaliação de Arioli o milho é uma questão de segurança nacional, maior do que a soja, uma vez que o Brasil consome muito o cereal para a produção de proteína animal e biocombustível, mais precisamente o etanol.

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