Na MT-140, estrada estratégica para o agronegócio, a poeira do chão batido e os buracos do asfalto novo revelam um retrato de frustração: prejuízos, insegurança e risco para quem produz e transporta.
A rodovia liga fazendas a cidades e movimenta grãos, madeira e animais. Mas, entre trechos de chão batido e outros recém-asfaltados, segue como um desafio diário para produtores e motoristas: altos custos, espera e perdas que atravessam gerações.
O pecuarista Hugo Barth Fernandes de Paiva lembra que a promessa do asfalto é antiga. “Desde menino eu andava nessa estrada e o mesmo problema, meu avô já fala do problema desde muito antes. Tem que sair do papel, às vezes faz reunião, põe no papel e não vai pra frente”.
Ele afirma que as condições da estrada prejudicam tanto o bem-estar animal quanto o bolso do produtor. “Na seca a estrada está muito ruim, e nas águas caminhão não consegue chegar na propriedade. Hoje os frigoríficos cobram quando o animal chega com hematomas, mesmo que dentro da fazenda o manejo seja correto”.

Impactos no campo e no transporte
A rotina também pesa para os caminhoneiros. Juliano Fernandes dos Santos conta que há trechos em que a viagem se torna interminável. “Às vezes demora uma hora e quarenta para fazer 25 quilômetros, se fosse uma estrada com asfalto faria em vinte minutos. Tem um pedaço que só passa um veículo, não passa dois”.
O subgerente da Girassol Agrícola, Francisco Jesus Ferreira Júnior, reforça o cenário de atoleiros e buracos. “No escoamento da soja dá muito atoleiro, é uma estrada muito difícil. Nosso grupo aqui tenta deixar o melhor nesta estrada, e acaba ficando bem caro essa manutenção para a gente. Se a gente não tomar essa atitude de arrumar, ninguém passa”.
Prejuízos também chegam rápido ao bolso de quem vive do transporte. O caminhoneiro Roberto Pereira da Silva relatou durante a gravação da reportagem do Canal Rural Mato Grosso: “Acabei quebrando a mola mestre dianteira, e a frente do caminhão também foi embora. Só a mola, R$ 900, mais a mão de obra em torno de R$ 1,5mil, fora a frente que vai ter que mexer. O restinho do frete já vai ficar tudo aí”.
O colega de profissão, Lucas Monteiro Santana, resume: “O caminhão anda quebrando demais, para nós está sendo difícil, não tem jeito. O frete já está meio barato e a estrada ruim”.
Perda de competitividade
Além dos custos diretos, a logística ruim impacta a competitividade. O agricultor Alberto Chiapinotto afirma que a margem de lucro cai com a situação. Segundo ele, a diferença chega a 12% em relação a regiões com infraestrutura mais eficiente.
“Praticamente o lucro fica todo no transporte, ou até mesmo na hora da colheita, na perda do grão na lavoura, porque o caminhão não chega a tempo. Começa a apodrecer a cultura, ou o grão, que não consegue tirar porque o caminhão não volta em tempo para atender a nova demanda”, relatou.
Estrada nova, problemas antigos
No trecho asfaltado, a expectativa de solução também se frustrou. Entregue há pouco mais de um ano, a obra já apresenta buracos e riscos constantes de acidentes.
O caminhoneiro Valdecir de Oliveira testemunha o perigo diário. “Qualquer descuido é acidente, um em cima do outro. É caminhão fora da pista, carro pequeno batido, pneu estourado”.
O diretor da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Jorge Diego Giacomelli, destaca avanços na gestão estadual, mas cobra qualidade e fiscalização. “Eles dobraram a malha viária asfaltada no estado, isso foi muito bom para a produção. Mas vemos que existe diferença de qualidade de serviço de uma empreiteira para outra. Aqui na MT-140, em 160 quilômetros foram três ou quatro empreiteiras, nenhum lugar é igual ao outro, tem lugares melhores e outros que estouraram com três, quatro meses. Esses contratos deveriam exigir garantia de obra”.
Com a chegada das chuvas e o início do plantio, a preocupação aumenta. “Daqui a pouco em janeiro estamos com colheita, provavelmente a rodovia vai estar pior. Daqui para colheita vai piorar”, avalia Giacomelli.
Ele reforça que o impacto vai além da produção. “Tem carga que tomba, animais que sofrem e famílias que estão trafegando e correndo risco. Eu mesmo evito trazer minha filha pequena comigo para a fazenda porque a rodovia oferece muito risco. Se fizermos uma avaliação desse trecho pavimentado, tem problema desde Nova Brasilândia até Santa Rita do Trivelato, está praticamente intrafegável”.
O diretor da Aprosoja-MT frisa que “hoje o ideal seria remover boa parte desse pavimento e fazer novo, porque o que foi feito aqui está muito ruim. Esse tapa-buraco não resolve. O Fethab foi aplicado em infraestrutura, isso é um ponto positivo, mas precisamos de qualidade e fiscalização”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT), informou à reportagem que “firmou convênio com o Cidesasul, consórcio intermunicipal da região, para manutenção de trechos não pavimentados das MTs 140, 373, 040, 469, 460 e 454, em Juscimeira”.
A pasta de infraestrutura do estado pontuou ainda que “em relação ao trecho pavimentado da MT-140, a secretaria informou que assinou ordem de serviço para aplicação de microrrevestimento em 197 quilômetros, entre Planalto da Serra e Nova Ubiratã”.
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