SITUAÇÃO PREOCUPANTE

Falta de mão de obra no campo em Mato Grosso encarece custos

Senar-MT reformula grade de cursos e treinamentos visando reduzir de maneira mais assertiva a escassez de profissionais qualificados no campo

Ano a ano a tecnologia embarcada nas máquinas se intensifica, tornando o campo mais eficiente. Entretanto, tal evolução gera uma preocupação crônica: a falta de mão de obra capacitada para extrair tudo o que as novas ferramentas são capazes de oferecer, o que acaba elevando ainda mais os custos das propriedades.

Em Jaciara, o produtor Alcindo Jorge Schinoca conta com uma equipe de 30 colaboradores (entre funcionários diretor e indiretos). Segundo ele, não é suficiente para atender a demanda.

“Se fosse para cumprir uma carga horária normal seria mais meia dúzia [de colaboradores]. Eu tenho dois filhos colhendo hoje, um neto no final de semana. Eu tenho aqui umas notas de prestação de serviço que o pessoal fez e são R$ 20 mil de mão de obra em um mês. Não tem. Não acha mão de obra. O que é bom segura”, pontua o produtor ao Canal Rural Mato Grosso.

Segurar na fazenda é a saída

Estratégia que mantém o José Elinaldo Dias Ferreira no quadro de colaboradores da fazenda há duas décadas.

“Me qualifiquei aqui na parte elétrica, ser classificador. Tem um monte de função que você pode exercer dentro da fazenda se precisar de você em algum momento”.

Outro funcionário que aproveitou a oportunidade para aprender a profissão e se estabilizar no emprego no campo foi o José Domingos de Oliveira, que há oito anos está na propriedade e hoje é diretor financeiro no local.

Conforme José Domingos, a experiência em trabalhar no campo foi algo novo para ele, principalmente pelo fato da agricultura e pecuária serem uma área de grande expansão.

“É tudo diferente. Melhorei o meu resultado com o aprendizado que tive com eles. Hoje para você trabalhar em uma propriedade igual à essa, a pessoa tem que ter conhecimento, ter estudo, tem que ter vontade de estudar, porque as máquinas são todas informatizadas. Todo produto você precisa ter reconhecimento, senão você vai fazer a coisa errada”.

Vaga há, mas faltam pessoas

O agricultor Jefferson Schinoca frisa, ao Canal Rural Mato Grosso, que “para pecuária, para agricultura, para floresta tudo a gente tem vaga. Só falta a pessoa capacitada para isso”.

O vice-presidente na região sul da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Jorge Diego Giacomeli, classifica a situação da falta de mão de obra no campo como “gravíssima”, pois a evolução tecnológica no campo “veio em uma constante muito rápida, muito alta e a mão de obra não acompanhou”.

“Os profissionais de uma idade um pouco mais avançada já estão se retirando do campo, não acompanham essa tecnologia. E a reposição dessa mão de obra de jovens que têm um conhecimento melhor, principalmente de tecnologia, eles não estão sendo motivados a vir para o campo”, diz Jorge Diego.

Ainda conforme o vice-presidente região sul da Aprosoja-MT, muitos jovens até possuem vontade de atuar no campo, no entanto “não encontram a capacitação nas cidades ou centros técnicos para eles vir preparados para trabalhar”.

Senar-MT amplia carga horária de treinamentos

Para tentar suprir a carência e elevar o nível de capacitação de mão-de-obra no campo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) reciclou parte dos 500 cursos do seu portfólio e aumentou a quantidade de horas dos treinamentos.

A meta, salienta o superintendente da Instituição, José Luiz Fidelis, é intensificar o ensino e qualificar de forma mais assertiva os profissionais.

“Nós diminuímos isso. Hoje são 170, 180 cursos para você fazer a questão do aperfeiçoamento. Mas, a qualificação, esse que nós estamos moldando agora, onde teremos cinco cursos a partir de junho, esses é que vão fazer a diferença. Sai de 30, 40 horas para 200, 260, 300 horas”.

José Luiz Fidelis explica, à reportagem do Canal Rural Mato Grosso, que primeiramente o candidato fará um treinamento de 100 a 120 horas, aproximadamente, para averiguar a sua aptidão e se possui mesmo intensão em ingressar no mercado de trabalho do agro.

“Depois ele vai se deslocar até o nosso centro de treinamento, em Campo Novo do Parecis, Rondonópolis e Sorriso, para fazer o restante das horas na prática propriamente dito”.

Na avaliação do superintendente do Senar-MT, os salários elevados, que costumam ser pagos para os colaboradores mais qualificados, também podem servir de estimulo para atrair novos profissionais que queiram ocupar cargos oferecidos no campo.

“E colocar na cabeça deles que hoje é interessante, principalmente por causa dos maquinários com a tecnologia embarcada, que tem a faixa salarial muito mais interessante do que certos serviços que ele encontra nas sedes do município”.


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