Enquanto os Estados Unidos armazenam em torno de 66% da sua produção de grãos em estruturas instaladas nas propriedades rurais, no Brasil são apenas 16%. E, de acordo com Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), terceirizar o depósito da produção “é a coisa mais cara que existe” para o produtor rural.
O país, para suprir o seu déficit de armazenagem, que a cada ano cresce cerca de cinco milhões de toneladas, necessitaria de um investimento de R$ 15 bilhões ao ano.
Além de não haver recursos suficientes, mais precisamente no Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos últimos anos ocorreu uma hiperinflação do aço e o Brasil está dependendo da sua própria produção do material.
“Pouca coisa vem de fora e isso faz com que os preços não tenham voltado nos patamares pré-pandemia. Esse é um fator que prejudicou o investimento, porque ele encareceu um pouco mais o investimento”, comenta o diretor da Abimaq, Paulo Bertolini, entrevistado desta semana do programa Direto ao Ponto.
De acordo com ele, que também é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), um dos benefícios para o produtor em ter uma estrutura para guardar sua produção dentro da propriedade é que “o investimento se paga ao longo dos anos”.
“O produtor que opta em terceirizar a armazenagem, ele está optando por terceirizar a coisa mais cara que existe no negócio dele que é essa etapa do pós-colheita, porque não está atrelado só o serviço em si. Há um custo que às vezes ele está marginal, ele não é por desembolso, mas por desvalorização da sua produção”.
O diretor da Abimaq frisa ainda que “às vezes não é a escala [área e produção] que viabiliza [o produtor ter armazém] e sim o negócio ao qual ele está ‘preso’ que determina se vale a pena ou não investir”.
PCA vocacionado para as fazendas
Na opinião de Bertolini, os recursos do PCA com foco em armazenagem deveriam ser vocacionados para as propriedades rurais e não investimentos em áreas urbanas, portos, distritos industriais.
Além de mais “econômico” para o produtor, uma vez que não há custos com frete, por exemplo, o diretor da Abimaq salienta que as estruturas dentro das fazendas “envolvem também a questão da segurança alimentar”, visto não ter que percorrer longas distâncias e colocar em risco a produção.
“Mato Grosso agora cai começar a colher a segunda safra de milho e nós vamos ter reportagens de produto sendo armazenado à céu aberto, perdendo qualidade, quantidade. Isso nós precisamos reverter. O único jeito é ter mais dinheiro na linha do PCA e vocacionar ele para, prioritariamente, essas obras ocorrerem dentro das fazendas”.
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