PREJUÍZO NO CAMPO

Agricultores em MT reclamam da qualidade da semente de soja entregue nesta safra

Em algumas regiões, há produtores que estimam perdas de até 15 sacas de soja por hectare devido a qualidade da semente

Agricultores em Mato Grosso temem perdas na safra de soja em decorrência ao baixo vigor da semente. Em Nova Mutum, médio-norte do estado, além de prejuízos com o replantio em algumas áreas, tem propriedade estimando perdas de até 15 sacas por hectare.

Na propriedade do produtor Alexandre André Rockenbach o desenvolvimento da lavoura é acompanhado de perto. Segundo ele, nesta temporada foram semeados 600 hectares com a oleaginosa, contudo 60% da área enfrenta dificuldades no desenvolvimento por problemas na qualidade da semente adquirida para o ciclo.

“59%, 66%, 70% de vigor. E a germinação também veio abaixo do que era para vir. O certo era nem ter plantado, mas como não tinha saído o laudo ainda. O estande normalmente era para ficar com 13, 14. Ficou com 5, 7, 8. A metade”, conta Alexandre ao Canal Rural Mato Grosso.

O cenário observado, inclusive, já causa estimativas de perdas na produtividade final da lavoura.

“Eu estou chutando umas 15 sacas de diferença, a menos, pelo estande da planta. Veio o pessoal de uma empresa, veio da outra também. Eu não quero bonificação de sementes. Eu quero a diferença em grãos. Porque todo ano é essa lenga, lenga. A bonificação da safra 2024/25 vai pagar em 2026, as contas vencem em 2025. Eu quero a diferença em grãos”, frisa Alexandre.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, Paulo Zen, não é apenas uma região localizada que sofre com o baixo vigor da semente de soja nesta temporada.

“Várias regiões estão sofrendo com isso. Tem áreas que teve replantio. Tomamos umas chuvas pesadas em cima e a semente com baixo vigor não emergiu. Muitas empresas não têm nem a semente para repor aquela com baixa qualidade”, comenta em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso.

Cledson Guimarães Dias Ferreira é consultor agronômico na região médio-norte do estado. Ele comenta ao Canal Rural que identificou o problema de baixo vigor da semente de soja em 14 propriedades que ele atende. “Lá na hora de colher o produtor tem um decréscimo da produção, porque aquela planta que está ali, que recebeu adubo, que recebeu defensivo, a capacidade dela de entregar grão é menor do que as outras com um vigor melhor”.

Também consultor agronômico, Naildo Lopes pontua que “e quando ele tem 30%, 40% de estande, é um produtor que sabe que já vai ter prejuízo. Como ele precisa fazer o milho safrinha, ele acaba deixando o material com o estande baixo, porque ele tem o milho safrinha para fazer e às vezes não consegue outro material que vá chegar a tempo”.

Clima impacta na qualidade da semente

O clima adverso é considerado o grande protagonista para um aumento significativo de amostras de sementes de soja entregues nos principais laboratórios de análises em Mato Grosso. Alguns, chegaram a registrar o dobro do volume recebido em coração com o mesmo período do ano passado.

Em Lucas do Rio Verde, no Laboratório de Sementes da Fundação Rio Verde foram analisadas cerca de três mil amostras de soja em 2024. Muitos dos lotes apresentaram resultados de baixo vigor na semente, conforme a coordenadora Maria Luiza da Silva.

“Esses lotes que apresentaram um vigor menor, consequentemente, eles vão ser bem responsivos lá no campo apresentando bastante falhas, que é a realidade que o produtor está tendo neste momento. As chuvas demoraram muito para iniciar, e quando tivemos um volume maior de chuvas já estava mais próximo da colheita, o que acarretou nestes problemas de qualidade de sementes nesta safra”.

A especialista explica que o maior impacto da situação será na produtividade no final do ciclo. O problema pode causar dano de umidade e, também, é uma porta de abertura para fungos, uma vez que as condições são propícias para o desenvolvimento dos mesmos.

“A semente ideal é aquela que tem o vigor o mais alto possível para que se ela passar por uma condição adversa no campo ela tem suporte para essas condições. É o ponto crucial para que você possa definir a semeadura, para auxiliar o produtor nessa certeza de que ele vai ter um resultado positivo”.

A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso) orienta os produtores a procurarem um laboratório de confiança para realizar as análises de suas sementes.

“Estamos vivendo tempos difíceis na agricultura e se você começar um plantio de baixa qualidade a probabilidade de o produtor ter prejuízo nesta safra é enorme. É fundamental que o produtor saiba o que está colocando na terra. Então procure a Aprosoja, procure um laboratório de confiança e não plante semente que você tenha alguma dúvida de qualidade”, frisa o vice-presidente da entidade, Luiz Pedro Bier.


Clique aqui, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real.