Custos em alta, preços em baixa e dificuldades em encontrar um sucessor. Estes são alguns dos desafios enfrentados pelo setor agrícola, que ainda tem que “assumir a bronca e resolver” os compromissos assumidos pelos governantes quanto as exigências ambientais, crescentes a cada dia. Segundo Marcelo Lupatini, presidente do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, a maior preocupação hoje é quanto a uma possível “debandada” do agro.
De origem italiana, foi após ver uma reportagem sobre o potencial agrícola do cerrado – e as expectativas otimistas da Embrapa – que a família Lupatini decidiu migrar da região sul do país para o centro-oeste. O destino foi Lucas do Rio Verde, no médio-norte de Mato Grosso, estado que se tornou o maior produtor de grãos do Brasil.
A família que sempre trabalhou com agricultura – inclusive na produção de fumo e hortelã – encontrou no novo destino a vocação para o cultivo de soja, algodão e milho.
“Acreditaram na ideia e com pouco conhecimento vieram para cá. Com o tempo, conseguimos comprar uma propriedade em Sorriso. O meu pai está com 75 anos e ainda é bem ativo, apesar de não ter mais aquele compromisso diário. Mas, estamos sempre juntos. As decisões maiores sempre tomamos juntos”, conta Marcelo Lupatini no terceiro programa especial do projeto Mais Milho, gravado na Fazenda Brilho do Sol.
Marcelo hoje está à frente dos negócios construídos pelo seu pai. O processo de sucessão foi natural e hoje, comenta ele, a sua “ambição” é fazer a próxima geração de sucessores.
Seu filho de 15 anos já o acompanha em alguns afazeres da propriedade e demonstra interesse, contudo o produtor frisa ter a consciência que “garantir a sucessão é difícil”.
“A propriedade exige não só o gostar de estar aqui na roça, mas ela exige que você tenha o conhecimento desde a parte administrativa. Hoje, as exigências ambientais e fiscais são muito grandes. Se você não tiver uma assessoria fiscal, ambiental, não tiver um agrônomo bom, você não consegue, digamos que, ter uma propriedade altamente produtiva e que gere resultado altamente vantajoso”.
De acordo com Marcelo, Lucas do Rio Verde é hoje uma região de terras valorizadas e arrendamento “elevado” também.
O produtor, que também é presidente do Sindicato Rural do município, diz que vê com preocupação a situação dos colegas de atividade que não contam com uma próxima geração motivada para dar continuidade nos trabalhos, principalmente daqueles que possuem até 500 hectares.
“Eu vejo com muita preocupação, porque com o que estamos vivendo, as exigências que que temos e uma falta de estrutura em uma propriedade menor, se você botar no papel, às vezes é melhor arrendar do que continuar no negócio”.
Sobre o que se fazer para não haver saída de produtores da atividade e estimular a nova geração, Marcelo pontua que “penso que se passa muito de decisões de governo”.
“A pressão está muito grande em cima dos produtores devido à várias exigências. A gente brinca aqui na região que um presidente, governador vai lá na COP, por exemplo, e faz um compromisso e chega aqui e passa esse compromisso para o produtor assumir a bronca e resolver. Então, a propriedade pequena não tem estrutura. É trabalho o ano inteiro”.
Produtor desanimado com custos e investimentos
Lucas do Rio Verde é um dos municípios referência do estado em produção de soja, milho e algodão. No que tange ao milho safrinha, as lavouras, de acordo com Marcelo, estão “bem conduzidas e acredito que vai ter uma produção satisfatória. Mas, no geral o produtor está meio desanimado”.
Marcelo explica que o entusiasmo com as safras futuras não é mais visto nos olhos dos produtores.
“Hoje, ele está cumprindo com os compromissos que tem. O que ele está dando conta de pagar com o caixa dele está pagando. Esse desanimo vem do fato que os investimentos que se está fazendo não está trazendo retorno”.
Além do desanimo diante dos custos altos e da baixa remuneração da produção, o produtor rural mato-grossense, ressalta Marcelo, perdeu a “confiança no clima”.
“O clima no ano passado falhou e ele contava que ia colher uma safra boa. Então, ele já tem uma perspectiva duvidosa lá na frente e ele tem uma conta que custa mais sacas. Eu, por exemplo, tinha antes um custo de duas sacas e meia por hectare com mão de obra fixa e esse ano estamos com seis sacas. Fora o custo com manutenção das máquinas”.
Tal situação, assim como em outros municípios do estado, se refletiu nos investimentos na cultura do milho e diminuição na área. Contudo, Marcelo acredita tanto o estado quanto o município deverão “produzir bem por hectare”, apesar da produção total esperada ser menor em decorrência de tais fatores.
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