SUSTENTABILIDADE

Produtores de algodão discutem Caminho Verde e pedem revisão do preço mínimo durante reunião em Cuiabá

Em encontro na Ampa, em Cuiabá, o Ministério da Agricultura apresentou o programa Caminho Verde e discutiu com produtores temas ligados à sustentabilidade e ao setor do algodão.

Foto: Israel Baumann
Foto: Israel Baumann

Em reunião realizada nesta quarta-feira (5), na sede da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou o Programa Caminho Verde Brasil, que prevê a recuperação de até 40 milhões de hectares de áreas degradadas em um período de dez anos.

O encontro, conduzido pelo assessor especial do Mapa, Carlos Augustin, reuniu a diretoria da Ampa e teve caráter técnico, com foco em discutir incentivos à produção sustentável, oportunidades de investimento e gargalos enfrentados pelo setor algodoeiro.

O assessor do Mapa apresentou o Caminho Verde Brasil como uma iniciativa voltada à sustentabilidade e produtividade rural, oferecendo linhas de crédito com juros mais atrativos a produtores que aderirem a compromissos ambientais, como desmatamento zero pelo período de vigência do projeto e balanço de carbono. Segundo Augustin, o programa já dispõe de R$ 30 bilhões em recursos, com negociações em andamento para captar mais R$ 10 bilhões junto ao governo japonês.

“Está tudo pronto, os R$ 30 bilhões iniciais já estão disponíveis. Os agricultores já podem procurar os bancos comuns do crédito rural. Para o ano que vem já temos dinheiro farto para essa atividade”, destaca Augustin em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso.

O objetivo do programa, segundo o Mapa, é fomentar práticas agrícolas sustentáveis, apoiar a transição energética e contribuir para que o país cumpra suas metas climáticas, em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Durante a reunião, diretores da Ampa destacaram que grande parte das áreas degradadas em regiões com boa infraestrutura já estão sendo utilizadas em Mato Grosso. Apesar disso, a entidade destaca que as áreas de pastagem degradadas são um problema para o meio ambiente e que o projeto é bom, porém será necessário cautela e uma revisão do prazo definido para sua implementação.

Além disso, o presidente da Ampa, Orcival Gouveia Guimarães, ressaltou a importância de investimentos em logística para estimular a viabilidade de recuperação de terras em regiões que não dispõem de infraestrutura.

“É uma inciativa muito boa, porém precisamos de mais, principalmente infraestrutura. Transformar pastagens degradadas de forma muito rápida pode gerar vários tipos de problemas que nós já temos, como a falta de estrada nesses lugares mais distantes”, alerta.

Produtores pedem revisão do preço mínimo do algodão

Além da pauta ambiental, a reunião abordou preocupações econômicas imediatas do setor. A poucos meses do início da nova safra, os produtores manifestaram preocupação com a queda no preço do produto, que atualmente está abaixo do preço mínimo estabelecido pelo governo federal.

Os dirigentes da Ampa pontuaram ao representante do Ministério a relevância de que seja retomada a discussão sobre o preço mínimo do produto, importante para momentos em que haja necessidade de utilização de mecanismos de apoio, como leilões públicos de escoamento.

Atualmente, o preço mínimo da pluma é de R$ 114,58/@, enquanto o algodão em caroço está cotado a R$ 45,83/@ e o valor do caroço de algodão é de R$ 6,73/@ para o ciclo 2025/26.

“Iniciar um plantio com esse preço atual é totalmente inviável. Nas minhas contas, não fecha, soja e milho está melhor do que o algodão […]. A gente precisa criar políticas para elevar um pouco o preço mínimo”, destaca o presidente.

Ainda segundo a associação, há uma tendência de redução da área plantada na próxima safra. Orcival estimou que ele e parte dos produtores devem reduzir a área de cultivo de algodão em cerca de 10%, diante da inviabilidade financeira atual.

Outras pautas: crédito, armazenagem e Angola

Durante a reunião, o representante do Mapa também mencionou novas possibilidades de investimento, como a ampliação do Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), atualmente dotado de R$ 8 bilhões ao ano. O governo busca duplicar esse montante com apoio do Banco Mundial, a fim de atender melhor à demanda dos produtores.

Outro ponto apresentado foi a parceria entre o governo brasileiro e Angola para estimular o cultivo agrícola no país africano, por meio de investimentos conjuntos de produtores brasileiros e do banco angolano de fomento.

“O Brasil e a Angola tem muito em comum, mesma língua, mesma topografia, mesmo cerrado, então para um agricultor brasileiro ir lá e plantar é muito simples, porém para eles [angolanos] é complicado. Lá tem deficiência de tudo, industrialização, semente, comércio, venda de máquinas. Então é uma grande oportunidade de negócios com a África e a Angola é a porta de entrada”, afirmou o assessor especial do Mapa.

O Ministério da Agricultura deve seguir com as apresentações do Caminho Verde Brasil em outros estados, buscando adesão gradual dos produtores rurais ao programa.


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