MISSÃO APROSOJA-MT

Safra recorde nos EUA eleva incertezas sobre rentabilidade

Possibilidade de grande oferta de grãos aumenta a apreensão dos produtores brasileiros e americanos quanto à rentabilidade

A previsão de uma grande oferta de soja e milho na maior região produtora dos Estados Unidos, aumenta a apreensão dos agricultores brasileiros e americanos quanto à rentabilidade da safra. A preocupação é com uma possível desvalorização dos grãos, numa temporada em que os custos se mantiveram elevados nos dois países.

Esse é o balanço do que foi observado nos quase oito mil quilômetros percorridos pela terceira temporada do “América Clima e Mercado”, missão realizada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), a qual o repórter do Canal Rural, Pedro Silvestre, acompanhou a convite da entidade.

Foram onze estados visitados e, de acordo com o vice-presidente sul da Aprosoja-MT, Fernando Ferri, apesar de algumas regiões terem apresentado problemas climáticos, nas quais os produtores vão colher menos, de modo geral as projeções do USDA estão na linha do que a expedição viu na sua passagem pelo cinturão norte-americano.

“A maior parte dos produtores falam que vai produzir em torno de 10% a mais. Uma coisa que me chamou muito a atenção é que no final do ciclo da soja aqui pode ficar até 30 dias sem chuvas, que eles não têm quebra de produtividade, por causa da capacidade do acúmulo de água que tem nos solos norte-americanos. Não sei se é recorde, mas é uma boa safra”, comenta Fernando Ferri.

O presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, pontua que já há pessoas fazendo um “crop tour” e projetando uma safra maior do que a estimada pelo USDA.

“Mas, a verdade é que as empresas já sabem, já assimilam isso e o mercado já está precificado em cima disso. Agora, o que é importante disso, seja ano bom ou ruim, é mostrar a realidade. Não adianta vender ilusão para o produtor, para que justamente ele tenha consciência e possa se planejar também no seu negócio, já que os Estados Unidos é o principal concorrente do Brasil e a oferta deles, assim como a nossa, influi muito no mercado da soja mundial”.

Produtor teme não conseguir honrar compromissos

O risco de uma rentabilidade abaixo do esperado, diante das estimativas de super ofertas de produtos no mercado, já causa apreensão entre os produtores norte-americanos, que temem não ter condições de honrar com os compromissos herdados nesta safra.

“O produtor rural é igual em todo o planeta. As variações de preços, elas interferem no bolso de qualquer produtor que trabalha com mercado globalizados, com commodities agrícolas globalizadas”, pontua o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Gomes Pereira, ao Canal Rural.

Conforme Matheus, hoje nos Estados Unidos os patamares de preços físicos dentro da porteira estão em torno de US$ 9 o bushel da soja para Iowa, para Illinois, para partes de Wisconsin e Minnesota, enquanto o milho está abaixo de US$ 4 o bushel nessas mesmas regiões, que “não atinge o ponto mínimo” para cobrir os custos da safra 2024.

Ainda segundo ele, isso cria uma grande preocupação nos produtores dos Estados Unidos. “Ela é real. Ela existe. Os produtores já estão falando em prevent implent para 2025, que são programas do governo nacional dos Estados Unidos, que ao invés de colocar uma cultura em campo, o governo paga você para não semear. Então, é uma preocupação generalizada aqui no território norte-americano”.

Logística também preocupa os Estados Unidos

Outra preocupação dos produtores dos Estados Unidos, diante de uma possível safra histórica, é quanto a logística. O Rio Mississipi, responsável pelo escoamento de 60% da produção, enfrenta problemas de navegação.

“O Mississipi está passando por níveis fluviais muito baixos. Foram poucas as chuvas, porém bem distribuídas em algumas regiões. Desde o ano passado, o leito do Mississipi não se recuperou. O ano passado foi a segunda maior seca dos Estados Unidos de toda a história. Desde o ano passado tenta recuperar esses níveis fluviais, dessas zonas de escoamento via barcaças. Lembrando que dois terços da soja produzida nos Estados Unidos é exportada”, lembra Matheus.


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