Mesmo com a expectativa de produtividade acima da média, o clima entre os produtores de soja de Mato Grosso é de cautela. O temor é que haja desequilíbrio entre os custos de produção e a receita a ser obtida.
Exemplo disso acontece na propriedade da família Cadore, em Paranatinga, onde o transporte da colheita compromete toda a frota disponível. Enquanto as máquinas aceleram para retirar os grãos do campo, os caminhões trabalham sem parar na operação de carga e descarga para dar agilidade aos trabalhos.
A seca no início do período vegetativo e o excesso de chuva durante o desenvolvimento da plantação alongaram o ciclo em 15 dias e também prejudicaram alguns talhões, o que pode refletir no desempenho da lavoura.
Os preços pagos pelos insumos também entram na conta das preocupações. “Os custos dos fertilizantes, principalmente, foram abusivos. Pagamos quase 300% a mais em relação ao ano anterior [2021]. Então, a rentabilidade, no fim, acaba sendo menor”, afirma o agricultor Luciano Cadore.
Doença misteriosa aflige produtores
A presença das anomalias da soja em algumas áreas é outra preocupação no município, principalmente a que causa o apodrecimento das vagens. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Paranatinga, Carlinhos Rodrigues, a doença pode aumentar o risco de perdas na produtividade.
“Temos lavouras excelentes, com nível de produtividade muito bom, mas em determinados talhões, em determinadas variedades, isso [a produtividade] cai lá embaixo devido a anomalia, o que é um grande problema porque ainda não se sabe a causa, não tendo uma solução definitiva”, afirma.
Verânico comprometeu lavouras
O presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, ressalta que muitas áreas de soja do estado foram comprometidas, principalmente as lavouras precoces, semeadas nas primeiras chuvas e que depois passaram por verânicos de até 30 dias, dependendo da região. “Esperamos que a segunda safra traga produtividade e rendimento maiores para essas regiões”.
Mesmo diante das incertezas, o Imea projeta uma produção acima de 44 milhões de toneladas de soja para safra 22/23 em Mato Grosso, incremento de 3,4% em relação às perspectivas anunciadas em fevereiro. Até o momento, 95% da área já está colhida no estado.
“Tivemos um aumento gigantesco no custo de produção, desde máquinas agrícolas, peças, serviços, fertilizantes. Pedimos ao produtor para ter cautela, afinal de contas, vemos a viabilidade como principal insumo. Então que o produtor tenha cautela, faça seu hedge com muito cuidado porque, como dependemos da demanda internacional, qualquer mudança na direção do destino de nosso produto pode comprometer a viabilidade do setor”, completa o presidente.