O plantio da soja em Mato Grosso avança sob forte pressão. Atraso histórico na semeadura, falta de regularidade das chuvas e mercado desfavorável elevam o risco para os produtores, que enfrentam uma das safras mais desafiadoras dos últimos anos.
Em regiões que tradicionalmente encerram o plantio ainda em outubro, muitas áreas seguem esperando chuva para avançar. O cenário gera apreensão principalmente entre agricultores que dependem de produtividade para fechar as contas.
Em Campo Verde, o presidente do Sindicato Rural, Alexandre Schenkel, relata que a interrupção das chuvas comprometeu o início da safra. “As chuvas que deram depois que iniciou o plantio não deram sequência, então acabou atrapalhando a instalação dessa lavoura, o estande dessas lavouras, principalmente as bordaduras”, conta ao Canal Rural Mato Grosso. Ele observa que áreas mais arenosas e recentes acabaram avançando para novembro, em um ritmo bem diferente do esperado.
Atraso e preocupação com produtividade
Schenkel explica que parte dos produtores já avalia como o atraso pode refletir na produtividade. “Tem alguns materiais que se comportam mais, produzem mais você plantando ali no mês de outubro, então pode ser que esse atraso no plantio retorne em produtividade”, afirma. A preocupação aumenta com a possível entrada da segunda safra em uma janela tardia, levando alguns agricultores a optarem por cultivares de ciclo mais precoce.

A percepção é semelhante em Canarana. De acordo com o presidente do Sindicato Rural do município, Lino Costa, cada dia perdido pesa. “Cada dia que passa de agora para frente não é a mesma produtividade de você plantar em uma janela bem ideal do plantio da soja”.
Em Diamantino, o atraso é ainda mais visível. O presidente do Sindicato Rural, Altemar Kroling, resume o momento: “Temos quase 60 dias que iniciou o plantio e ele não foi finalizado ainda”. Questionado sobre o tamanho do atraso, ele é direto: “Bem atrasado, e o produtor voltou a plantar, vai esperar para ver se vai precisar fazer algum replantio em alguma área, mas é um ano bem atípico”.
Mercado travado e margem apertada
Além do clima, o produtor mato-grossense enfrenta dificuldades para comercializar a safra. Com preços estagnados e custos elevados, muitos optam por aguardar melhores oportunidades de venda.
Kroling avalia que o momento é de cautela. “O produtor queria estar com uma condição melhor de travamento, então está esperando a finalização da safra americana para voltar ao mercado e fazer novas vendas para cobrir o custo de produção”. Ele calcula que, com a saca hoje em torno de US$ 20 na sua região, qualquer reação poderia mudar o cenário: “Acredito que se viesse subir uns US$ 3 a saca mudaria bem o cenário para o produtor”, diz ao Canal Rural Mato Grosso.

Em Campo Verde, Schenkel reforça que o desafio é equilibrar eficiência e custos. “O produtor está buscando reduzir custos, está procurando ser eficiente reduzindo custos mas mantendo o mínimo de tecnologia para que tenha eficiência e produtividade”, relata. Segundo ele, o preço ideal precisaria estar acima de US$ 21 por saca para garantir viabilidade. Em reais, ele aponta que vendas acima de R$ 120 seriam necessárias para cobrir despesas essenciais como diesel, funcionários e seguros.
O dirigente também lembra que os custos da segunda safra já começaram, mesmo sem definição clara sobre o desempenho da soja. “Já tivemos que comprar adubo, fertilizantes, sementes de milho, sementes de algodão. Essas despesas já estão ocorrendo, e dependemos de chuvas para ter produtividade que pague essas despesas”.
Comercialização lenta e expectativa de reação
Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontam avanço modesto nas vendas. A comercialização da safra 2024/25 de soja atingiu 97,12% em outubro, aumento de apenas 1,42 ponto percentual no mês. Já a 2025/26 segue mais lenta: apenas 36,08% foram vendidos, ritmo abaixo do registrado no ano passado e inferior à média dos últimos cinco anos.
Em Água Boa, o presidente do Sindicato Rural, Geraldo Antônio Delai, afirma que o produtor não vê estímulos suficientes para negociar. “Nós estamos no fundo do poço dos preços da soja, e ela não tem reagido assim substancialmente para que estimulem o produtor a vender”, diz. Conforme ele, há cautela, mas também consciência dos riscos: “A gente não pode ficar esperando para vender na boca da colheita, porque também a gente pode ter problemas piores”.
Delai acredita que, com o baixo aumento de área plantada no país, os preços podem reagir. “O que a gente acredita, fazendo uma análise histórica, é que como os aumentos de áreas deste ano foram muito pequenos, nós teremos preços um pouco melhores de agora para frente”.
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