PATRULHEIRO AGRO

Marco temporal: indefinição gera apreensão e incertezas em MT

A situação tem causado frustração e preocupação aos agricultores da região, que cobram agilidade na definição do governo federal

Propriedades mato-grossenses que fazem divisa com o Parque Indígena do Xingu podem ser afetadas com a demarcação de terras indígenas. Agricultores que possuem áreas produtivas na região temem a definição, e cobram do governo federal agilidade na definição sobre o futuro do marco temporal.

A preocupação e frustração dos agricultores é o assunto desta semana do episódio 92 do Patrulheiro Agro.

No município de Querência cerca de 450 mil hectares de área produtiva margeiam o Parque Indígena do Xingu. Caso a demarcação ocorra, conforme o setor produtivo, vários produtores serão afetados.

O presidente do Sindicato Rural de Querência, Gilmar Wentz, afirma que o município gira em torno da agricultura, e caso seja definida a ampliação das terras indígenas, a cidade irá “fechar as portas” e os produtores terão que procurar outra região.

“Qualquer profissional que está em Querência, só está aqui porque está com a cultura de soja, milho e algodão gerando renda para todo mundo. Se o marco não passar, diminuindo a área de produção, a cidade fecha as portas e achamos outro lugar”, diz o presidente.

Ele também comenta que a necessidade hoje dos indígenas não é mais área territorial, e sim melhores condições para viver uma vida digna no meio ambiente que eles já estão inseridos hoje.

Apreensão é vista em outras regiões

No município de Paranatinga a realidade não é diferente. Na região, as aldeias das etnias Xavante e Bakairi fazem divisas com as propriedades. Algumas delas, já estão consolidadas e geram empregos, sustentam famílias e geram alimento para o mundo.

O agricultor da região, Robeson Weber, arrenda uma área de dois mil hectares, onde cultiva soja e milho há dez anos. Ele pontua que as famílias das propriedades vivem em uma situação de incertezas. E na opinião dele, caso o marco temporal não seja aprovado, será um retrocesso para o Brasil.

“As famílias que vivem nessas propriedades, tem muitas incertezas. Eu acredito que se isso não for aprovado será um retrocesso para o Brasil. Esse marco tem que ser aprovado para trazer essa segurança para os produtores, para ter a certeza que essas áreas estão tranquilas em termos de segurança jurídica”, destaca o agricultor.

Produtores podem perder áreas consolidadas

De acordo com o Sindicato Rural de Paranatinga, caso o marco temporal não seja mantido e a intenção de áreas indígenas seja ampliada, aproximadamente 500 produtores rurais podem perder propriedades com áreas consolidadas há mais de 40 anos.

“Isso aqui vai ser terra de ninguém daqui a pouco. Essa é a nossa preocupação, é o nosso pedido de urgência. Precisamos dessa votação no Senado, desse posicionamento que se respeite pelo menos a Constituição Federal de 1988”, pontua o diretor executivo do Sindicato Rural de Paranatinga, Thomas Paschoal.

Além disso, o Sindicato Rural de Paranatinga também afirma, que dois projetos pretendem criar corredores ecológicos ligados em áreas indígenas no município, e se forem levados adiante, podem comprometer mais de 400 mil hectares de lavouras e pastos já consolidados.

Raízes e sentimentos frustrados

Foto: Pedro Silvestre/ Canal Rural Mato Grosso

O pecuarista do município, Paulo Teixeira, possui um rebanho de mil cabeças de gado em uma propriedade de 700 hectares, onde trabalha com o sistema de cría. O profissional fala com emoção e lágrimas nos olhos na possibilidade de ter que deixar a propriedade em que vive.

“Eu não quero sair daqui, eu já falei aqui é a minha vida. Eu já estou velho, mas eu quero finalizar aqui, esse é meu sentimento. O dia que falar que eu vou ter que ir embora daqui, pode ter certeza que eu vou morrer em outro lugar infeliz, eu não morri aqui onde eu trabalhei”, afirma o pecuarista, em um choro sentido.

 

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*Sob supervisão: Viviane Petroli