“É um ano diferente para todo o agronegócio mundial”. A afirmação é do consultor da Safras & Mercado, Paulo Molinari. De acordo com ele, o cenário atual para o milho e a soja é de um quadro recomposição dos preços em relação ao que se tinha antes da pandemia.
O país deverá colher nesta safra 2023/24 de milho um pouco mais de 113,69 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). O volume representa um recuo de 13,8% em relação ao resultado do ciclo recorde de 2022/23. Muitos são os desafios para atual temporada, que tem o clima como principal vilão.
A temporada, destacou o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, durante a Abertura Nacional da Colheita da Primeira Safra de Milho no Brasil, realizada pelo Projeto Mais Milho, “é realmente uma safra emblemática. Passamos por pandemia e aumento de preço dos grãos e hoje estamos com custos altos”.
A Abertura Nacional da Colheita da Primeira Safra de Milho no Brasil ocorreu nesta quarta-feira (21) em Ibirubá, no Rio Grande do Sul. O Projeto Mais Milho é uma realização do Canal Rural e Abramilho, com patrocínio da Aprosoja-MT, Senar-MT, Bayer, Vence Tudo, Inpasa e Ihara, e apoio da Brevant Sementes.
Maior exportador por ter excedentes
Segundo Paulo Molinari, o Brasil se tornou um dos maiores exportadores mundiais por ter excedentes. Ele frisou que apesar do que o país está passando com alto custo de produção e baixos preços pagos aos produtores, ainda depende muito da saída de milho via exportação.
Sobre o fato de os preços estarem em queda diante uma perspectiva de redução de produção, o consultor salientou que “isso tem haver com aquela interpretação que os mercados fazem da somatória total”.
“Sempre tivemos a impressão que o mundo não vai viver sem o Mato Grosso e parece que agora o mundo está detectando que pode e existe vida fora de Mato Grosso. Realmente tem uma quebra no Brasil. A safra é menor. Agora vamos pensar, o que seria dos mercados se não houvesse essa quebra de Mato Grosso esse ano? Aonde nós estaríamos com os preços hoje?”.
Clima hora amigo, hora vilão
No Rio Grande do Sul as projeções para a temporada são de uma produção de 5,38 milhões de toneladas de milho, um crescimento de 44,2% em comparação a safra 2022/23, castigada pelo clima seco, quando foram colhidas apenas 3,73 milhões de toneladas.
“O produtor faz a sua parte. Nós fabricantes fazemos a nossa parte. Mas, não podemos mudar o clima”, salientou diretor-presidente da Vence Tudo, Marcos Lauxen, ao lembrar as últimas três safras no estado, que trouxeram inúmeros prejuízos aos produtores gaúchos.
Apesar das perspectivas de crescimento, o produtor rural e diretor técnico da Sementes Aurora, Maurício de Bortoli, pontuou que mais uma vez o clima trouxe impactos para o milho e a soja no estado.
“Acreditamos que os números vão impactar, mas não recordes como se esperava devido ao clima. E já estamos nos preparando para reduções [safra futura]. O medo não é a La Niña e sim a neutralidade do clima”.
Safra que não fecha a conta
Além da adversidade climática, o Rio Grande do Sul também enfrentou na safra de milho problemas com as pragas, mais precisamente com a cigarrinha no começo da temporada.
“Vivemos um momento, um ciclo diferente. É preciso [o governo federal] olhar para cada situação. O Rio Grande do Sul vive um momento diferente dos outros estados. Dois anos de estiagem, endividamento, plantando com custos altos e agora preços em queda”, pontou o produtor e vice-presidente da Cotrisoja, Adriano Borguetti.
Conforme ele, mesmo a safra de milho sendo “boa” no estado, “ela acaba não fechando a conta de muitos produtores”, visto os resultados das últimas temporadas.
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