A tradição e a inovação caminham juntas na Fazenda Água Tirada, em Maracaju, no estado de Mato Grosso do Sul. Representando a quinta geração de uma família que mantém atividades no campo há mais de 100 anos, Artemio Legário Junior é um dos responsáveis por seguir modernizando a propriedade, que ao longo do tempo passou por grandes transformações. No programa Diálogos no Campo o produtor, o diretor da Aprosoja Mato Grosso Sul, Fábio Caminha, e o pesquisador da Fundação MS, André Lourenção, falam sobre o papel da pesquisa e da integração na evolução do campo — e de como o conhecimento tem multiplicado resultados na região.
Artemio conta que o negócio começou com a pecuária e se expandiu para a agricultura ainda na década de 1980, quando ele retornou à fazenda para ajudar a família. “A fazenda está muito judiada, eu vim para cá e nós começamos com a agricultura. Hoje a nossa receita maior é soja, milho e temos a nossa pecuária, integração de corte e gado de elite PO”, relata ao programa que integra o projeto Mais Milho do Canal Rural Mato Grosso.
Com cerca de três mil hectares, a Água Tirada mantém 20% de reserva legal e combina 2,2 mil hectares de lavoura com 300 hectares de pecuária.
A integração é parte fundamental do sistema. “A gente plantou soja, tirou soja, plantou milho, tirou o milho e dá tempo de colocar uns 70 dias o gado que fica na palhada”, explica o produtor. Segundo ele, o segredo está em tratar o pasto como a lavoura: “A pecuária hoje, pelo menos aqui, a gente trata como agricultura. Tudo o que a gente tira da extração do pasto com o gado, a gente repõe em fertilizante depois”.

Safra recorde e fortalecimento da cadeia do milho
A safra de milho este ano em Mato Grosso do Sul é considerada de recorde em produção e evolução, após ciclos difíceis em decorrência ao clima. Conforme o diretor da Aprosoja Mato Grosso do Sul, Fábio Caminha, as chuvas caíram na dose certa em 2025.
“Essa região nossa é mais estruturada para a produção de safrinha. Esse ano tudo caminhou muito bem, desde a janela de plantio até o regime de chuvas. Estamos provavelmente com a maior safra de milho dessa região”, observou.
Ele lembra que a instalação de usinas de etanol trouxe competitividade ao produtor local. “Hoje, num raio de 120 quilômetros, temos três indústrias. Isso cria um cenário que, se tivéssemos essa mesma produção sem essas indústrias, não estaríamos recebendo 10% ou 15% a mais no milho do que recebemos”, afirmou.
Para Fábio, o avanço da agricultura em Maracaju e municípios vizinhos é fruto de uma comunidade unida. “A gente sempre prezou pelo coletivo. Desde o início da Fundação MS, a preocupação era crescer pautado na tecnologia, na ciência, e buscar informação juntos”, disse.
O sorgo, de acordo com ele, também tem conquistado espaço como cultura de segunda safra, especialmente por demandar menor investimento e servir bem à integração com a pecuária.
Artemio reforça que a atual geração de produtores colhe os frutos do trabalho iniciado há décadas. “A turma da geração passada já se sobressaía na pecuária. A gente herdou essa competência, essa visão de futuro dos nossos antepassados”, completa.
Pesquisa aplicada e resultados no campo
O pesquisador da Fundação MS, André Lourenção, explica que o sorgo e o milho vêm sendo estudados na região para aproveitar ao máximo o potencial das janelas de plantio. “O milho de 20 de fevereiro para frente começa a perder produtividade. Nesse encaixe, o sorgo entra muito bem”. Segundo ele, a cultura tem mostrado bom desempenho: “Tivemos médias de até 140 sacas por hectare, o que mostra que há tecnologia e materiais que entregam resultados”.
A Fundação, criada por produtores e para produtores, atua em diversas frentes de pesquisa prática. “Nosso foco é montar trabalhos técnicos e científicos de forma simples, que atendam o produtor”. O desafio atual, frisa ele, está na margem de lucro. “O produtor não pode errar. Só na escolha do material, você pode perder 30 sacas por hectare”, alertou.
Fábio Caminha complementa que a entidade tornou-se uma referência de credibilidade. “A Fundação virou um grande laboratório para nós. Ela organiza as demandas dos produtores, passa para os pesquisadores e devolve a informação pronta”.
Da pecuária à agricultura, uma jornada de transformação
Para Artemio, a transição da pecuária para a agricultura foi um divisor de águas. “Eu comecei no final da década de 80, cru de tudo na agricultura. Maracaju sempre foi um grande diferencial porque aqui já tinha boas empresas de assistência técnica e a Fundação MS. Isso foi fundamental”, recorda.
Ele observa que a modernização do campo mudou até o olhar das novas gerações. “Antigamente, os pais falavam: ‘você vai estudar, senão vai pra fazenda’. Hoje é o contrário”, brinca. O produtor reforça ainda que o campo exige gestão e tecnologia de ponta. “O urbano não imagina o grau de tecnologia e de sustentabilidade que é adotado dentro das nossas empresas rurais”, destaca.
Mesmo com os avanços, Artemio reconhece desafios. “Nosso maior gargalo são as margens, que estão apertadas, e a mão de obra, que está cada vez mais difícil. A gente está passando por uma crise, mas com certeza não vai ser a última, nem foi a primeira. Vamos passar por ela e vai dar certo”, conclui.
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