Estado pujante no agronegócio, o setor vive um cenário difícil com a falta de mão de obra qualificada. Programas com foco na formação e no desenvolvimento técnico profissional, qualificando jovens para o mercado de trabalho são vistos com bons olhos e oportunidades para aqueles que desejam ficar mais próximos de um emprego e pelas empresas, que abrem as portas para este treinamento e veem a chance de contratar profissionais qualificados.
Em Barra do Bugres, centenas de jovens estão recebendo capacitação na área agroindustrial através de uma parceria entre o Senar Mato Grosso e o Senai Mato Grosso, por meio do Programa de Aprendizagem Técnica.
A parceria oferece formação e desenvolvimento profissional na modalidade aprendizagem técnica de nível médio, através de cursos nas áreas tecnológicas de manutenção de máquinas pesadas, manutenção automotiva, biocombustíveis, gestão, logística e eletroeletrônica.
Entre os aprendizes está Marcos Antônio Corcino de Campo. Apaixonado desde pequeno por motores e máquinas pesadas, ele buscou no programa mais conhecimento. Ele conta ao Senar Transforma desta semana que tudo começou com o pai que tem caminhão.
“A primeira coisa que eu mexi, eu lembro até hoje, foi mola. A mola do caminhão tinha quebrado e nós fomos fazer a troca. Foi a primeira coisa. Daí fomos mexendo em tudo. Já fiz motor, já fiz muita coisa. [O programa] é excelente. Aqui o conhecimento agrega muito”.
O Programa de Aprendizagem Técnica é dividido em duas partes, explica o coordenador de Formação Profissional Rural do Senar Mato Grosso, Rafael Flores.
A primeira parte é teórica e possui 1,8 mil horas. Já a fase prática, na qual os alunos colocam em ação nas empresas parceiras o que aprenderam em sala de aulas, são 1.230 horas.
Uma dessas empresas parceiras do programa é a Barralcool, em Barra do Bugres, que na temporada 2024/25 moeu 2,850 milhões de toneladas, produzindo quase 2,551 milhões sacas de açúcar e mais de 166,670 mil metros cúbicos de etanol anidro e hidratado.
Neste momento, ela se encontra em período de entressafra e nesta pausa, com os equipamentos desligados, é justamente o setor da manutenção que recebe o maior foco.
Para o supervisor de manutenção automotiva, Neulivan Vasconcelos Souza Filho, receber os aprendizes é um “grande prazer”, pois “o desejo nosso é que eles consigam colocar em prática o que eles viram na teoria”.
Alagoano, Neulivan chegou em Mato Grosso há 16 anos para trabalhar na agroindústria e viu de perto a evolução dos equipamentos, maquinários e da tecnologia embarcada neles. Evolução que passou a exigir cada vez mais mão de obra qualificada.
“A capacidade técnica está andando à passos lentos e a tecnologia anda à passos bem largos. Então, tem sempre que buscar aqueles que consigam ter esse tipo de informação e eu consigo fazer a manutenção de equipamentos cada vez mais tecnológicos”.
A aprendizagem que gera oportunidade
O quadro de colaboradores da agroindústria em Barra do Bugres tem aproximadamente 1,2 mil pessoas, sendo que nos períodos de safra esse número pode aumentar. E quando se fala em contratação, esse é um dos grandes desafios da empresa: trazer profissionais qualificados que vão dar conta do recado em cada situação.
Conforme a coordenadora de Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) da Barralcool, o desafio cresce ao passo da evolução da tecnologia e dos equipamentos.
“A tecnologia tem vindo e nós precisamos sempre de profissionais que estejam melhor qualificados para contribuir com a gente no nosso quadro de funcionários”.
Questionada se é fácil encontrar profissionais capacitados e aptos diante de tais evoluções, ela responde que não. “São profissionais que até hoje a gente fala, na parte de regra, que a gente está um brigando com o outro para trazer esses funcionários, para reter esses funcionários também”.
Para a coordenadora de DHO, diante desse cenário, a parceria da empresa com o programa do Senar e o Senai é de suma importância.
“Para a gente aprendizagem ela é extremamente importante, porque são jovens da nossa comunidade que a gente pode ajudar a capacitar. Então é muito rico isso para a gente. Porque às vezes eles trazem ideias novas e ajudam a gente a colocar a tecnologia em prática dentro da empresa também”.
Na indústria, o programa de aprendizagem do Senar e do Senai está em sua segunda turma. A primeira turma foi de técnico em eletromecânica com 33 alunos. Larissa conta ao Senar Transforma, do Canal Mato Grosso, que destes 33 alunos, 15 foram efetivados pela empresa.
Entre os ex-alunos está Luiz Ricardo Oliveira Macedo. Ex-montador de móveis, ele é hoje mecânico de refrigeração, sendo responsável pela manutenção de ar condicionado da usina.
“Eu passei pelo de mecânica automotiva e depois eu fui para elétrica industrial e lá comecei a aprender sobre a parte elétrica e a mexer com ar condicionado. E com isso fui tendo aprendizado até chegar no fim do curso e fui contratado. Para mim foi um momento muito feliz”.
Entre os futuros profissionais que participam hoje do programa do Senar e do Senai tem aqueles que buscam a primeira oportunidade de emprego e para isso seguem o caminho da qualificação. É o caso de Milene Aparecida de Siqueira Arantes, de 19 anos.
Ela conta ao Canal Rural Mato Grosso que buscava um curso para conseguir iniciar uma carreira, até que tomou conhecimento do programa.
“Comecei na parte de mecânica e agora estou mexendo mais na parte elétrica. Tem dias que eu pego na colhedora, no trator. Tem dias que eu fico em caminhão. Tem dias que eu estou no campo, tem dias que eu fico aqui na oficina. Estou gostando bastante. É tudo novo”.
Novas experiências, novos gostos
Daniel Henrique da Silva Santana é um dos aprendizes na agroindústria em Barra do Bugres. Filho de fotógrafos, o jovem de 19 anos, que até há alguns dias atrás estava com uma máquina fotográfica em mãos, hoje tem nelas colheitadeiras, tratores e caminhões.
“Eu vi a oportunidade de entrar no curso. Ter um conhecimento a mais nunca é demais, também. Me interessei, entrei e estou gostando. Eu não tinha conhecimento nenhum. Entre aqui e ganhei conhecimento a mais e gostei bastante. Já mexi com várias coisas aqui. Com colhedora, trator, até caminhão eu já mexi”.
O coordenador de Formação Profissional Rural Senar Mato Grosso, Rafael Flores, frisa que o estado “precisa de uma mão de obra qualificada. Então esse programa ele tem um processo onde no final o jovem vai estar extremamente capacitado para estar realizando todas as necessidades da agroindústria”.
Em dois anos de atuação, segundo Rafael, 39 turmas foram montadas pelo programa. Algumas já concluíram e outras estão em período de aprendizagem. A perspectiva para 2025 é que 17 turmas iniciem.
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