PATRULHEIRO AGRO

Asfalto precário gera prejuízos, custos altos e risco de morte na MT-326

Situação chega a encarecer o frete em cerca de 18% e causar descontos significativos em cargas vivas

Buracos, aumento de custos na manutenção da frota de caminhões, frete até 18% mais caro, descontos significativos nas cargas vivas por lesões, queda no rendimento de carcaças e até perdas de animais no trajeto até os frigoríficos, além do risco constante de acidentes. Estas são algumas das situações enfrentadas por quem depende da rodovia estadual MT-326, que liga Nova Nazaré e Cocalinho, no nordeste de Mato Grosso, considerada o principal corredor de escoamento de produção do Araguaia mato-grossense e também do Araguaia goiano.

Às margens do trecho pavimentado, há duas usinas de calcário em Cocalinho. A maior delas, com capacidade de produção anual em torno de um milhão de toneladas do insumo, quer triplicar o volume com a inauguração de mais uma unidade que deve começar a operar em agosto. A preocupação hoje, com a proximidade do início das operações, é com os custos provocados pela precariedade logística que encarece o escoamento e coloca em risco a rentabilidade do investimento.

A mineração de calcário Serra Dourada pertence ao grupo Água Preta e movimenta diariamente 10% da frota de caminhões próprios e aproximadamente 150 veículos para escoa o insumo agrícola. Segundo o gerente geral da Agropecuária Água Preta, João Paulo Martinelli Massoneto, os custos com manutenção em decorrência a situação da rodovia aumentam entre 20% e 25%.

“[Estamos gastando] acima do orçamento previsto todo mês. A gente sempre acreditou que com a pavimentação iríamos diminuir bem esses custos, mas não aconteceu. No estado em que se encontra a rodovia, o mínimo que queremos é infraestrutura para ter escoamento da produção e chegada de insumo. A gente quer trabalhar, quer condição boa para executar o nosso trabalho e a nossa produção”, diz João Paulo ao programa Patrulheiro Agro 139, desta semana.

Conforme o gerente geral da agropecuária, os custos elevados são observados em outras atividades do grupo. Ele comenta que se chega a pagar no frete “normal” em torno de 15%, 18% a mais pela dificuldade que os caminhões encontram e pelo aumento de gasto com manutenção que os caminhoneiros e as empresas possuem ao longo do trecho.

“Aumenta tudo. Principalmente, nós que dependemos de grãos aqui na Agropecuária Água Preta para o confinamento. Isso gera impactos diretamente nos custos das dietas dos animais que estão confinados. A saca de milho entregue hoje na empresa é em torno de R$ 2,80, R$ 3 a mais por saca. Os animais, que estão sendo transportados ao longo das estradas que estão em más condições, sofrem lesões dentro do caminhão e quando chega no frigorífico na hora do abate temos perda no rendimento. Isso quando não perdemos animais dentro dos caminhões que cai e não consegue levantar e às vezes chega no frigorífico morto e é descontado”, pontua João Paulo ao Canal Rural Mato Grosso.

Manutenção da MT-326 precisa ser constante

Cocalinho, segundo informações do Sindicato Rural do município, possui aproximadamente 600 mil cabeças de gado e uma área agrícola de aproximadamente 30 mil hectares em plena expansão sobre as pastagens degradadas. O presidente da entidade, Valdir Pereira de Souza Filho, comenta que a MT-326 é de suma importância para toda a região do Araguaia mato-grossense, bem como para o Araguaia goiano.

“Precisa de manutenção e uma manutenção que seja constante, porque é muito caminhão. Principalmente, nos calcários que passam ali diariamente. A região do Araguaia já avançou muito com a pavimentação dela e com as pontes que foram feitas. Eu acho que o mais difícil foi fazer. Manter é mais fácil”.

Além da produção agrícola e pecuária, o prefeito de Cocalinho, Márcio Conceição Nunes Aguiar, destaca que o município também cresceu muito no turismo.

“Isso vem atrapalhando em algumas questões, porque como que vai colocar um carro de grande porte em uma estrada que realmente está cheia de buracos? Essa MT-326 precisa já de um micro-revestimento. A gente ganhou muito com o asfalto, mas precisamos dessa manutenção sempre atualizada para que o povo possa transitar tranquilamente”.

O presidente do Sindicato Rural de Canarana, Alex Wisch, pontua à reportagem do Canal Rural Mato Grosso que “o asfalto esburacado consegue ser quase pior do que a estrada de terra”.

“Ruim para nós que pagamos o frete e ruim para o caminhoneiro que recebe. Para o caminhoneiro é pouco pelo estrago causado no caminhão dele e para nós que pagamos é muito”, salienta.

O coordenador da comissão de logística da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Mateus Goldoni, também enfatiza a necessidade de uma “atenção especial” para a MT-326, visto a quantidade de veículos de cargas que passam diariamente por ela.

“Estamos falando de milhões de toneladas que passam por aqui, que é o progresso, que é o fluxo, o dinheiro que abastece o Fethab, motoristas que pagam o IPVA. É fundamental isso, tanto para os cofres públicos quanto para o bem-estar, porque a gente não pode pensar só na questão do transporte de grãos, mas também de pessoas que passam por aqui para ir ao estado vizinho”.

Em nota enviada para a reportagem do Canal Rural Mato Grosso, a Secretaria de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso (Sinfra-MT) informou que está finalizando a contratação de uma empresa para realizar a manutenção da malha rodoviária da região.

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