A população de porcos selvagens em Mato Grosso segue crescente e trazendo inúmeros prejuízos às propriedades rurais em diversas regiões do estado. Além da perda de produtividade, devido às áreas destruídas, produtores ainda amargam queda na receita.
A situação de lavouras prejudicadas e a rentabilidade frustrada devido aos ataques de porcos selvagens é recorrente, de acordo com o produtor Matheus Andrzejewski, e pode colocar em risco o futuro da cultura do milho no planejamento da propriedade.
“É uma preocupação muito grande que estamos tendo. Ano após ano vai aumentando os estragos, aumentos o número de porcos. É uma perda significativa que chega em torno de 4% a 5% por ano. Nós estamos em uma área de safrinha de cinco mil hectares, então uma perda de 5% é 250 hectares. Uma perda muito grande para nós que fazemos um investimento alto para colher esse milho e ele ficar na boca do porco. Não temos o que fazer legalmente, não há nenhuma lei que permita o controle desses animais e ano após ano fica mais difícil produzir”, diz Matheus para a reportagem do Canal Rural Mato Grosso.
Porcos selvagens atacam a soja também
Em Brasnorte, segundo o presidente do Sindicato Rural, Cleber José dos Santos Silva, a cada ano aumenta a área com prejuízos. “O ataque chega à imensidão de se perder completamente todo o talhão. Antes era só na época do milho, mas hoje o porco está trazendo prejuízo até na cultura da soja”.
O presidente do Sindicato Rural de Brasnorte pontua que é preciso alguma medida que “venha através de um órgão do governo que legalize o controle do porco selvagem”.
A apreensão observada em Brasnorte vem se alastrando por diversas regiões de Mato Grosso.
O produtor Antônio Fernandes de Mello comenta, em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, que no ano passado fez um cálculo aproximado e devido a presença dos porcos selvagens registrou em torno de 2% de perdas na soja e cerca de 5% no milho.
“Um estrago em que você está vendo o prejuízo e não tem como controlar. Você solta rojão e eles se acostumam. Aí não tem controle. Não podemos fazer a caça porque é proibido. A reprodução dele é alta por causa do alimento. Antigamente tinha pouco, porque não tinha alimento e hoje tem a lavoura onde ele se alimenta da soja e do milho. Na época da seca tem as pastagens que foram melhoradas. Então, o alimento está ali. O animal está mais saudável e a reprodução é maior”.
No município de Campos de Júlio estima-se que por ano mais de 500, 600 hectares sejam destruídos pelos ataques de porcos selvagens, comenta o presidente do Sindicato Rural do município, Rodrigo Cassol.
“Já está descontrolada essa população. Não tem predador suficiente. É bandos de 300, 400 porcos. Tem que ter algum tipo de controle. O alvo principal é o milho, mas hoje já tem relato de ataque na soja e até no algodão”, diz Rodrigo ao Canal Rural Mato Grosso.
Na região de Matupá a situação não é diferente, salienta o presidente do Sindicato Rural, Fernando Bertolin. “Em nossa região, como todos sabem, o nosso bioma é composto por uma diversidade muito grande de animais. Mas, os porcos em si têm se alastrado e aumentado em uma quantidade assustadora para os produtores causando danos irreversíveis nas lavouras”.
Aprosoja Mato Grosso adota monitoramento
O cenário visto pelas diversas regiões do estado também vem causando preocupação e deixa em alerta a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso). A entidade diante da situação adotou um sistema de monitoramento em pontos estratégicos para fornecer dados que possam ajudar na criação de um futuro sistema de controle populacional dos animais nas lavouras por órgãos responsáveis.
O diretor administrativo da entidade, Diego Francisco Bertuol, explica à reportagem do Canal Rural Mato Grosso que o monitoramento iniciou há algum tempo com o intuito de conseguir materiais com fotos geolocalizadas para mostrar o ataque dos porcos selvagens no milho e outras culturas.
“Após isso, a Aprosoja, junto com a sua comissão de sustentabilidade, fez a compra de mais de 100 câmeras que vão monitorar o dia a dia do ataque desses animais. Eles atacam outros animais, atacam filhotes, acabam com as nascentes de água trazendo problema e quando nós colocamos a plantação da cultura de milho vemos produtores deixando de plantar 10%, 15%, 20% da sua área para não ter essa perda, não ter o risco”.
Ainda conforme o diretor da Aprosoja Mato Grosso, “isso encarece muito mais o alimento. Esse é um grande problema que atinge não só o produtor, mas todo o social. Precisamos desses dados para embasar, para conseguir pautar os nossos deputados para fazer o controle de modo assertivo dessas espécies”.
Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso está sendo discutido o projeto de lei 551/2024 de autoria do deputado Gilberto Cattani (PL-MT), que prevê a autorização do controle populacional e o manejo sustentável do Javali europeu em todas as suas formas, linhagens, raças e diferentes graus de cruzamento no estado.
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