A definição de que Carlos Fávaro assumirá o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a partir desta segunda-feira (2) vai mudar a configuração do Senado Federal. Afinal, o político filiado ao PSD de Mato Grosso terá de se afastar do cargo de senador para compor o primeiro escalão do governo Lula.
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Dessa forma, a ida de Fávaro para a Esplanada dos Ministérios abrirá espaço para que um de seus suplentes assuma a cadeira então ocupada por ele no Legislativo. Desde já, uma coisa é certa: apesar da mudança de nome, a vaga no Senado seguirá com o Partido Social Democrático (PSD), legenda que tem o ex-ministro Gilberto Kassab como presidente nacional.
A certeza da manutenção da cadeira com o PSD se dá diante da recente movimentação partidária feita pelos dois suplentes de Fávaro. Na última semana, conforme registrou o site do Canal Rural, o segundo suplente José Lacerda deixou o MDB para se filiar ao partido de Kassab. Primeira suplente, Margareth Buzetti seguiu caminho similar. Ela deixou o PP e também passou a ser uma social-democrata.
Secretária em Mato Grosso ou senadora?
Justamente por ser a primeira suplente da chapa que venceu a eleição suplementar realizada em 2020 (explicação ao fim do texto), Margareth Buzetti é quem deve assumir a vaga no Senado deixada em aberto pela nomeação de Fávaro para o Mapa. Isso só não ocorrerá se ela rejeitar o cargo — possibilidade em caso, por exemplo, de assumir outra função no poder público.
E a possibilidade de Margareth, a “Marga”, não assumir a vaga de senadora chegou a ser ventilada nos bastidores do poder. Cogitou-se que ela poderia ser convidada para assumir uma secretaria do governo de Mato Grosso. Com isso e diante da então especulação da indicação de Fávero para o ministério de Lula, o espaço deixado vago no Congresso ficaria com José Lacerda.
“Nunca demonstrei interesse ou coloquei-me à disposição para ocupar um cargo em qualquer secretaria do governo de Mato Grosso” — Margareth Buzetti
De forma pública, no entanto, Margareth Buzetti negou que tal configuração política possa vir a prosperar. Consequentemente, sugeriu que, em caso do afastamento do titular — como irá ocorrer diante da definição de como ficará a Esplanada dos Ministérios no novo governo federal —, assumirá a condição de senadora.
“Quero deixar claro que nunca demonstrei interesse ou coloquei-me à disposição para ocupar um cargo em qualquer secretaria do governo de Mato Grosso”, afirmou Margareth em postagem divulgada em 22 de dezembro em seu perfil no Instagram. “Tenho muita admiração e respeito pelo governador Mauro Mendes, mas reitero que não conversei com ele neste sentido. Sendo assim, qualquer informação dessa natureza não passa de especulação de terceiros”, prosseguiu.
De volta ao Senado Federal…
Ou seja, a partir de fevereiro, quando o Congresso Nacional voltará do recesso parlamentar, Margareth Buzetti deverá desempenhar a função de senadora por Mato Grosso. Assim, ela, na verdade, voltará ao cargo. Isso porque já ocupou a função diante de momentos de afastamento de Carlos Fávaro. Situação que ocorreu, por exemplo, durante o período eleitoral deste ano.
Dessa forma, a então filiada ao PP atuou como senadora de junho ao início de outubro de 2022. Em quatro meses, conforme destaca a Agência Senado, ela foi autora de quatro projetos de lei:
- 1 — PL 2.275/2022
Sobre medidas para prevenção e primeiros socorros de casos de obstrução de vias aéreas por corpo estranho.
- 2 — PL 2.375/2022
Que defende a criação de campanha nacional permanente para garantir o exercício da profissão de designer de interiores e ambientes.
- 3 — PL 2.390/2022
Propõe aumentar a pena para os crimes de lesão corporal, contra a honra, de ameaça e de desacato, quando cometidos contra profissional da área de atenção à saúde, no exercício de sua profissão ou em decorrência dela.
- 4 — PL 2.470/2022
Que trata dos incentivos fiscais às empresas reformadoras de pneus.
