Após lecionar por quase 15 anos e morar por mais de uma década no Japão, uma ex-professora em Mato Grosso encontrou no campo uma nova fonte de renda. Entre a produção de queijos artesanais e embutidos derivados da carne suína, a busca por novos conhecimentos está sempre no radar.
É na comunidade rural São Francisco, em Jaciara, que fica o Sítio Sanpei. É na propriedade com pouco menos de sete hectares que a dona Alzira Alves Cardoso vive uma rotina bem diferente da que teve durante muito tempo.
O local foi adquirido em 2013, mas foi só a partir de 2020 que a dona Alzira e o esposo se mudaram em definitivo para o sítio.
Professora, Alzira e o marido se mudaram para o Japão em 1997. Por lá, viveram durante 11 anos, onde trabalharam em diversas fábricas, desde componentes eletrônicos para celular e máquinas fotográficas até de fabricação de peças para fogões, computadores e carros.
“Fizemos um capital e voltamos para o Brasil e aí retornei para a sala de aula. Trabalhei até 2019, quando tive problema de saúde, problema no meu joelho. Foi quando eu resolvi vir para o sítio”, conta dona Alzira ao programa Senar Transforma desta semana.
Desde que chegou no sítio, dona Alzira recorda que começou a buscar algo para fazer. Além da produção de pães e bolachas, aos poucos o casal deu início à criação de suínos, galinha, pato e esse ano inseriram a criação de peixes.
Outra atividade desenvolvida na propriedade é o turismo rural, onde recebem pessoas para o café da manhã, almoço e trilha.
Conhecimento é tudo na vida do ser humano
Dos momentos vividos em sala de aula e do outro lado do mundo, a dona Alzira guarda mais do que as lembranças registradas em fotos. Ela mantém na memória a convicção de que nunca é tarde para aprender algo novo.
“Até hoje, às vezes eu fico em casa fazendo cursinho online. O conhecimento acho que é tudo na vida do ser humano. A pessoa sem conhecimento não é nada. Então, por isso, que nunca é tarde para você sempre estar buscando conhecimento”.
E a ex-professora que passou parte da vida ensinando, também dá exemplo quando vira aluna. Ao descobrir as portas abertas do Senar Mato Grosso para quem busca novos conhecimentos, não pensou duas vezes: marcou presença em todos os cursos e treinamentos que couberam em sua agenda.
“Fizemos queijo, requeijão, doces, conservas e licor. Meu Deus! Já fiz mais de 20 cursos. Eu até me perco”, diz entre risos.
Questionada sobre o motivo de ter feito tantos cursos ofertados pelo Senar Mato Grosso, a produtora é enfática ao responder: “Eu sempre gostei de cozinhar. Então, em cada um vou procurando me aperfeiçoar em mais de uma coisa, porque eu tenho os meus clientes e a gente fica satisfeito quando leva e vê que o cliente gostou. Então, cada vez mais quero me aperfeiçoar”.
O aprendizado que vai até o produtor
Para dona Alzira, o trabalho do Senar Mato Grosso em levar o conhecimento e a informação para pequenos, médios e até mesmo grandes produtores “é diferencial” na vida de cada um. “Eles vêm até onde nós estamos. Às vezes não precisamos sair do nosso sítio para ir à cidade”.
O leque de oportunidades abraçadas pela dona Alzira, com mais de 130 opções de cursos, foi apresentado pela mobilizadora do Sindicato Rural de Jaciara, Andréia Nascimento. Conforme ela, a produtora está sempre buscando conhecimento e capacitação para colocar em prática.
“Ela já gera renda com tudo o que aprendeu com os cursos do Senar. Então, isso para nós é muito gratificante. eu fico feliz em ver a evolução, não só dela, como dos outros alunos que participam dos nossos treinamentos”.
A mobilizadora comenta que o produtor que deseja receber em sua comunidade algum curso pode estar solicitando ao Sindicato Rural, assim como fez dona Alzira que solicitou um curso para ser realizado em sua propriedade para a comunidade São Francisco.
Andréia explica, ao programa do Canal Rural Mato Grosso, que é preciso ter um mínimo de cinco alunos e máximo de dez.
O curso solicitado foi o de produção artesanal de queijos. A capacitação tem ao todo 40 horas divididas em cinco dias seguidos entre aulas teóricas e práticas. O treinamento aborda temas como segurança e saúde no trabalho, legislação, higiene e sanitização, qualidade da matéria-prima, acondicionamento, embalagem e, claro, os segredos para transformar o leite em derivados que dão água na boca, agregando valor ao produto.
Neta de alemães, a instrutora credenciada do Senar Mato Grosso, Eliane Welberich, desde criança faz queijos. Há 13 anos ela leva o conhecimento aprendido desde então para produtores de Jaciara, como dona Alzira.
