A semeadura da soja ganhou ritmo acelerado em Mato Grosso, mas em Nova Mutum o clima tem sido um dos maiores desafios dos últimos anos. Com chuvas irregulares e o solo perdendo umidade rapidamente, os produtores plantam no limite, tentando aproveitar cada janela possível para não comprometer a safra e as culturas seguintes.
O gerente de produção na Fazenda Bom Princípio, Bruno Miguel Pancini Nunes. conta que o plantio começou sob incerteza. A equipe tem trabalhado na umidade, sem saber se as chuvas vão se estabilizar. A propriedade pretende cultivar nesta safra 1.230 hectares de soja em Nova Mutum.
Em algumas áreas, segundo ele, o intervalo sem precipitação chegou a quase duas semanas, o que provoca falhas de estande e desuniformidade das plantas. Bruno explica ao Patrulheiro Agro desta semana que essa diferença afeta diretamente a produtividade.
“Esse ano estávamos muito animados, fizemos um planejamento bem bacana, mas agora já estamos com o pé atrás. Algumas noites já sem dormir, acordando de madrugada para ver se choveu ou não. Está todo mundo preocupado”, relata já apreensivo com o período da colheita.

Atrasos e mudanças no planejamento
A preocupação também atinge a gerente geral do Grupo Pscheidt, Valcilene Duarte de Mello, que ainda não conseguiu iniciar o plantio. Ele afirma que a fazenda precisou trocar todas as variedades planejadas e optar por sementes mais precoces para tentar garantir a janela do algodão. A expectativa era plantar cerca de 2,1 mil hectares de algodão, mas a área deve ser reduzida. Parte da soja precoce prevista para dar lugar ao algodão será substituída por milho segunda safra.
O Grupo Pscheidt deve cultivar aproximadamente 4,1 mil hectares de soja nesta safra, sendo 1,7 mil apenas em Nova Mutum. Mas o atraso vem gerando frustração. “Dependemos da chuva e o atraso atrapalha a janela da segunda safra”, comenta à reportagem do programa do Canal Rural Mato Grosso.
Valcilene pontua que o calor intenso também tem agravado a situação. O solo seca rápido e, com as temperaturas elevadas, há risco de a semente “cozinhar”, comprometendo o plantio.
Em todo o município, o Sindicato Rural de Nova Mutum destaca que 35% da área de soja — de um total de 400 mil hectares — já está semeada. Segundo o presidente Paulo Zen, o cenário é de atenção. Ele relata que produtores que plantaram entre 28 e 30 de setembro enfrentaram estiagem de até 20 dias. Ele acredita que no final da colheita a situação possa dar “uma boa diferença”.
Paulo reforça que, diante dos custos e juros elevados, o replantio se torna ainda mais inviável. “Plantar normal já está apertado, imagina você ter que replantar alguma área nos custos e nesse valor de juros que estamos pagando. Aí fica mais inviável ainda”, pontua.

Consultorias e decisões sob pressão
A situação também é acompanhada de perto por consultorias agrícolas que atuam na região. O agrônomo Cledson Guimarães Dias Pereira, da Cowboy Consultoria, diz que as áreas apresentam condições muito distintas. Há fazendas que concluíram o plantio, outras replantaram e algumas ainda avaliam se vale a pena semear novamente. A empresa atende 13 produtores em cerca de 26 mil hectares. “As previsões não trazem segurança de que as chuvas vão se normalizar”.
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), 60% da área de soja prevista no Estado já estava plantada até a última semana, avanço de mais de 16 pontos percentuais em relação à anterior. O médio-norte lidera o ritmo, com 84,5% da área semeada.
Mesmo assim, o presidente da Aprosoja Mato Grosso, Lucas Costa Beber, alerta que as precipitações seguem irregulares. Ele afirma que, embora as chuvas tenham começado no período esperado, as estiagens de 10 a 20 dias entre uma frente e outra trazem insegurança. “A partir de agora o produtor começa a tomar riscos maiores para não atrasar o milho”, avalia ao lembrar também os riscos do plantio tardio da soja quanto aos ataques de pragas.
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