A cada cinco anos a demanda mundial por soja cresce 40 milhões de toneladas, enquanto a de milho 130 milhões de toneladas. Segundo especialistas, entre os maiores impactos das restrições impostas quanto a sustentabilidade da produção está a tendência de a curva de oferta não ser capaz de atender a demanda global.
A sustentabilidade e as exigências do mercado foram o assunto do Fórum Técnico Mais Milho, que integra o projeto Mais Milho, do Canal Rural Mato Grosso, em parceria com a Abramilho e a Aprosoja Mato Grosso, realizado nesta quinta-feira (30) em Chapadão do Sul, em Mato Grosso do Sul.
O evento reuniu especialistas do setor econômico, tradings e produtivo, por meio da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do estado (Senar-MS).
O Brasil é considerado uma das maiores potencias ambientais, ficando atrás somente da Rússia. Com um território de 851 milhões de hectares, o país conta com 536 milhões de hectares (63%) coberto com vegetação nativa. Somente a Amazônia conta com 421 milhões de hectares, dos quais 82,9% preservados.
Somente para a agropecuária ocupa 32% do território brasileiro, sendo 10% com agricultura e 22% com pecuária, credenciando assim o país como a terceira maior potencia agrícola, ficando atrás somente da China e dos Estados Unidos.
Em 2023, as exportações do agronegócio aumentaram 4,8% ante 2022 e representaram 49% dos embarques totais. Somente em soja em grão foram 102 milhões de toneladas, crescimento de 29%. E o farelo de soja foi o destaque com 22,6 milhões de toneladas, alta de 11%.
Para a União Europeia foram embarcados 46% do farelo de soja, enquanto a soja em grão e o milho representaram 6%, respectivamente. Já a China representou 73% dos envios de soja em grão e o milho 29%.
Os números acima foram alguns dos apresentados pelo diretor de sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Bernardo Pires, durante o Fórum Técnico Mais Milho.
“Destaco a União Europeia e a China, porque às vezes sofremos algumas críticas do que aplica o projeto desmatamento zero na Amazônia. Não é verdade que toda a soja vai para a China. 73% do grão vai para a China, mas praticamente a metade do nosso farelo, que tem muito mais valor agregado que a matéria-prima, vai para a Europa”, disse.
O diretor da Abiove destacou ainda que o Brasil na safra passada foi responsável por 37% da produção mundial de soja. O mercado europeu representou 14% (US$ 11 bilhões) das exportações brasileiras.
“Não é um mercado mais importante eu diria, mas é um mercado que compra um produto com mais valor agregado do que a China, que leva o grão. E, também, seria uma irresponsabilidade da nossa parte não atender à demanda hoje pela legislação europeia”.
Bernardo Pires frisou ainda que “é verdade, também, que a Europa não tem moral de cobrar do Brasil políticas de sustentabilidade no sentido que hoje nós temos 63% da vegetação nativa e a Europa não passa de 5%. Por outro lado, há uma demanda legitima do consumidor europeu que não quer consumir um produto que tenha vínculo com o desmatamento e com a sobreposição de terras indígenas”.
O Green Deal, segundo ele, a nova legislação ambiental europeia, que entra em vigor a partir de 1º de janeiro de 2025, que pretende zerar as emissões da Europa até 2050, é uma resposta à demanda do próprio consumidor europeu.
“Só existe duas formas de evitar o desmatamento. A primeira, que é a mais justa e que a Europa deveria fazer, é pagamentos por serviços ambientais. E a outra forma de coibir o desmatamento ilegal é o monitoramento e o controle”.
Milho pode entrar nas restrições a qualquer momento
Atualmente, as restrições ambientais europeias quanto a produção se restringe a soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau, café e borracha, além de seus derivados.
Conforme o diretor da Abiove, no que tange ao milho ainda não há restrições, mas as mesmas podem ocorrer a qualquer momento.
A entrada do cereal em meio a lista num futuro próximo também não é descartada pelo consultor da Safras & Mercado, Paulo Molinari. Ele pontua que ainda não entrou, pois “o pessoal está com um pouco mais de cuidado para mexer, porque ele é muito mais sensível em nível mundial do que a soja”.
“Hoje o que nós temos é uma discussão do que é desmatamento legal e ilegal. Nós já sabemos. Mas, a Europa não está querendo saber se o agente abateu uma árvore de forma legal dentro do Código Florestal ou de forma ilegal”.
Sobre os impactos que tais restrições trariam para os preços da soja e do milho, Paulo Molinari salientou o que se viu até o momento foram reflexos normais de mercado.
“Então, nós continuamos produzindo, o mundo continuou comprando mais e nós seguimos atendendo muito mais. A demanda de soja cresce 40 milhões de toneladas a cada cinco anos. Os produtores mundiais tem que se esforçar a cada cinco anos para colocar pelo menos 40 milhões de toneladas de oferta em nível mundial para atender a um crescimento básico”.
Paulo Molinari salientou ainda que “então, vem uma lei internacional dizendo que não pode plantar aqui e vem outra exigência normal de mercado que diz que você precisa plantar se não falta soja. Essa situação podemos levar num futuro próximo à uma mudança de escala da soja”.
Sobre o milho, ele completou que “a situação é um pouco mais trágica”, uma vez que “o aumento do consumo a cada cinco anos é de 130 milhões de toneladas em nível mundial” e que a tendência, diante do surgimento crescente de indústrias de etanol de milho, é que essa demanda tenha o potencial de crescer numa velocidade ainda maior.
“Quanto mais nós restringirmos o plantio e o desenvolvimento do agro, a tendência é que essa curva de oferta acabe não sendo capaz de atender toda essa demanda global”.
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