Resíduos de tilápia, como vísceras e carcaças, estão sendo transformados em biofertilizantes, criando um ciclo sustentável que integra a criação de peixes e a produção agrícola de maneira eficiente e ecológica.
Em Juscimeira, sudeste de Mato Grosso, o Rio São Lourenço se tornou um cenário inovador para a criação de tilápias em cativeiro, com o uso de tanques-rede no lago de uma pequena hidrelétrica.
Esse sistema possibilita a utilização de 90 tanques, com capacidade total para 54 mil metros cúbicos de água. Nos tanques, cerca de um milhão de alevinos passam por um processo contínuo de crescimento, sendo introduzidos e retirados diariamente.
A unidade realiza um ciclo completo de criação, engorda e despesca das tilápias. A coordenadora administrativa da Piscicultura São Lourenço, Mirian Cipriano, conta ao MT Sustentável desta semana que realiza um ciclo completo de criação, engorda e despesca das tilápias.
O período de engorda dura cerca de sete meses e a venda dos peixes acontece diariamente, de segunda a sexta-feira.
Os animais são transportados vivos para um frigorífico localizado a 100 quilômetros da represa. No local, as tilápias passam por 12 etapas de processamento até estarem prontas para o comércio, incluindo abate, retirada de escamas, separação do filé, classificação e embalagem.
“O frigorífico teve uma reforma recente, no mês de junho, e agora tem uma capacidade de abate de 40 toneladas por dia. Hoje, a gente está na metade, fazendo 20 toneladas por dia, e até o meio do ano que vem eu creio que a gente chegue nesse número”, afirma João Manzoli, gerente de produção do frigorífico Saciatta.
Resíduos de tilápia viram biofertilizantes
No frigorífico, onde são processadas cerca de 20 toneladas de tilápia por dia, 68% desse volume corresponde a sobras como cabeças, pele, ossos e vísceras. Os resíduos, são aproveitados de forma inovadora dentro da empresa.
O material é encaminhado para a fábrica de biofertilizantes, localizada nas proximidades da represa, onde passam por um processo de hidrólise. As proteínas presentes nas carcaças das tilápias são transformadas em aminoácidos, resultando em um fertilizante sustentável.
Segundo Nilton César Ribeiro, doutor em agroquímica e gestor da unidade de produção Ambios, o processo levou dois anos de pesquisa para alcançar uma fórmula estável e livre do odor característico do peixe.
Ele explica que os aminoácidos podem ser utilizados em qualquer planta.
“O aminoácido pode ser aplicado em qualquer tipo de cultura, dentro da janela adequada, porque faz parte do ciclo da planta. Fornecemos o aminoácido para a planta se desenvolver ou criar mecanismos de proteção. A grande diferença do produto que temos hoje é que ele é de origem natural, então a planta tem uma sinergia melhor para absorver esse material. Observamos aumento de produtividade e mitigação ao estresse climático”, completa.
Integração entre piscicultura e agricultura sustentável
O diretor de pecuária e piscicultura do Grupo Natter, Herbert Carli Junior, vê na transformação dos resíduos da piscicultura em biofertilizantes, uma peça fundamental para fechar um ciclo sustentável e eficiente dentro das atividades do grupo.
Com fazendas de produção de grãos em Mato Grosso, o grupo adota um sistema que integra a produção agrícola e a criação de peixes.
“Temos todo um sistema horizontal. Usamos insumos, produzimos a ração, transformamos no peixe, processamos no frigorífico, e aproveitamos tudo, desde as vísceras até as carcaças. Voltamos com isso transformado em aminoácido para a lavoura, fechando toda a cadeia de forma sustentável”, explica Herbert.
Esse processo de reaproveitamento integral é o que garante uma operação harmônica e totalmente retornável.
*Texto corrigido por Ana Moura.
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