Produtores de milho na região médio-norte de Mato Grosso estão preocupados com a irregularidade das chuvas e a presença de lagartas nas lavouras. Em alguns municípios, como Boa Esperança do Norte, cerca 30% da área destinada à cultura nesta temporada foi semeada fora da janela ideal, prejudicando ainda mais as chances de uma safra cheia.
Em Boa Esperança do Norte, o produtor Dilvão Roberto Pase já vendeu aproximadamente 80% da safra de milho antecipadamente. Segundo ele, as chuvas estão mais isoladas nos últimos dias, o que representa um sinal de que o período das águas está acabando.
Ele pontua ao Patrulheiro Agro que a preocupação é grande quanto aos custos com produção do grão, uma vez que uma redução da produtividade compromete as despesas e a rentabilidade.
“Cada grãozinho que vai produzir nós vamos precisar aqui. Pela experiência que temos aqui, pelos anos que moramos aqui na região, a janela de milho é curta. Então fugiu disso já sabemos que é só com a sorte mesmo”.

Produtores pedem compreensão de fornecedores
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Boa Esperança do Norte, Pedro Paulo Souza Ferraz, cerca de 30% da área total de milho cultivada nesta safra 2024/25 no município está fora da janela ideal para a cultura e com risco de perdas de produtividade pelo histórico de escassez hídrica para o período.
As chuvas no município, frisa ele ao Canal Rural Mato Grosso, cortam cedo e plantar o cereal após o dia 15 de fevereiro já acende a luz amarela.
“Milho aqui na região não fecha a conta não. Em geral, passando do dia 20 de fevereiro já começa a cair drasticamente a produtividade. Essa perda já está anunciada. Já esperamos isso. Vamos ver se com o restante da área dos produtores conseguem arcar com os seus compromissos e que dê rentabilidade para o produtor continuar trabalhando”.
Entre as alternativas encontradas pelos produtores de Boa Esperança do Norte para tentar driblar perdas e conseguir honrar com os compromissos foi a substituição de milho pelo sorgo em parte das lavouras fora da janela para o cereal. É o caso do próprio Pedro Paulo.
“Pedi a compreensão dos fornecedores e devolvi 200 sacas de milho e troquei por sorgo, porque ele precisa de menos chuva e menos cuidado. Melhor uma safrinha de sorgo boa do que uma de milho ruim, que não paga as contas e exige muito investimento”.
Lagartas desafiam milho com alta tecnologia
Enquanto em Boa Esperança do Norte as preocupações giram em torno do corte das chuvas, em Nova Mutum o grande desafio está sendo a infestação de lagartas em milharais de alta tecnologia. Para tentar conter a praga e evitar o risco de perdas expressivas, muitas propriedades têm intensificado o uso de defensivos na plantação.
O produtor Clairton Pavlak, por exemplo, já realizou cinco aplicações adicionais contra o inseto, elevando ainda mais os custos nos 900 hectares cultivados nesta safra com o milho.
“Sem controle. Você vê que é um negócio que não tem lógica. Duas, três lagartas por espiga. Vai dar uns 15% de quebra. A gente paga quase R$ 1 mil em um saco de milho e bota mais R$ 250 por hectare de aplicação de defensivo. Aí fica quanto o custo?”, questiona o produtor.
Conforme o engenheiro agrônomo Cledson Guimarães Dias Pereira, duas lagartas predominam na região e se encontram com população alta no milho: a spodoptera frugiperda e a helicoverpa zea.
O especialista atende uma área de 25 mil hectares de milho com tecnologia na região de Nova Mutum e todas enfrentam problemas com lagartas. A previsão para este ano, estima ele, é de 10% a 20% de danos na produtividade.
“Fora que é um ano que está chuvoso. Então esses buracos todinhos que elas fizeram, vai propiciar com a chuva, a entrada da água dentro da espiga. Isso vai criar o quê? Grãos avariados lá na frente”, diz Cledson.
A resistência dos materiais com relação às lagartas tem preocupado os produtores de Nova Mutum. O agricultor Cristiano Costa Beber comenta que foram adquiridos materiais que eram para ser resistentes e já conta com seis aplicações em alguns.
“Não sabemos mais o que fazer. Toda a área tem problema desde cedo e essa praga não está parando, tanto que eu já tinha comprado um monte de defensivos e estou indo atrás de mais. Era para ser uma lavoura bonita. Muito grão falhado. Até tem uma área convencional que faz anos que não plantava, plantei e por eu ter tratado com defensivo ela ficou mais limpa do que a com tecnologia. O custo ficou igual”.
Na propriedade Cristiano conta os milharais ocupam uma área de 2,5 mil hectares nesta safra 2024/25. Ele cobra das empresas desenvolvedoras de tecnologia e sementes uma resposta para a situação.
“Eu acho que se paga por uma tecnologia, tem que funcionar. Agora se não funcionar, vamos baixar o custo dessas sementes. A gente pagou por uma tecnologia e não funcionou e agora vai vir a safra de soja. Será que essa tecnologia que estamos pagando para a semente de soja da próxima safra vai ter controle dessa praga também? Ou daqui a pouco vai perder resistência e nós vamos ter que correr atrás de defensivos de novo?”.
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