MT SUSTENTÁVEL

Reposição de nutrientes impulsiona produtividade no sistema lavoura-pecuária

Aplicação estratégica de adubos aumenta a produtividade e sustentabilidade na produção de soja e gado

Pesquisa em adubação de sistemas integrados na lavoura e pecuária tem mostrado como a aplicação estratégica de nutrientes pode aumentar a produtividade de carne e grãos, desafiando conceitos tradicionais de manejo agrícola.

Em Mato Grosso, no município de Rondonópolis, região sudeste do estado, a Fazenda Guarita se destaca como referência em produção agrícola e pecuária. Anualmente, são cultivados até 200 hectares de soja. Após a colheita, a área é integrada à pecuária, com o boi safrinha ocupando cerca de mil hectares.

Neste sistema, a soja e o pasto convivem, mas não sem desafios. A pesquisa conduzida pelo doutor em ciência do solo e professor da Universidade Federal de Rondonópolis, Edicarlos de Souza, busca aperfeiçoar o uso de adubação nesse ecossistema.

A estratégia inovadora cria um ciclo sustentável de adubação. Edicarlos explica ao MT Sustentável desta semana que após a colheita da oleaginosa, semeiam o pasto. 

Foto: Leandro Balbino/ Canal Rural MT

“Durante a colheita da soja, exportamos entre 80 e 90 quilos de potássio por hectare e não fazemos nenhuma reposição. No pasto, se produzirmos 15 arrobas de carcaça por hectare, a exportação de potássio é de no máximo um quilo por hectare, e mesmo assim repomos 90 quilos de potássio. Percebemos uma incoerência, pois no momento de maior exportação não fazemos reposição, enquanto no momento de menor exportação fazemos”, diz o pesquisador.

Esse descompasso pode ser prejudicial para o sistema como um todo, pois a soja exporta muitos nutrientes e o pasto acaba recebendo uma quantidade mínima.

O pesquisador propôs uma reavaliação, testando diferentes estratégias de reposição dos nutrientes, além de inserir a adubação nitrogenada na fase de pastagem. 

“Há estudos que mostram que a soja geralmente não deixa um balanço positivo de nitrogênio. Portanto, decidimos testar duas estratégias: adubar fósforo e potássio na soja ou no pasto, e também inserir adubação nitrogenada na fase de pastagem”, explica o pesquisador.

Pesquisa em campo e resultados positivos

A pesquisa começou em 2019 em uma área de 23 hectares, dividida em 12 parcelas. Após cinco anos de estudos, já é possível observar resultados consistentes. Para Edicarlos a maior descoberta foi a importância de realizar a adubação durante o período de pastagem.

“O primeiro resultado interessante é que quando adubo, aumenta a produtividade de forragem, resultando em maior taxa de lotação e produtividade por área. O ganho de peso por área era maior, produzindo mais carne por hectare”, afirma Edicarlos.

A adubação da pastagem mostrou-se fundamental para otimizar a produção do sistema integrado. A aplicação de nitrogênio na fase de pastagem, em particular, foi crucial para o aumento da produtividade da soja, com ganhos de até oito sacas por hectare em anos favoráveis.

Logística e dificuldade na implementação de métodos

Apesar dos bons resultados, a aplicação dos novos métodos enfrenta desafios logísticos. 

O momento ideal para a reposição de adubos coincide com o período de transporte da soja recém-colhida, o que exige um replanejamento das operações na fazenda. 

“Replanejar todo o ano agrícola, desde a compra do adubo até a chegada na fazenda, para não coincidir com a colheita é uma mudança de cultura”, pontua Everton Mann Appelt, gerente da Fazenda Guarita.

Ele destaca também a resistência inicial de alguns produtores em adotar novas práticas. 

“Muitos produtores têm dificuldade em acreditar que isso funcione, mas a pesquisa na nossa fazenda mostra que o benefício não é só para a soja. Tanto para o boi, você aumenta a produtividade de arroba por hectare e, além disso, há um aumento na produção de soja”, comenta.

Foto: Leandro Balbino/ Canal Rural MT

O impacto de uma pesquisa inovadora

Edicarlos de Souza observa que a pesquisa não apenas traz benefícios para a propriedade, mas também se espalhou para outros estados, com resultados semelhantes.

“Se eu trabalho com sistemas, devo repor nutrientes no momento de maior exportação. Isso é adubação de sistema e temos tido excelentes resultados, não só aqui, mas também replicados no sul do Brasil e no Piauí. Produtores que vieram em dias de campo na Fazenda Guarita estão reproduzindo isso em outros estados com resultados excelentes”, conclui o professor.

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