O excesso de umidade nas lavouras do extremo norte de Mato Grosso não só atrasa a colheita da soja, como causa incertezas em relação ao cultivo do milho segunda safra. A preocupação dos agricultores é com o risco de perdas motivadas pelo cultivo dentro de uma janela desfavorável.
As chuvas volumosas na região do Xingu, segundo os produtores, nesta temporada 2024/25 estão sendo consideradas atípicas. Quem tem soja pronta enfrenta dois desafios: colher a soja, para evitar o risco de perdas de grãos no campo, e garantir uma janela favorável para o milho.
Em Marcelândia, o Grupo Industrial Atlântica semeou em torno de quatro mil hectares de soja nesta safra. O gerente de produção Geraldo Correia da Silva relata ao Mais Milho que o ano está “complicado”, tanto que a soja dessecada há cerca de 12 dias ainda não conseguiu ser colhida.
“Sem condições de colheita. A gente forçou a colheita, tentou entrar, mas sem sucesso. Está complicado. Em termos de perdas de peso já temos uns 20% e tem a janela do milho ainda que precisa plantar e a situação está meia crítica esse ano. Tira o sono. Nossa!”.
Produtores temem perder janela do milho
O produtor Thiago Piva vive situação semelhante. Ele teme, devido ao atraso com a soja, perder a janela ideal do milho. Ele revela ao Canal Rural Mato Grosso que para tentar diminuir o risco de possíveis perdas no cereal dentro de uma janela desfavorável decidiu mudar a programação e reduzir o espaço da cultura.
“Esse excesso de chuva, ele concentra ainda mais a colheita. Então a nossa janela está a cada dia mais curta para tirar esse grão da roça e plantar a segunda safra que é o milho”.
A programação inicial de Thiago Piva era plantar 100% da área de 4,3 mil hectares com milho. Entretanto, diante do risco resolveu reduzir cerca de 20% essa área.
“Não adianta plantar e correr o risco de não produzir o milho. Vamos diminuir na base 20% essa área. Já está com uma margem boa de segurança e aí vai depender da chuva lá em abril e maio que vai ser para definir a produtividade”.
Plantio do milho atrasado ante 2023/24
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até o dia 31 de janeiro foram cultivados em todo o estado 6,26% dos 6,83 milhões de hectares de milho estimados para a safra 2024/25. O relatório aponta que os trabalhos de campo seguem atrasados na comparação com o ciclo 2023/24, quando nesse mesmo período do ano passado 28,66% da área total estava plantada.
“A segunda safra não é uma safrinha. É uma safra cheia. É onde fazemos as nossas despesas, parcelas de máquinas para viver o ano. Vamos dizer assim, rodar as operações da fazenda e a soja para pagarmos os compromissos maiores”, salienta Thiago Piva ao Mais Milho.
Tais benefícios financeiros proporcionados pelo cereal é o que motivam o produtor Jandir Sima a cultivá-lo. Mesmo sabendo do risco e das dificuldades para implantar a cultura na propriedade, ele decidiu manter toda a área de três mil hectares programada para esta safra.
“Estou com áreas colhidas, mas não posso plantar por causa do excesso de umidade. As plantadeiras não rodam e vai atrasando. O investimento da safrinha está todo aí no armazém. Semente, o adubo. Está tudo comprado para os três mil hectares. Vamos ter que plantar. Rezar para que dê certo e a gente consiga começar o plantio, arriscar a janela. Não tem o que fazer. Não tem outra saída”.
A expectativa em Mato Grosso, considerado o maior produtor de milho do Brasil, é colher uma produção em torno de 45,8 milhões de toneladas do grão na safra 2024/25.