O campo de Mato Grosso acompanha com preocupação as discussões entre Brasil e Estados Unidos sobre uma possível taxação de 50% nos produtos brasileiros. A medida, que pode entrar em vigor em 1º de agosto, ameaça a rentabilidade de quem produz e exporta, impactando toda a cadeia agropecuária do estado. Em regiões onde agricultura e pecuária caminham juntas, a expectativa é de que o diálogo prevaleça, evitando prejuízos ao setor produtivo.
No norte de Mato Grosso, Marcelândia possui um rebanho bovino que passa de 200 mil cabeças e a agricultura avança a cada dia puxada pelo sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Entretanto, conforme o Sindicato Rural do município, a possível taxação anunciada pelos Estados Unidos acendeu o alerta entre os produtores.
O presidente do Sindicato Rural, Marcelo Ricardo Cordeiro, relata ao Canal Rural Mato Grosso que já há frigoríficos segurando a escala, segurando a produção no geral. Ele pontua que isso “afeta toda a estrutura, porque é um ciclo. É uma simbiose com a pecuária, a agricultura, ela é toda ligada”.
“Os nossos custos são altos e os lucros reduzidos. Quanto mais taxas, quanto mais dificuldades vem para nós, mais dificuldades temos para trabalhar. Então nós dependemos sim que o governo federal se pronuncie, faça essa tratativa com o governo americano para poder defender o agro brasileiro”.

Custo já é alto e pode ficar ainda mais
A tensão no campo também chegou ao Vale do Araguaia. Na região, onde a produção de grãos e a pecuária caminham juntas, lideranças rurais demonstram preocupação com os impactos que a possível taxação americana pode causar à rentabilidade. Eles alertam que qualquer mudança no mercado internacional repercute direto no bolso do produtor.
“Nós estamos no centro do país. Aqui tudo é longe e temos uma logística precária. Isso impacta bastante. Vamos sofrer mais justamente, porque o nosso custo é mais alto. Sabemos que uma briga dessas não tem ganhador. Temos exemplos de outros países que foram taxados também e que queriam relaxar e deu problema. Eu acho que temos que pegar como exemplo esses país que foram para a mesa de negociações e apostar nisso”, pontua o presidente do Sindicato Rural de Querência, Osmar Frizzo.
Para Osmar Frizzo, “se o nosso governo pensar de forma diferente, quem vai levar prejuízo é o produtor, é o cidadão brasileiro”.
O presidente do Sindicato Rural de Querência lembra que os Estados Unidos é a maior economia do mundo hoje e que depende muito dele devido a sua tecnologia. “O próprio GPS se desligar não vamos trabalhar nem na lavoura. Não vamos ter um trator rodando, uma colheitadeira rodando, pulverizando. Então, eu acho que essa negociação é fundamental. Tem que sentar na mesa. Tem que resolver isso. Quanto antes melhor”.
Ideologia precisa ser colocada de lado
A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é de mais de 200 anos, frisa o presidente do Sindicato Rural de Nova Xavantina, Endrigo Dalcin, e tal situação “vai influenciar o agro”.
“Influencia bastante. Já estamos vendo, principalmente, o suco de laranja, o café. A carne também influência de certa maneira. A ideologia tem que ser colocada de lado e tem que sentar. O Brasil precisa dos Estados Unidos e os Estados Unidos precisa do Brasil. Então, só o diálogo para consertar essas questões”.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Geraldo Delai, o setor já sofre as consequências do aumento da taxação dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros antes mesmo da ampliação entrar em vigor.
“Para o produtor já está em vigor esse tarifaço. Já está caindo sobre ele, tanto na agricultura quanto na pecuária. Já tivemos quase 20% [de queda] da arroba do boi e da vaca. A soja por essa condição também, o milho, o gergelim. Boa parte do gergelim nosso também vai para os Estados Unidos de forma indireta, mas ele também vai. O impacto é grande e muito preocupante”, diz Geraldo Delai ao Canal Rural Mato Grosso.
Um confronto com uma grande potência como os Estados Unidos, na avaliação do deputado estadual Carlos Avallone (PSDB/MT), “é uma guerra de perde-perde”. Para ele é preciso “ter bastante calma na hora de fazer esse enfrentamento”.
“A maior Câmara de Comércio Americana fez uma representação pública pedindo ao presidente que recue. São 6,5 mil empresas americanas que serão afetadas. Suco de laranja, madeira, álcool. São muitas coisas. É um envolvimento grande. Não vai trazer transtornos só para o Brasil. Mas, é lógico que a corda mais fraca é a nossa. Então precisamos ter muita tranquilidade para conversar bastante sobre isso. Se não recuar, iremos ter que fazer esse enfrentamento de perdas muito grandes, o que não é bom para ninguém”.
Taxação preocupa o setor florestal de Mato Grosso
Além da soja e da carne, o impacto da possível taxação dos Estados Unidos a partir de 1º de janeiro, também preocupa o setor florestal. O país é um dos principais compradores da madeira mato-grossense. Somente em 2025, mais de US$ 8 milhões em madeira foram exportadas por Mato Grosso para os Estados Unidos, segundo o Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso (Cipem).
A preocupação, diz o presidente da entidade Ednei Blasius, é com os impactos na cadeia produtiva, que aposta na legalidade e sustentabilidade e espera uma solução rápida para evitar prejuízos.
“Dentro do setor florestal o mercado americano compra mais de 11% do nosso produto e é o produto da linha premium, de alto valor agregado, que tem muito emprego, muita tecnologia. É um produto totalmente especial que faz parte de uma grande cadeia produtiva desse setor florestal, que é tão importante para o Mato Grosso, assim como os outros segmentos”.
Ednei Blasius diz que o setor também foi pego de surpresa com a medida dos Estados Unidos. Ele ressalta que a decisão do presidente Donald Trump “gera uma inviabilidade econômica de 100% do produto”.
“Nós não vamos conseguir ter competitividade para colocar o nosso produto no mercado americano e o forte do nosso volume começa agora a partir do segundo semestre. A nossa previsão era passar de US$ 20 milhões somente para o mercado americano. A nossa esperança é que isso se resolva, porque se isso permanecer nós não temos condições nesse momento de realocar esse tipo de produto especial que vai para o mercado americano”.
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