O atual cenário do mercado do algodão, assim como soja e milho, é considerado preocupante pelo setor da fibra. Além de um mercado menos comprador e preços em baixa, o alto custo de produção é outro ponto. Na avaliação do ex-ministro da Agricultura e acionista da Amaggi, Blairo Maggi, “é hora de o produtor parar, pensar e se preciso reduzir área”.
“É chegada a hora de nós produtores de algodão olharmos com calma para o mercado. As contas não estão boas. É o momento de pensar. Não é o momento de aumentar a área. Nós da Amaggi vamos reduzir área”, declarou Blairo Maggi, no 14º Congresso Brasileiro do Algodão, que ocorre nesta semana em Fortaleza (CE).
De família que migrou do Rio Grande do Sul para o Paraná, sem conhecer nada daquele estado, Blairo Maggi afirma que chegou em Mato Grosso nos idos dos anos 1970/1980 com um sonho e que viu, assim como muitos sulistas, o estado se transformar na potência que é hoje, sendo responsável por mais de 100 milhões de toneladas da produção nacional (entre grãos e fibra).
“Espero que nossos descendentes continuem o que eu e todos aqueles que foram nos idos dos anos 1970/1980”, disse no painel “Décadas de desafios e oportunidades: O protagonismo do algodão brasileiro na visão dos grupos agrícolas nacionais”.
Maior desafio do algodão não é mão de obra
Um dos maiores desafios do setor produtivo brasileiro para o sócio proprietário do Grupo Horita, Walter Horita, além dos altos custos e preços, é quanto “a olhar por detrás da cortina da Europa e entender o que eles querem”.
“Os desafios são as barreiras. A real motivação desses países em atacar o nosso modelo de produção. Precisamos entender isso. A FAO declara que até 2050 teremos mais de 10 bilhões de habitantes no mundo e que o Brasil será responsável por atender 40% da demanda de alimentos. Com tantas forças contrárias me preocupa não conseguirmos”.
O diretor presidente da SLC, Aurélio Pavinato, salientou que “o tema ambiental, político europeu é complexo”.
“O desafio climático é novo e é o único desafio que deveria unir todos, porque o planeta é um só. O aquecimento global ocorre para todos. Mas, cada país tem a sua preocupação. Precisamos fazer o nosso marketing de país sustentável e, talvez, fazer a Europa rever suas políticas”.
O Grupo Scheffer é um dos exemplos quando o assunto é agricultura regenerativa. Conforme o diretor do Grupo, Guilherme Scheffer, apesar de todo o trabalho desenvolvido pelo produtor rural “precisamos trabalhar como cadeia e mudar a imagem do Brasil”.
Guilherme Scheffer comentou durante o painel ter ouvido de uma marca de roupas que “o algodão brasileiro é o mais sustentável do mundo, porém pela situação da Amazônia não iriam comprar”.
“As marcas falam que temos o algodão mais sustentável, mas as falas sobre o Brasil e a Amazônia travam o avanço de mercados em adquirir nosso produto”.
Algodão é prova do que é ser líder
O painel foi moderado pelo também ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e, de acordo com ele, o trabalho desenvolvido pela Associação dos Produtores de Algodão (Abrapa) mostra o que é ser líder. E, a organização do setor da cotonicultura é a prova disso.
“Estamos vivendo uma falta de protagonismo das instituições globais. ONU e FAO não possuem líder. Vemos uma desordem global. A Rússia invade a Ucrânia e ninguém faz nada, por exemplo”.
Vice-presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa), Carlos Alberto Moresco, frisou que o associativismo é de suma importância e que muitos mercados, à exemplo dos governos da Ásia, olham muito para isso na hora de negociar. Mas, ainda há muito para ser feito e melhorado.
“Eu vejo para o futuro que temos muito trabalho para fazer. Não estamos fazendo a lição de casa direito. Muitos programas foram criados, mas não são seguidos pelos produtores. A associação serve para fortalecer a cadeia e dar um norte. Precisamos engajar mais pessoas sobre a importância da associação”.
*A reportagem do Canal Rural Mato Grosso viajou para o Congresso Brasileiro do Algodão a convite da Basf.
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