PATRULHEIRO AGRO

Rentabilidade comprometida reflete na compra de insumos para safra 24/25

Mercado de biológicos e nutrição foliar é o mais "travado", faltando cerca de 70% a 80% ainda ser comercializado no estado

Faltando pouco menos de dois meses para o início do cultivo da safra 2024/25 de soja, a compra de insumos segue em ritmo inferior ao do mesmo período do ano passado em Mato Grosso. Cenário que coloca as revendas de insumos em alerta, estimando que os investimentos no campo serão mais modestos.

As vendas de químicos e biológicos, inclusive, são as mais atrasadas na comparação com o mesmo período do ano passado.

Em Jaciara, a Fazenda Santo Expedito cultivou um mil hectares de milho e 2,4 mil hectares de algodão nesta segunda safra. A estimativa para a soja na temporada 2024/25 é semear 4,5 mil hectares.

Por lá, a colheita do milho deve encerrar nos próximos dez dias, conforme o gerente técnico Luís Antônio Huber, enquanto no algodão os motores começam a ser aquecidos nos primeiros talhões.

Luís Antônio comenta, ao Patrulheiro Agro desta semana, que a expectativa de produtividade nas duas culturas está abaixo do esperado, principalmente o milho, que ficou em torno de 15% a menos do que o obtido na safra 2022/23.

“O algodão iniciamos agora a colheita, mas também está abaixo do que estávamos prevendo. Tínhamos uma previsão de um algodão melhor, mas a chuva de abril prejudicou bastante. Teve um apodrecimento muito grande nas maçãs do baixeiro”, conta Luís Antônio ao Canal Rural Mato Grosso.

Os resultados observados em produtividade são considerados preocupantes pelo setor produtivo, ainda mais que “a margem está muito apertada ou negativa”, como ressalta o gerente técnico da Fazenda Santo Expedito. “Vamos ter que fazer uma conta bem certinha para o plantio do próximo ano”.

Cautela no planejamento da soja

Se de um lado, na lavoura, a colheita de milho e algodão as máquinas operam a todo vapor, do outro da Fazenda Santo Expedito são as calculadoras e os telefones em busca do fechamento da próxima temporada da soja.

“Acabamos aproveitando algumas ofertas que tinha no mercado e fechamos as negociações. Esse ano optamos por comprar mais cedo, porque pudemos fazer uma pesquisa de mercado melhor, uma cotação de produtos para poder adquirir os insumos a um preço mais acessível para nós. Tem coisas, como mão de obra, óleo diesel, o próprio arrendamento de áreas não baixou. Fica mais apertada a margem da empresa. A gente fez uma programação na empresa de um custo mais enxuto possível”.

Em Primavera do Leste, enxugar os custos também foi a palavra de ordem na propriedade do agricultor Fábio Busanello. Ele já comprou todos os insumos que serão usados nos 3.750 hectares que pretende cultivar no local.

Conforme ele, a safra 2023/24 já foi “fraca” e a futura não terá “investimentos diferenciados por parte do governo”, além de já se ter queimado “um pouco da gordura que tinha”.

“Vai empurrar muita conta para a frente e os preços das commodities em baixa. É um ano que tem que pensar muito em dar um passo para a frente. Aproveitar o que você tem no solo, os adubos, os maquinários tentar fazer com o que tem mesmo, arrumar o velho e empurrar mais uns anos. É a saída”, frisa Fábio ao Patrulheiro Agro.

O produtor de Primavera do Leste ressalta ainda que “o pessoal está ponderando muito a compra esse ano, vendo bem o estoque, comprando a menos, para depois se precisar ir atrás de um repique”.

Safra que não pode ter erro

De acordo com o Conselho das Associações das Revendas de Produtos Agropecuários de Mato Grosso (CERPA-MT), a nível de fertilizantes as negociações para o ciclo futuro da soja estão em torno de 90% no estado. Já os químicos, a entidade possui uma leitura de 50% do mercado, ou seja, ainda resta metade para ser negociado.

“O produtor está buscando preço, está buscando melhores condições. O que está mais travado hoje é a parte dos biológicos e nutrição foliar. Esse mercado ainda tem para rodar uns 70%, 80%. O produtor está bem pé no chão e vai tomar essa decisão lá mais na hora do plantio, no decorrer da cultura”, pontua Marcelo Henrique da Cunha, tesoureiro da Cearpa.

Ainda segundo Marcelo, a safra 2024/25 é uma safra em que “não se pode cometer erros”, pois “nós viemos de queda de preços da safra passada. Tivemos essa frustração da safra de soja esse ano em Mato Grosso de maneira geral. E os preços ainda não estão ajudando”.

Outra preocupação do setor de revendas é com a baixa qualidade e risco da falta de algumas sementes de soja para a próxima safra. Alguns contratos, revela o Conselho, já foram cancelados.

“Nós tivemos cancelamentos de 100% de determinado material. E as outras em torno de 20% a 30%. O clima prejudicou muito. Altas temperaturas. A soja se entregou. Muito grão esverdeado, grão desuniforme. Isso fez com que a produção se perdesse no campo de arrancada e os materiais que internalizaram ainda estão com um pouco de dúvidas em relação a esse efeito que as cultivares sofreram com as altas temperaturas”.

O tesoureiro da Cearpa destaca que o cenário da safra 2022/23 de soja jamais havia sido visto.

“Estamos acompanhando através dos nossos laboratórios, dos laboratórios das empresas que nos representam, as quais nós representamos. Então, é caótica a situação de qualidade de sementes dessa safra. Vai ser preciso sim fazer algumas substituições mediante o início do plantio. Nós temos vendas de determinados materiais para 100 clientes, 30 clientes. O nosso problema é maior, então afeta muito, causa prejuízos financeiros e muito desgastes”.

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