Projeto de lei (PL) 2.470/2022 by Anderson Scardoelli on Scribd
Mas, afinal, quem é Margareth Buzetti?
A proposta relacionada a incentivos fiscais para empresas do ramo de pneus não se deu por acaso. Margareth Buzetti é empresária do setor. Conforme declarado à Justiça Eleitoral em 2020, ela detém 9% das ações Buzetti Pneus Cuiabá Ltda. O marido dela, Luiz Alberto Busetti, consta como sócio-diretor da empresa, segundo plataformas voltadas a mapear CNPJs pelo Brasil.
Sediada no Distrito Industrial da capital mato-grossense, a Buzetti Pneus Cuiabá está ativa desde 2005 e tem quatro atividades declaradas: reforma de pneumáticos usados; comércio a varejo de peças e acessórios novos para veículos automotores; comércio a varejo de peças e acessórios usados para veículos automotores; e comércio a varejo de pneumáticos e câmaras-de-ar.
A partir do trabalho na Buzetti Pneus Cuiabá, a hoje suplente de senadora fez história no meio de entidades do setor. Em janeiro de 2020, ela se tornou a primeira mulher a ser eleito presidente da Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR) — e segue na função até hoje, sendo, inclusive, reeleita há duas semanas. Além da ABR, ela preside a Associação das Empresas do Distrito Industrial de Cuiabá (Aedic) — entidade em que, mais uma vez, é a primeira mulher no comando.
Apesar de estar à frente de uma empresa baseada em Cuiabá, cidade onde vive desde 1987, Margareth Gettert Busetti (que passou a assinar “Buzetti”, com “Z”) tem origens no Sul do país. Nascida em 31 de outubro de 1959 em Concórdia, município do oeste catarinense, ela passou anos em Francisco Beltrão, cidade do sudoeste do Paraná.
De oficina do interior do Paraná para o Congresso Nacional
E ao assumir pela primeira vez a condição de senadora, em junho, ela destacou, segundo registro do site do Jornal de Beltrão, que foi na cidade paranaense onde a relação dela com o setor de pneus teve início, em decorrência do trabalho desempenhado na oficina que era de seu pai.
“A menina da retífica de motores [..] que se tornou uma senadora da República por Mato Grosso” — Margareth Buzetti
“Quero aqui assumir um compromisso com o Mato Grosso e o meu país, de lutar pela causa pública com independência e garra, como fiz em toda a minha vida, a menina da retífica de motores, a Oficina dos Motoristas de Francisco Beltrão, e que se tornou uma senadora da República por Mato Grosso, para a honra do meu pai e dos valores que ele me ensinou”, afirmou Margareth em discurso no plenário do Senado.
Agora, com a ida de Carlos Fávaro para o Ministério da Agricultura, Margareth deverá voltar ao Senado Federal e atuar no Legislativo enquanto o titular fizer parte do primeiro escalão do governo federal. Assim, a sulista radicada no Centro-Oeste, empresária do segmento de pneus, esposa do Luiz, mãe de duas mulheres e avó de dois netos será, aos 63 anos de idade, mais uma voz feminina no Congresso Nacional.
A eleição suplementar que levou Margareth Buzetti ao Senado
No entanto, Margareth Buzetti tende a se tornar mais uma figura feminina com vez — e voz — no Senado em decorrência da cassação do mandato de outra mulher. Eleita em 2018, a Juíza Selma Arruda teve o mandato cassado em dezembro do ano seguinte pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que entendeu que ela cometeu os crimes de caixa 2 e abuso de poder econômico durante a campanha. A cassação foi confirmada pelo Senado em abril de 2020.
Dessa forma, uma nova votação foi convocada pela Justiça Eleitoral, em processo chamado de eleição suplementar. Fávaro, que havia ficado na terceira colocação em 2018, lançou nova candidatura, mas com mudança na parte da primeira suplência. Saiu Geraldo Macedo e entrou… Margareth Buzetti (então no PP), que nunca havia disputado cargo político. E a chapa liderada pelo futuro ministro da Agricultura foi a mais votada no pleito realizado em 15 de novembro de 2020, com 25,97% dos votos válidos.
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