O excesso de chuva tem atrapalhado a colheita da soja em Mato Grosso. Apenas 13,6% das lavouras destinadas ao grão no estado passaram por este processo até o momento, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O número é menos da metade do registrado no ano passado e também inferior à média histórica para o período, de 20%.
Em alguns municípios do estado, é possível enxergar plantações enxarcadas e máquinas paradas à espera de tempo firme. Segundo o vice-presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, os produtores que começaram a colheita no início de janeiro estão há semanas aguardando para voltar com as máquinas em campo.
Assim, a alta umidade e a luminosidade reduzida interferem no desenvolvimento das plantas, alongando o ciclo. “Uma variedade que se colhia com 100 dias está sendo colhida com 105, 107 dias. O mesmo acontece com variedades de 110 dias”, detalha o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Sadi Beledelli.
De acordo com ele, o transtorno vem quando se retira das vagens os grãos com muita umidade, levando mais tempo e recursos para se fazer a secagem. O agricultor Cleiton Pase conta que está com cerca de dez dias de atraso no ciclo por conta da falta de sol e que conhece produtores que têm soja seca para colher, de áreas de pivô, mas não conseguem seguir com os trabalhos por conta do excesso de umidade.
Excesso hídrico já atrapalhou antes
Outro produtor apreensivo com a umidade elevada e a lentidão do ritmo das lavouras de soja é o Joelson Eugênio Zanatta, do distrito de Boa Esperança, em Sorriso. Ele adverte que o atraso no ciclo pode fazer com que todos os produtores colham no mesmo período e a demanda pelos armazéns sobrecarregue todo o sistema. “Assim, acabamos parando as máquinas por falta de caminhão e de secagem”.
Tudo isso, conforme ele, pode gerar perdas de produtividade. “No ano passado, atrasamos de dez a 12 dias a colheita e tivemos uma perda entre 20% e 25% da soja”
Conforme o Sindicato Rural de Sorriso, pouco mais de 20% da área total foi colhida no município que está localizado no médio-norte do estado. A região é a que tem a maior concentração de lavouras de soja em Mato Grosso. Beledelli, presidente do Sindicato, diz esperar que a chuva dê trégua na região (acompanhe nossa previsão para o estado).
“Se tivermos um pouco de perda de produtividade este ano a conta não fecha. Tivemos a implantação do plantio da soja no maior custo de nossa história, então temos de ter uma boa produção, uma boa produtividade para pagar todo o investimento que foi feito e deixar um pouco de rentabilidade ao produtor”.
Colheita de soja atrasada em todo o estado
A colheita da soja nesta safra 22/23 permanece em atraso em todo o estado, tanto em comparação à temporada passada, quanto em relação à média histórica para o período. Além da permanência da soja na lavoura ir absorvendo umidade e dando mais trabalho para secar, o presidente da Aprosoja-MT lembra de outro complicador: áreas menos drenadas e com maior teor de argila.
“Há maior dificuldade de entrar nessas lavouras, então tudo acaba se somando e dificultanto para que o produtor possa retirar esse produto e, mesmo quando não se tem estragos, cada chuva que passa, o grão vem perdendo peso, ou seja, é prejuízo para o produtor”, considera Beber.