MAIS MILHO

Mato Grosso deve colher 54 mi/t de milho; falta de armazéns e preço em queda preocupam

Os números são resultado da última etapa do projeto Imea em Campo, que percorreu cerca de 19 mil quilômetros em Mato Grosso

Mato Grosso deve colher uma das maiores safras de milho da história: 54 milhões de toneladas. É o que aponta a nova estimativa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Mesmo sendo uma boa notícia, o setor produtivo segue apreensivo quanto à rentabilidade, pressionada pela falta de armazenagem e queda no preço do grão.

A colheita do cereal segue em andamento, tendo alcançado na última sexta-feira (4) 40,20% da área semeada, como destacado pelo Canal Rural Mato Grosso. Apesar do avanço semanal de 13,21 pontos percentuais, este foi insuficiente para alcançar os 76,28% da área colhida na safra 2023/24 no mesmo período analisado, assim como a média histórica de 59,36%.

Em partes das regiões, o excesso de chuvas durante o ciclo atrasou o cronograma e, por isso, máquinas ainda são vistas em campo.

“Choveu bem. Raras regiões tiveram problemas, a não ser um ataque de lagartas, principalmente, no início. Mas, transcorreu muito bem. Então, as produtividades estão muito boas em relação ao que o produtor estava acostumado nas primeiras áreas. A diferença só é as áreas plantadas por último nas áreas marginais em que vamos ter uma produção maior do que no ano passado e outros anos”, pontua o vice-presidente Oeste da Aprosoja Mato Grosso, Gilson Antunes de Melo.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Chuva ajuda na produtividade

Ao mesmo tempo em que a chuva atrasou os trabalhos em campo, ela beneficiou as lavouras. De acordo com o Imea, o resultado é histórico com rendimento acima do esperado.

“O estado produziu nesta temporada na safra de milho 126,25 sacas por hectare. Um recorde de produtividade. Um incremento de mais de 7% em relação a nossa última estimativa, a qual já estávamos trazendo um recorde na produtividade aqui no estado, e uma produção que deverá alcançar 54 milhões de toneladas, mais de 14% em relação à safra passada”, comenta à reportagem o superintendente do Imea, Cleiton Gauer.

Os números da temporada 2024/25 de milho segunda safra em Mato Grosso foram constatados com a conclusão do projeto Imea em Campo. Foram 36 dias percorrendo cerca de 19 mil quilômetros dentro do estado e coletadas 538 avaliações em 82 municípios.

A comitiva cruzou o estado para colocar lupa na produtividade e trazer precisão cirúrgica às estimativas.

“Foi uma rodada de campo bastante completa. Vimos cenários distintos. Algumas regiões com o potencial muito positivo e outras com o estado bem aquém do que já vimos em anos anterior”, relata o analista do Imea, Henrique Schaff Eggers.

De acordo com o analista, as regiões médio-norte, oeste e sudeste são as que possuem o maior destaque positivo em relação à produtividade de milho nesta safra. Contudo, ao se analisar as regiões norte e nordeste estas apresentam resultados aquém do desejado.

“As chuvas foram bastante positivas em alguns fatores. No entanto, atrasaram alguns plantios. Teve questões de chuvas até na colheita, o que atrasou um pouco mais o andamento. Mas, em contrapartida, elas foram muito positivas em relação ao peso dos grãos. Nós temos um ano com os pesos dos grãos nunca vistos em anos anteriores”.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Armazéns lotados e preço do milho em queda

Só que a promessa de uma safra cheia também acende um sinal de alerta, segundo especialistas e produtores, para dois fatores: a falta de armazenagem e a desvalorização do grão. Um cenário que pressiona o agricultor e já preocupa em relação ao próximo ciclo da cultura.

Conforme o vice-presidente Oeste da Aprosoja Mato Grosso, Gilson Antunes de Melo, para cobrir o custo o produtor precisa de aproximadamente de 117 a 20 sacas de milho.

“Quem conseguir armazenar e conseguir vender mais no final do ano, começo do ano que vem, vai conseguir alguma coisa. Mato Grosso é deficitário. O Brasil é deficitário de armazenagem. E, se essa safra se concluir do jeito que está indo, vai faltar muito armazém. Vamos ter novamente os caminhões nas estradas armazenando a nossa safra até os portos”.

O vice-presidente Oeste da Aprosoja Mato Grosso salienta ainda que a deficiência de espaço para armazenar o cereal impacta ainda mais na comercialização, “porque o preço baixa”.

“O produtor que está sem armazém é obrigado a vender agora. Ele está totalmente sem margem no milho e o produtor quando tem menos dinheiro no bolso ele retira investimentos e, consequentemente, há diminuição de produção e mais refém do clima”.

Ainda conforme Gilson, diante da situação com o milho os produtores podem migrar para outras culturas que exigem menos investimentos, como o sorgo.

Até o momento, Mato Grosso já comercializou cerca de 50% da safra de milho, segundo o superintendente do Imea, Cleiton Gauer.

“O desafio não é só nesta temporada, mas na próxima. O produtor está finalizando, mas de olho na safra que vai começar em setembro e também na safra de milho que vai começar no próximo ano”.

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Foto: Leandro Balbino/Canal Rural Mato Grosso

Cadeia da carne sente reflexo do milho

E, o reflexo dessa incerteza com a próxima temporada cruza a porteira. Na cadeia da carne, que tem o milho como principal ingrediente da ração, cada saca produzida a menos no campo pode custar mais caro no cocho.

Na avaliação do médico veterinário da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Júnior César Santos, estudos como o Imea em Campo fazem toda a diferença na cadeia produtiva da proteína animal.

“O custo de produção da suinocultura está totalmente alinhado com a alimentação e o milho representa bastante. E, se tivermos uma redução nessas áreas plantadas podemos ter uma diminuição na oferta do milho e isso pode elevar o nosso custo de produção”.

Na bovinocultura a realidade da produção tem mudado gradativamente com uma maior presença dos grãos na alimentação dos animais, salienta o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi.

“Hoje já temos além dos confinamentos, que chegam a 15% da nossa engorda de bovinos, a terminação intensiva a pasto e a recria intensiva a pasto, e alguns projetos na cria intensiva a posto, dependente de grãos. Então, acaba sendo um dos insumos muito importante para a cadeia. E, ela é impactada cada vez que você tem um decréscimo na produção, cada vez que você tem um impacto do mercado internacional, a questão das guerras, da nossa instabilidade na recepção de fertilizantes que serão utilizados nas lavouras. Tudo isso acaba impactando o nosso custo de produção também”.

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