Após grandes desafios devido às altas temperaturas e a falta de umidade nas lavouras, os agricultores mato-grossenses estão preocupados com a migração do percevejo “barriga-verde” das lavouras de soja para as plantações de milho segunda safra. No médio-norte do estado, alguns produtores estimam perdas de até 30% na produção dos milharais.
Além das perdas em produtividade, a presença da praga tem elevado os custos de produção com a maior aplicação de defensivos que o programado para a safra.
A ameaça da produtividade do milho segunda safra, em razão dos aumentos dos insetos, é o tema do Patrulheiro Agro desta semana.
Em Nova Mutum, o agrônomo Cledson Guimarães, da Cowboy Consultoria, comenta que quando o agricultor pensa que controlou a infestação, na verdade, controlou só um fluxo dos insetos.
“Acredito que nessa pressão dos últimos dez dias, com o percevejo, o produtor não pode ficar sem olhar a lavoura. No máximo tem que ser de dois em dois dias. Se passar disso, ele vai ter uma perda grande e esse ano, o percevejo “barriga-verde” tem causado dor de cabeça”, explica.
Em uma propriedade no município, onde o agrônomo presta serviços de consultoria, foram cultivados cerca de 2,6 mil hectares de milho segunda safra e as perdas são significativas.
“Aqui a gente tem duas realidades: milho que está chegando em V4 e entrando para V5 e milho V2 entrando para V3. Aqui já levou em quatro aplicações. Vamos fazer a quinta aplicação e talvez a sexta. Nesta área, a perda já chega a 30% e estamos brigando para diminuir esse número, porque se descuidar chega a 100%”, pontua Cledson.
O presidente do Sindicato Rural de Nova Mutum, Paulo Zen, frisa que ainda é cedo para dizer que o percevejo fará tamanho estrago na produtividade. Entretanto, ao se olhar para o lado financeiro, o prejuízo já é visível. Isso porque as aplicações de defensivos estão sendo maiores do que as programadas.
O inseto de, aproximadamente, um centímetro utiliza a cobertura de restos culturais como abrigo para escapar da aplicação de defensivos. Isso dificulta o controle e favorece a proliferação da praga, que fica alojada à espera da germinação do milho.
“Em uma espiga você tem 80% de dano e quando faz a aplicação, muitas vezes não está no milho, o bicho está embaixo da palhada. Ele não precisa nem voar, já sai do buraco e vai picar uma planta novinha”, comenta Cledson.
Perdas chegam a até 80%
Em Lucas do Rio Verde, o agricultor Daniel Schwartz afirma que há três safras a sua propriedade registra forte pressão desses insetos. “Todo ano ela vem um pouquinho mais forte. Teve área de 100 pés que você conta e tem 80 pés picados… 80% de danos. É complicado e o percevejo “barriga-verde” se tornou a maior praga no milho”, frisa.
O agricultor repetiu a mesma área da última temporada e cultivou 500 hectares do cereal em Lucas do Rio Verde. Ele diz que houve um descontrole da praga e que é preciso focar em pesquisa para tentar ajudar o produtor.
“Isso aí onera o custo. Fica alto e o milho hoje está com uma tendência de baixa. As commodities estão pressionadas de um modo geral e o milho não é diferente e quanto mais aplicação você faz mais alto o custo fica, e tem o dano do percevejo ainda. Se deixar o percevejo “barriga-verde” sem controle não tem milho”, reitera.
El Niño influência na alta da população
A pesquisadora do setor de entomologia da Fundação Rio Verde, Jéssica Gorri, explica que o que tem acontecido na segunda safra de milho está relacionado com os efeitos do El Niño.
“O que acontece é que nessa safra a gente teve uma alta população do barriga verde já na soja. E por consequência do El Niño, da característica da praga, dos altos picos de temperatura, a gente teve essa população favorecida, reprodução mais ativa e a presença dele em um nível alto”.
Segundo a especialista, cada fêmea do percevejo “barriga-verde”, em uma temperatura ideal tem a capacidade de ovipositar de 15 a 20 ovos.
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