A safra 2025/26 começa em Mato Grosso sob forte tensão. A falta de crédito, somada às altas taxas de juros e à desvalorização das commodities, tem colocado o produtor rural em uma posição delicada. Em meio às incertezas, quem vive da terra tenta equilibrar contas e expectativas para garantir o plantio e continuar na atividade.
Em Primavera do Leste, o agricultor Ari José Ferrari se prepara para semear 2,4 mil hectares de soja. Cauteloso, ele calcula cada passo antes de colocar as plantadeiras no campo. “Teria que chover uns 80 milímetros. Hoje está acumulado em uns talhões 10, outros 14. Todas as plantadeiras estão engatadas esperando a chuva. Não dá pra arriscar, o lucro é pequeno”, relata ele que já comercializou 3% da produção de soja.
Juros altos e margem curta
Além da espera pelo clima ideal, o produtor enfrenta o peso dos financiamentos feitos em tempos mais favoráveis. “Quando nós compramos esse maquinário, estávamos vendendo soja a R$ 160. Hoje está a R$ 110. O milho estava a R$ 80, agora vendendo a R$ 45. Dá quase metade do valor”, lamenta Ari.
Ele lembra que ainda há parcelas de máquinas a vencer e que qualquer imprevisto pode comprometer toda a rentabilidade. “A média nossa de colheita é de 60 sacas por hectare, mas não pode acontecer nada de errado. Qualquer pouco que der a menos, a gente já entra no vermelho”.

O aperto financeiro atinge também quem fornece insumos e equipamentos. Segundo Marcelo Cunha, tesoureiro do Conselho Estadual das Associações das Revendas de Produtos Agropecuários (Cearpa), a escassez de recursos trava o abastecimento. “O produtor pegar dinheiro em banco ou cooperativa ficou difícil. Esses recursos estão escassos, então está estrangulando o crédito. Pendeu a balança para a indústria e para as revendas, mas é limitado esse crédito que nós temos”.
A avaliação é reforçada pelo produtor Rui Prado, que vê nos juros um risco para o futuro do campo. “Hoje os juros dos bancos estão em 15, 16, 17, até 20%. Isso é inviável. O que vai acontecer em um futuro muito próximo é que os bancos vão ficar proprietários das terras dos produtores. O dinheiro está sendo canalizado da produção para o sistema financeiro. Os bancos estão ficando cada vez mais ricos, e os produtores cada vez mais pobres”, critica.
União para resistir
Diante de custos elevados e margens apertadas, a busca por soluções conjuntas tem ganhado espaço entre os agricultores. A compra coletiva surge como principal estratégia para equilibrar despesas e garantir competitividade.
Para o presidente da Cooprosoja, Fernando Cadore, o cooperativismo é o caminho para manter o produtor ativo. “Esse é o escopo que pode trazer viabilidade, principalmente em um estado com discrepâncias enormes como o nosso. Quem não se unir em coletividade, muito provavelmente, está fadado a ser absorvido pelos grupos que compram em volume e escala”.
Com pouco mais de dois anos de fundação, a Cooprosoja reúne mais de 1,3 mil produtores e atua em 86 municípios, somando quase três milhões de hectares. O foco, conforme Cadore, é dar poder de negociação ao agricultor. “A grande formatação é simples: equidade de volume é igual a equidade de preço. Todo o setor junto, em volume, tem diferença de precificação. É isso que buscamos — benefícios em comum que se transformam, no final das contas, em renda para as famílias e na manutenção delas no campo”.
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