SETOR EM CRISE

Importações de lácteos do Mercosul agravam crise entre produtores de leite em MT

Com preços baixos sendo repassados aos produtores locais, a competitividade com o produto do mercado externo tem se tornado cada vez mais difícil e a cadeia local fica no prejuízo.

As propriedades leiteiras de Mato Grosso vivem um momento de incerteza. O custo de produção tem aumentado, enquanto o preço pago ao produtor segue em queda. Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), mostram que em agosto o valor médio do litro de leite pago ao produtor foi de R$ 2,28, enquanto no fechamento do primeiro semestre o ano, o preço médio era de R$2,37. Para os produtores, o repasse atual não cobre os custos de produção da cadeia, além de pressionar as margens de lucro.

“Alguns laticínios estão pagando R$ 2,25 mais volume, mas a maioria não está chegando a esse valor. O produtor precisa de no mínimo R$ 2,60 para ele se manter vivo no campo, para cuidar da sua propriedade, das vacas”, afirma Luciano Rodrigues, presidente da Associação dos Produtores de Leite da Região Oeste de Mato Grosso (APLO – MT).

A região oeste do estado, composta por 22 municípios, encabeça a produção leiteira em Mato Grosso, que em 2024 ocupou a 14º posição no ranking nacional de produção de leite, com 432,5 milhões de litros. No entanto, o estado já esteve entre os 10 maiores produtores de leite no Brasil, em 2021.

Segundo Luciano, em 2020 a região contava com cerca de 10 mil produtores de leite, que chegavam a produzir cerca de 900 mil litros de leite por dia. Em 2025, ele estima que somente 4 mil permanecem na atividade, diminuindo a produção para aproximadamente 350 mil litros ao dia.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso (MT Leite), a queda no número de produtores ligados à atividade leiteira também está atrelada às dificuldades na sucessão familiar.

“Uma das coisas que mais está nos prejudicando é a questão da sucessão familiar. O produtor de leite trabalha todos os dias, não tem fim de semana, feriado, sol ou chuva. A vaca não tem como parar a sua produção de leite. A gente está trabalhando nesse sentindo, levando palestras e orientando aos produtores que busquem uma maneira de encontrar alguém que possa suceder essa produção de leite”, afirma Antônio Carlos Carvalho, presidente do MT Leite.

Importações preocupam o setor

Outro fator que preocupa o setor é o aumento das importações de produtos lácteos vindos de países do Mercosul, o que tem pressionado os preços no mercado interno e dificultado a competitividade dos produtores locais.

Segundo o IMEA, as importações brasileiras de lácteos atingiram 590,83 milhões de litros em equivalente de leite no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 5,28% em relação ao mesmo período do ano anterior e o maior volume registrado desde 1997.

Somente em setembro, o Brasil importou 192,31 milhões de litros, enquanto as exportações somaram apenas 4,96 milhões. A maior parte dos produtos vem do Uruguai e da Argentina.

“Nos dois últimos anos, com aquele excesso de calor, houve um déficit de leite e com isso o governo autorizou a importação de lácteos que acabou prejudicando o estado de Mato Grosso. A gente também teve uma chuva boa esse ano que acabou mantendo as pastagens e aquele aumento que a gente tinha na época da seca, nós não tivemos. Isso beneficiou os consumidores, mas diminuiu a renda do produtor ”, ressalta Antônio Carlos em entrevista ao Canal Rural Mato Groso.

Indústrias também são afetadas

O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Mato Grosso (Sindilat – MT) afirma que a baixa no preço também afeta as indústrias, especialmente com a entrada de produtos internacionais no país a preços menores do que o produto local.

“Nós temos um problema muito sério que é o Custo Brasil de produção, nossos preços não são competitivos internacionalmente. Quando entra um leite em pó, um queijo, principalmente da Argentina, chega à um preço abaixo do nosso custo de produção (…) A região oeste de Mato Grosso tem diminuído a produção de leite. Em 15 anos caiu 54%, então as indústrias ficam ociosas”, destaca Antônio Bornelli, presidente do Sindilat – MT.

Diante de tantos desafios, os produtores e a indústria pedem políticas de incentivo, melhores condições de crédito e medidas que controlem a entrada de produtos importados, para garantir que o leite brasileiro continue chegando à mesa da população.

O setor leiteiro é responsável pelo sustento de milhares de famílias em Mato Grosso e tem papel essencial na economia do estado. No entanto, os desafios crescentes nas propriedades rurais colocam o futuro da atividade em risco.

“A cadeia produtiva do leite é a que mais emprega no Brasil. Em Mato Grosso nós temos cerca de 35 mil pequenos produtores e nós sabemos que qualquer governo quer o produto barato na mesa, mas que tenha equilíbrio para que as cadeias fiquem equalizadas”, destaca Bornelli.


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