As chuvas se intensificaram nesta reta final de colheita da soja em alguns municípios da região nordeste de Mato Grosso. Entre transtornos e estimativas de perdas de produtividade na lavoura, a falta de infraestrutura para estocar os grãos pode dificultar o escoamento do restante da safra nas fazendas.
Em Canarana, duas preocupações tiram o sono do agricultor Rafael Jose Wilbert e o impedindo de finalizar a colheita da soja. Uma é o excesso de chuvas, enquanto a outra a falta de caminhões para transportar a safra.
“É o investimento da gente. Investimento da vida. Capricha tanto e está aí a situação. Nós dos 500 hectares que temos da lavoura plantada, mais de 400 hectares é arrendado. Então, isso é um custo que soma junto a perda que vai tendo por falta de conseguir entregar a soja no armazém e o lucro que vai apertando no final”.
Em Água Boa a situação e as preocupações não são diferentes, conforme o presidente do Sindicato Rural, Geraldo Delay. A alta umidade também prejudica o ritmo da colheita nos 240 mil hectares cultivados nesta safra 2022/23, que até o momento colheu pouco mais de 70% da soja.
“Este ano nós estamos mais atrasados por causa das chuvas que começaram bem mais tarde. Quando não consegue tirar a soja no seu pleno ponto de colheita já começa a existir uma perda de proteína e perda de peso automaticamente. O produtor está apavorado”, pontua Delay.
Cenário cada vez mais desafiador na soja
A situação quanto à falta de espaço para armazenagem dos grãos é outra dificuldade de quem produz na região. O que pode contribuir ainda mais para as perdas no campo, situação que aumenta ainda mais a preocupação dos agricultores, especialmente de quem não tem estrutura e condições de construir um armazém na propriedade.
O presidente do Sindicato Rural de Água Boa comenta ainda que além da alta umidade no grão, ainda se enfrenta problema com a armazenagem, uma vez as empresas situadas no município não possuem capacidade para receber a produção. “Aí os caminhões ficam em torno de 24 até 48 horas com o produtor”.
Em um ano desfavorável, como nesta safra, o cenário, pontuam os produtores, fica ainda mais desafiador.
“Acontece na mesma época. A colheita e a demanda é a mesma. Outros municípios também passam pelo mesmo problema dentro da região. Isso tem o fator positivo, que foi o crescimento do produtor, a infraestrutura ou a capitalização dele. Mas, agora isso bate de frente com esse impacto que pode colocar risco dentro da atividade”, comenta o agricultor José Luiz Polizelli.
Investimentos aquém do necessário
A necessidade de investimentos em infraestrutura de armazenagem, de acordo com os produtores, é aquém do necessário.
“As tradings não estão mais investindo em armazenagem. Eu acho que elas gostavam de investir no início, há duas décadas atrás. Gostavam de investir aqui na região, era uma coisa quase que exclusiva delas. Então, elas conseguiram colocar à margem, conseguiram fazer da maneira com que elas queriam. E, a partir do momento que o produtor conseguiu fazer isso e minimizar custos e conseguir ter um pouco de armazenagem própria, não passou a ser uma tarefa exclusiva delas. E eu acho que a margem diminuiu e eles preferiram sair fora”, comenta o agricultor Murilo Ramos.
“O produtor tem que fazer o seu armazém, até para ele ser o dono realmente do seu produto. Então, tentar controlar um pouco a oferta no mercado é a única solução que nós temos aqui para essa região. Dez, 15, 20 produtores com o domínio cooperativo é a única solução que tem. Nós temos que nos conscientizar se não iremos continuar sofrendo. Não tem outra maneira”, salienta o também produtor Marcos da Rosa.
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