Nos últimos dois meses o preço da pluma disponível recuou quase 30% em Mato Grosso. A situação tem levado cotonicultores a repensar o investimento na cultura na safra 2022/23, uma vez que os preços futuros também estão em queda.
Segundo especialistas, um dos reflexos para o recuo dos preços está a adoção de mais cautela na hora de negociar a produção que será colhida somente no ano que vem.
“O mercado estava se mostrando muito bem após eleição, mas acabou derretendo um pouco, por conta de instabilidade. A gente tem muito pouco vendido, somente algumas coisas em barter“, comenta Dirceu Mendes, diretor comercial do Grupo Princesa, em Campo Verde.
O Grupo Princesa deve semear na safra 2022/23 cerca de 3,7 mil hectares de algodão. “Acreditamos que em um momento de crise é melhor ficar com o produto do que com o dinheiro. O dinheiro se desvaloriza e o produto se mantém no mínimo no mesmo preço, então a ressaca da pandemia estamos recebendo agora, mas o mercado já está se mostrando com uma alta voracidade no consumo de algodão então nós vemos bons preços para o futuro”, completa Mendes.
Foco nas vendas da pluma da safra 2021/22
A cotação da pluma abaixo do esperado também frustrou a expectativa de comercialização antecipada de produtores em Jaciara. De acordo com o gerente técnico da Fazenda Santo Expedito, Luis Antônio Huber, o foco agora está nas vendas de cerca de 40% da produção colhida na safra 2021/22 que ainda está guardada no pátio da propriedade.
“O preço deu uma caída, o mercado futuro deu uma esfriada e acabamos não vendendo nada até agora. Teria que trabalhar na casa dos US$ 32, US$ 33 a arroba do algodão para ficar bom pra nós. Hoje está de US$ 27 para baixo. E, está em US$ 27, US$ 28 dólares o custo do algodão”, diz Huber.
Área destinada ao algodão 2022/23 pode recuar
O desequilíbrio dos preços pode influenciar no tamanho da área a ser cultivada no ciclo 2022/23, mesmo com 60% das sementes já compradas. Caso os preços não se tornem favoráveis para a pluma até o início do plantio, a cultura pode perder espaço na próxima safra.
“Nós temos a área futura planejada na mesma área, mas se o preço não melhorar nós vamos migrar uma parte dessa área para o milho. A cultura do algodão é uma cultura com alto investimento e alto risco. Se o preço não melhorar, não tem como plantar. O custo é muito elevado e não compensa”, salienta Huber.
Conforme o diretor executivo do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), Álvaro Salles, os cotonicultores no estado de fato estão preocupados, em especial aquele que não conseguiu plantar a soja como desejado.
“Aquele produtor que vai plantar só o algodão, por exemplo, que não conseguiu plantar soja, ele realmente está muito preocupado porque a conta está praticamente zero a zero. E, se em determinadas condições ele tiver grande investimento e correção de solo, talvez ele fique até no negativo. É muito caro. Só de royalties é US$ 180, US$200, US$ 240 dólares por hectare”, frisa Salles.
Milho é visto como principal concorrente
Álvaro Salles revela não acreditar em uma mudança imediata no mercado da pluma. Ele aponta o milho como principal concorrente da cultura na próxima temporada.
“Os sinais de mercado estão para os preços continuarem pressionados em função, principalmente, da economia mundial. Agora pode haver uma falta e determinados tipos de algodão serem melhores negócios, mas eu acredito que não e o algodão vai se manter nos patamares que está atualmente. Então, quem queria plantar algodão e não deu, vai para o milho. Além do custo de produção ser um pouco mais baixo, ele vai ter uma chance de colher uma safra regular”.
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