Eliane estima já ter ministrado cursos para mais de 500 turmas e o feedback recebido dos produtores “é muito gratificante”. “Os participantes ligam e falam que estão conseguindo ter uma renda melhor, que o produto está melhor. O trabalho é extremamente gratificante”.
Mais do que renda extra, uma cura
A produtora Cleides Ferreira dos Santos Basto também vive na comunidade rural São Francisco e tira do campo o sustento da família. Ela e o filho Hugo Ferreira Bastos estavam entre os alunos do curso de produção artesanal de queijos ministrado pelo Senar Mato Grosso na propriedade da dona Alzira.
Dona Cleides conta à reportagem do Canal Rural Mato Grosso que decidiu participar para adquirir mais conhecimento.
“Às vezes o pouco que você sabe, quando você aprende vai aperfeiçoando mais ainda. E ali a gente vai aprendendo, trabalhando e vai melhorando o trabalho da gente. Desde que estou aqui sempre tem cursos e todos a gente está participando. Tem nos ensinado e temos produzido aquilo que aprendemos aqui. Temos vendido, também. Tem trazido benefícios para a nossa renda familiar”.
A dona Maria de Souza Nunes é outra frequentadora assídua dos cursos do Senar Mato Grosso. Participa dos treinamentos pensando em diversificar ainda mais a fonte de renda do sítio onde vive com o marido. Além do aprendizado, leva sempre para casa novas amizades e motivos para sorrir.
Com quase 30 cursos do Senar no currículo, dona Maria conta que os fez não apenas por gostar, mas por terem a ajudado em um momento muito difícil.
“O primeiro curso quando eu entrei, estava com depressão. Uma depressão que eu não achei que ia chegar ao hoje. Chegou o primeiro curso e eu fiz. E daí em diante… É uma coisa em que você tem contato com as pessoas. Você faz amizade com as pessoas, aprende a gostar das pessoas. Nossa! Para mim foi bom demais”.
E, enquanto a dona Alzira, a dona Cleides e a dona Maria acumulam mais um treinamento no currículo, o ‘seo’ Severino Aparecido Lourenço, que há um ano trocou a cidade pelo campo, fez o seu primeiro curso com o Senar Mato Grosso.
Na cidade, Severino trabalhava na construção civil, ramo, que mesmo em meio a pecuária de cria e recria, não ficou de lado no campo.
“Sempre ajudo os vizinhos com vacina, pintura de casa, construção de área. Como eu mexo com um pouquinho de cada coisa, com cria e recria, eu pensei em fazer o curso para adquirir conhecimento na matéria do leite, os benefícios que ele traz para a gente que é o queijo”.
Do leite ao queijo, uma nova oportunidade
No curso ministrado pela instrutora credenciada junto ao Senar, Eliane Welberich, diversos tipos de queijos são ensinados. Do muçarela ao queijo coalho, minas padrão, minas frescal temperado, ricota com e sem tempero até o queijo trufado com goiabada.
Segundo a instrutora, todos são fáceis de aprender, pois não são muito elaborados.
“São queijos comuns que a gente faz para eles já poderem produzir mesmo e ter uma renda extra. A nossa intenção é essa mesma. O Senar ensina e se aprende fazendo. Então eles põem a mão na massa, aprendem e conseguem seguir adiante”.
A produtora Fabiana Santos de Oliveira vive na comunidade há quase quatro anos. Ela e o marido vivem, justamente, da renda do leite que produzem. O casal possui quatro vacas e tiram cerca de 17 litros de leite por dia, comercializados em Jaciara por R$ 10 a garrafa de dois litros.
O curso de produção de queijo artesanal foi visto pelo casal, comenta Fabiana, como uma opção de agregação de valor ao leite que produzem.
“A nossa ideia é sobre a muçarela, porque ela é bem vendida. Então, nós estamos com vontade de fazer a muçarela para poder vender na cidade. Aí dá um valor melhor. Já estamos até organizando para começar a fazer”.
Para a presidente do Sindicato Rural de Jaciara, Juliana Bortolini, exemplos como o de dona Alzira são gratificantes para a entidade, pois enxergaram a oportunidade de empreender.
De acordo com Juliana, o exemplo de dona Alzira, inclusive, acaba incentivando para que outras pessoas busquem novos conhecimentos.
“Essa é a importância dessa divulgação para que outras pessoas vejam a possibilidade não apenas de fazer uso residencial, mas que isso possa se tornar um negócio”.
E foi exatamente o que a dona Alzira fez, desde que participou pela primeira vez de um curso do Senar. “A gente foi olhando e vendo que podia ampliar cada dia mais. Através do Senar é que tudo foi transformado. Foi com esses treinamentos que a gente melhorou a nossa renda”.
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