Na região nordeste de Mato Grosso, empresas e produtores estão ligando o sinal de alerta para uma possível concentração na colheita da soja. Segundo o setor produtivo, há dois pontos preocupantes: o excesso de chuvas, que pode formar atoleiros, e a falta de armazéns.
Em 2005, Geraldo Delai construiu na propriedade em Água Boa um pequeno silo para 40 mil sacas e também um pequeno armazém de 80 mil sacas, que hoje não comporta toda a sua colheita. Contudo, ele frisa que apesar disso ameniza para que não precise levar para as tradings, bem como o possibilita comercializar mais tarde uma parte da produção.
Presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Geraldo Delai comenta, ao Patrulheiro Agro desta semana, quanto as chuvas, que em anos bons chegam a registrar de 300 a 500 milímetros na região, mas que neste ano chegaram a quantificar 900 milímetros.
“Então é muito acima do que a gente esperava. Como os produtores plantaram muito mais rápido do que o ano passado e anos anteriores, nós também teremos uma concentração de colheita muito maior. Tem dois pontos bastante preocupantes para nós, que são as áreas com excesso de chuvas, com tendência de formar atoleiros, e a falta de armazéns como sempre”, diz ele.
É preciso mais armazéns
Em Água Boa uma unidade da Cocamar está com previsão para ser inaugurada no dia 20 de janeiro de 2025. Conforme informações repassadas pelo gerente responsável da unidade para a reportagem do Canal Rural Mato Grosso, o local terá capacidade estática para 150 mil toneladas e dois secadores que juntos somam 480 toneladas hora.
Apesar da boa notícia para o município, o presidente do Sindicato Rural salienta que “se a gente for analisar que somente nós ganhamos um armazém, que é da Cocamar, e antes faltava 60% de armazenagem, então quer dizer que nada mudou no cenário do ano passado para esse ano”.
Geraldo Delai frisa ainda que “não é um armazém que vai resolver uma área de 200 mil hectares como está em Água Boa hoje. Ainda bem que as tradings têm uma boa logística. Então vai colhendo e vai se transportando, levando embora. Mas, o déficit é muito grande e a gente não tem a capacidade de fazer armazenagem nem mesmo da metade da área colhida”.
Problema se estende pelo Vale do Araguaia
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wisch, o problema da armazenagem se estende por toda a região do Vale do Araguaia.
“Todo o estado tem esse problema. O déficit nosso de armazenagem é gigantesco e com certeza vamos ter problemas. Uma que, por mais que não se produza tanto assim, produza uma safra normal, o problema é que concentrou demais o plantio. A área de Canarana dá para se falar que foi plantada praticamente em menos de 30 dias. Então, são 300 mil hectares de lavoura dentro de um prazo de 30 dias para colher e aí não temos armazéns”, diz ele ao Canal Rural Mato Grosso.
Empresas se organizam para evitar concentração
Originador da Cargill em Água Boa, Gabriel Santos pontua que “sabemos que muitas das vezes o produtor não tem [capacidade] estática nem na fazenda e nem o município comporta a estática que é necessária. E, também, não adianta o produtor mandar um caminhão aqui e ele passar dois, três dias na fila, sendo que o produtor lá não consegue colher. Então temos que ajudar nesse fluxo do caminhão da lavoura até o armazém para não deixar nenhum gargalo no meio do caminho”.
Em Água Boa, a unidade da empresa possui capacidade estática para receber 56 mil toneladas de soja e, segundo o originador, está estimando rodar três turnos para dar conta de atender todos os produtores, principalmente na questão da logística.
“Principalmente, para expedir soja aqui dentro do armazém, para ver se conseguimos aumentar essa capacidade tanto na secagem quanto de recepção. Dependendo da necessidade do produtor, fazer uma expedição do próprio armazém dele, a gente consegue dar esse fluxo para dar essa auxiliada também”.
Ainda de acordo com Gabriel, a empresa já comercializou antecipadamente cerca de 60% da produção de soja desta safra entre os municípios de Água Boa, Canarana e Querência.
A ampliação da capacidade estática e a modernização do sistema de secagem de grãos são os investimentos estratégicos realizados pelas empresas, visando dar agilidade no recebimento da produção que vem do campo em uma possível concentração de soja na colheita.
“Estamos com previsão para colocar mais uns silos pulmões para fazer essa ampliação também. É o que realmente dá maior cadência para nós. A gente consegue tramitar com produto úmido, um produto avariado, um produto com maior impureza. Então a gente consegue dar uma desafogada melhor com essa capacidade e mais silos pulmões”, revela ao Patrulheiro Agro.
Conforme o gerente comercial da Agrícola Alvorada, Talison Garcia Silva, cada ano é um ano diferente. Assim como os produtores, ele também avalia que este ano está melhor que o anterior e que as expectativas são boas em decorrência do bom desenvolvimento das lavouras, em virtude das chuvas.
“Então os armazéns têm que estar bem preparados. A unidade da Agrícola Alvorada em Água Boa é bem preparada em relação à estrutura, capacidade estática bem grande de quase 200 mil toneladas de soja. Um armazém bem diferente. A gente trabalhava com lenha e hoje trabalha com cavaco. Isso dá mais eficiência, dá mais agilidade. Um silo pulmão de três mil toneladas que ajuda na hora de você secar o produto e fazer essa segregação”.
Talison comenta ainda que a empresa também trabalha no terceiro turno fazendo 24 horas para conseguir secar o produto. “Todo ano é um ano desafiador. Não vai ser diferente esse ano”.
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