FINANCIAMENTO DO AGRO

Custeio da soja em Mato Grosso alcança R$ 54,39 bilhões na safra 2025/26

Sistema financeiro lidera o financiamento, com 35,42% dos recursos, seguido pelas multinacionais, responsáveis por 30,74%

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

O custeio total da safra 2025/26 de soja em Mato Grosso alcançou R$ 54,39 bilhões, conforme análise divulgada pelo Imea e pelo Senar Mato Grosso. Na composição do funding da soja, o sistema financeiro aparece como principal fonte de recursos, respondendo por 35,42% do total, enquanto as multinacionais e tradings somam 30,74%.

A área plantada estimada para o ciclo é de 13,01 milhões de hectares, avanço de 1,67% frente à safra anterior. Apesar do crescimento, o ritmo mais moderado reflete um ambiente de margens apertadas, marcado por custos elevados, preços pouco atrativos e taxa de juros ainda em níveis altos.

O produtor também vem enfrentando um cenário de crédito mais restrito e seletivo. O estudo mostra que, além do avanço dos recursos do sistema financeiro, houve mudanças importantes na dinâmica de participação das revendas, multinacionais e do próprio capital do produtor.

Crédito mais caro e retração das revendas

As transformações no ambiente de financiamento são perceptíveis quando comparadas ao ciclo anterior. O superintendente do Imea, Cleyton Gauer, destaca que a redução do papel das revendas foi uma das mudanças mais marcantes.

“As principais alterações em comparação ao ano passado que nós vimos na composição do funding, onde então o produtor foi buscar esses recursos para desenvolvimento da safra, primeira delas é a diminuição da participação das revendas”, afirma ao Canal Rural Mato Grosso.

Ele explica que o movimento está ligado ao cenário de maior fragilidade financeira dessas empresas. “Principalmente por conta que nós vimos, recuperações judiciais, extrajudiciais de grandes grupos atuantes, não só aqui no Mato Grosso, mas no Brasil como um todo. E essa recessão de crédito que também não só veio para o produtor, mas como para as próprias empresas que operam pela pelo aumento das exigências, garantias, tem se tornado um pouco mais complexo esse fornecimento ao produtor”.

Com as revendas menos presentes, o produtor migrou para alternativas mais caras. “O produtor teve que buscar principalmente o mercado financeiro, principalmente um crédito mais caro comparado com o que nós tivemos na última temporada, mas que mesmo assim foram insuficientes para o desenvolvimento total da safra”.

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Avanço do sistema financeiro e participação das multinacionais

O levantamento mostra que o sistema financeiro ampliou sua fatia em 5,04 pontos percentuais. O avanço tem relação com ajustes metodológicos do relatório anterior — que passou a incluir linhas próprias dos bancos privados — e também com o redirecionamento de demanda por conta do encarecimento dos recursos públicos.

Já os Recursos Federais recuaram para 5,07%, queda de 3,59 p.p. ante a safra 2024/25, em razão dos juros mais altos e da maior seletividade na liberação das operações equalizadas.

Entre os fornecedores de insumos, as revendas responderam por 5,25% do custeio, queda de 6,20 p.p., abrindo espaço para as multinacionais e tradings, que alcançaram 30,74% e se mantêm como segunda maior fonte de financiamento. O segmento tem se destacado pela robustez financeira e maior capacidade de gestão de risco, ampliando operações estruturadas como barter.

Mais capital próprio e margens pressionadas

Os Recursos Próprios dos produtores subiram para 23,51%. Cleyton relaciona o movimento ao aumento das necessidades de caixa para viabilizar a safra em um ambiente mais caro.

“Com o custo maior, montante de recursos necessários para o desenvolvimento do custeio da safra de Mato Grosso, nós vimos também a contravez do que nós observamos no ano passado, o produtor tendo que buscar mais recursos próprios para desenvolvimento da safra, então de mobilização de outras áreas para conseguir fazer o desenvolvimento da cultura de soja nessa temporada”.

Ele lembra que a pressão nas margens tem sido constante. “Se nós analisarmos as margens das últimas temporadas, cada vez mais elas vêm sendo espremidas e para essa expectativa da próxima temporada é uma das margens menores dos últimos cinco anos”.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Custos sobem 7,08% e juros continuam como desafio

O estudo do CPA/MT aponta que o custeio médio da soja avançou 7,08% entre as safras 2024/25 e 2025/26. Esse aumento decorre principalmente da elevação de 5,32% nos custos de produção por hectare:

  • Fertilizantes: +9,36%
  • Defensivos: +4,73%
  • Serviços: +16,22%
  • Sementes: -10,47% (único grupo em queda)

A elevação dos custos ocorre paralelamente a um cenário de crédito mais restritivo, altos níveis de inadimplência e maior exigência de garantias.

Cleyton reforça o peso desse ambiente para a tomada de decisão dos produtores. “O recado que nós vimos nesse movimento desse ano é um crédito mais caro, uma dificuldade acessar esse crédito nessa temporada, provavelmente garantias e também pelo menos de inadimplência, que nós vimos um movimento ao longo do último ano e também ao longo desse 2025”.

Ele destaca ainda que a taxa de juros seguirá como ponto de atenção. “Um grande desafio para a próxima temporada, dado que nós temos ainda uma taxa de juros elevada e que não tem dado sinais de recuo”.


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