O investimento em tecnologias de precisão e no bem estar animal vem proporcionando melhores resultados na pecuária mato-grossense. Além da boa oferta de alimento, do conforto aos animais e das condições favoráveis para a qualidade do rebanho, o desempenho na comercialização ficou mais lucrativo, ampliando a receita da propriedade.
Volumoso e bem nutrido, o pasto de 750 hectares na Fazenda Novapec, em Rondonópolis, região sul de Mato Grosso, é dividido em piquetes de 15 a 20 hectares cada. O solo recebe calcário e adubo orgânico produzido pelos próprios animais. Um manejo considerado de excelência, adotado há quase uma década na propriedade.
Estratégia que, conciliada com a rotina de suplementação, tem garantido o bom desempenho dos animais criados no local.
Conforme o diretor-executivo da Gest Up, Welton Cabral, quando os trabalhos começaram foi um “desafio”, pois os pastos encontravam-se degradados com muita planta invasora e a propriedade não possuía uma logística adequada, era somente um corredor central.
“Hoje, praticamente não se fala em reforma de pasto na fazenda. Não tem nem como adubar, porque hoje se a gente jogar adubação aqui praticamente perdemos capim, justamente por causa do residual que vem nas fezes do animal, que são muito bem distribuídas na área. Os animais na TIP acabam andando bem dentro desses piquetes. Chega a distribuir por ano cerca de três, quatro mil quilos de esterco por hectare”.
O especialista explica que da ração colocada no cocho, cerca de 25% do consumido pelo animal acaba saindo nas fezes.
“Esses animais distribuem isso ao longo dos pastos, depois vem os besouros rola bosta que a gente preserva, enterra esse material todos em uma profundidade de 30, 40 centímetros. Então, vagarosamente estamos fazendo adubação orgânica sem uso de maquinário”.
A pecuarista Marina Pergo Vilela conta que a propriedade era “bem extensiva” com 900 cabeças em uma questão de um animal por hectare e hoje trabalham de seis a sete animais nas águas, enquanto na seca 5,5 a seis animais.
“A pecuária ela tem uma margem pequena, então nós precisamos fazer o maior proveito e tirar a maior otimização de produção nos pequenos detalhes. O manejo de pastagem é algo que nós temos no Brasil. Em Mato Grosso é uma dádiva dada para nós que é a água, a luz, a fotossíntese, trazendo um alimento que teoricamente é gratuito. Trabalhando bons manejos, um alicerce produtivo legal, bem correto, você consegue otimizar muito essa produção do seu animal”, diz a pecuarista ao Canal Rural Mato Grosso.
Diversos experimentos até encontrar o ideal
Na propriedade em Rondonópolis foram feitos mais de 60 experimentos voltados para a intensificação da pecuária com resultados considerados satisfatórios, com destaque para o bem estar e ganho de peso dos animais, além de mais economia no quadro de funcionários.
“Colocamos o cocho na beira da estrada para não ter que ficar abrindo porteira com vagão, entrando para tratar dentro de pasto, fazendo erosão, compactando o solo, desviando de boi, atoleiro. Baixamos a estrutura para pegar menos chuvas, proteger melhor a ração, trocamos toda a estrutura de rede hidráulica da fazenda e colocamos encanamento com uma bitola boa, distribuição de água com bebedouros pequenos com alta vazão e com um estoque de água com segurança”, conta o diretor executivo da Gest Up.
Ainda de acordo com Welton Cabral, também foi feito um cocho para suportar tratos em torno de dois dias e meio a três dias.
Os investimentos em boas práticas realizados na fazenda, visando mais conforto ao rebanho, envolveram ainda os espaços de procedimentos de protocolo sanitário e de recepção de novos animais, que receberam adaptações específicas.
O curral é extremamente pequeno e enxuto, com capacidade média de 150 animais, para um manejo rápido. Também foram construídas remangas de espera. Ao todo, conta Welton Cabral, são quatro remangas de um hectare e meio cada, com sombra e água.
No que tange ao bem estar dos animais, pensando na recepção destes, foi criado um modelo de desembarcador no qual vai direto no piquete.
“Eles não enxergam curral nesse primeiro momento. Vão para um pasto de recepção onde vão se hidratar, se alimentar. Depois de quatro, cinco dias que estão calmos, aí sim esse lote é levado para dentro do curral e são feitas as apartações, principalmente quando envolve longas distâncias e animais jovens após a desmama”.
A pecuarista Marina Pergo Vilela comenta que hoje estão “trabalhando em torno de 1,4 mil a 1.450 de ganho médio diário desses animais, com rendimento de 56% a 57% de carcaça”.
“Então dentro dessas margens pequenas o nosso lucra está ali. E a cabeça está pensando à todo momento. Então, a pecuária não chegou no ápice dela. A gente tem muito ainda para conquistar”.
Dedicação que tem reconhecimento do mercado comprador e que pode fazer a diferença na competitividade da porteira para fora.
“Para você se sustentar nessa pecuária de hoje em dia, você tem que ir neste caminho. Você ser mais eficiente e obviamente você tem que mirar muito no consumidor. Ah, mas eu vendo para um frigorífico A ou B ou C e esse frigorífico não me remunera. Mas, se não remunera hoje, vai remunerar amanhã. Porque tem um mercado consumidor externo ou interno no Brasil que está olhando para produtos diferentes”, pontua o presidente do Grupo Celeiro, Marco Túlio Duarte Soares.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Oswaldo Peira Ribeiro Júnior, ressalta ao Canal Rural Mato Grosso que “quem vai se sobressair na pecuária e vai conseguir ter uma renda maior é aquele que utilizar as medidas, utilizar as métricas. A pecuária de precisão é uma ferramenta que deverá ser usada por todos. Não tem mais como voltar atrás. Tem que ser profissional”.