Um incêndio de grandes proporções no município de Cáceres (MT) vem se alastrando e consumindo áreas protegidas e propriedades rurais de dois assentamentos. Por lá, segundo produtores, inúmeros animais já perderam a vida. Diante da situação, o município decretou estado de emergência.
Cáceres está localizada na região centro-sul de Mato Grosso, região que detém a maior concentração bovina do estado.
O rastro de destruição deixado pelo fogo e muitos prejuízos ao meio ambiente e aos pequenos produtores dos Assentamentos Laranjeiras e Ipê Roxo, na zona rural da cidade, é desolador.
Ao Canal Rural Mato Grosso, o produtor Francisco Romão da Silva conta que a última chuva ocorreu no mês de abril.
“De lá para cá só seca. Muito extensa. Aí parece que o fogo vem com alta velocidade. A gente juntou um grupo e combateu ele na serra, mas não deu conta. Pulou pra fazenda e veio com tudo”.
A produtora rural Camila Silva Ormonde transformou a sua propriedade em uma base do Corpo de Bombeiros na região. Ela explica que a decisão teve como intuito tentar salvar os pastos das propriedades vizinhas e, principalmente, a sede de uma escola próxima.
“A gente tentou socorrer no máximo que podia para não acabar de passar para outras propriedades. Todo mundo se mobilizou. A população foi bem ativa, bem unida”, conta ela que chegou a perder 50% do seu lote.
Animais padecem em meio à incêndios
O produtor Sebastião Rodrigues Paixão acordou por volta das três da manhã com o fogo quase invadindo a sua casa.
“Três e meia da manhã eu acordei com o fogo, que tinha pulado, e eu fui apagar. [Se não fosse uma força tarefa] perdia a casa também. O trem lá pegou fogo beirando a porta”.
Segundo o produtor, para escapar do fogo os animais arrebentaram a cerca da propriedade em busca de abrigo dentro do Pantanal, que também está sendo castigado pelas chamas. Muitos animais morreram e os que conseguiram retornar com vida agora tem o desafio de superar as sequelas provocadas pelas queimaduras.
Das 80 cabeças de gado que o produtor Sebastião possuía ele estima ter perdido em torno de 40 a 50 animais.
“Ou mais, porque tem mais doente. Ainda tem muita vaca machucada, fogo pulando a distância que estava 800 metros, um mil metros. Não tem como entrar no meio. Não dá para segurar o gado nessa hora. Ficou tudo doido. Foi arrebentando cerca e saindo. Não teve jeito. Agora não tem renda de nada, porque todo meio de ano e final de ano você poderia vender uns bezerrinhos. Agora não vou poder vender nada, porque não vai ter. Dá tristeza na gente. Muita tristeza é o sentimento”, diz ele ao Canal Rural Mato Grosso.
Quem também registra perdas significativas causadas pelo fogo é o produtor Gilson Ramos da Silva.
“Nós tínhamos uma média de umas 200 cabeças, mas esparramou. Nossa cerca queimou e o gado escapou. Ao invés de correr no sentido contrário, correu mais para o fogo ainda. Saiu tudo para o Pantanal e o gado extraviou. Foi só morrendo gado. Muito gado se acidentou. Acha muito gado sapecado aí. E estamos na procura, correndo atrás. Teve muito gado que morreu atolado tentando ir para a beira da baía caçar refúgio. Poucos voltaram para casa e a maioria estamos achando nesta situação que provavelmente não salva. Como vamos conseguir recursos para pagar as contas? Muita gente tem financiamento. Tem que pagar, também”, questiona Gilson.
Cuidados para tentar salvar os animais
De forma voluntária, o médico veterinário Fernando Vieira da Silva está dando assistência médica aos animais feridos. Criado na comunidade, ele conta, à reportagem do Canal Rural Mato Grosso, que devido ao estresse muito grande, provocado pela dor das queimaduras, muitos abortos precoces estão ocorrendo, inclusive.
“A gente acaba não conseguindo atender. É muito crítico o cenário. Se for olhar assim, a maior parte dos animais apresenta algum problema clínico de queimadura em si. Dois ou três até as quatro patas queimadas, já sem os cascos. Uma situação muito ruim para os animais. Fora aqueles que apresentam uma extensão de queimadura na pele por todo o corpo, que às vezes não tem condição de sobrevida. Vamos ter que acabar sacrificando. Não é o que gostaríamos de fazer, mas não tem outro jeito”.
Decreto de situação de emergência
Mais de 1,4 mil focos de incêndio em toda a região de Cáceres são registrados hoje, de acordo com o prefeito Odenilson Silva, além de quatro focos de grande proporção que ainda estão se alastrando.
Ele frisa que as ações de combate estão sob o comando do Corpo de Bombeiros e que a prefeitura tem disponibilizado máquinas e combustíveis.
“Além de ações de sobrevivência, principalmente para pequenos e médios agricultores que perderam suas propriedades e estão passando dificuldades psicológicas, alimentar e de saúde. Estamos dando todo o suporte de vida para essas pessoas. Quando decretamos estado de emergência, estado de calamidade, devido às queimadas, isso já dá direito a essas pessoas. Essa catástrofe só vai se amenizar com a ajuda dos três poderes”.
Além da prefeitura de Cáceres, lideranças do setor produtivo mato-grossense também se mobilizaram em solidariedade às vítimas.
O presidente do Sindicato Rural de Cáceres, Aury Paulo Rodrigues, comenta que já conseguiram doações de silagem, medicamentos e estão em busca de recursos para ajudar os produtores da região.
O vice-presidente da Famato, Amarildo Merotti, pontua que a Federação e a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) conseguiram recursos para comprar medicamentos para tratar os animais.
“Todos os produtores empenhados em dar uma luz e dar um colo para aqueles que perderam o gado, perderam a casa, o pão de cada dia deles. Vamos estar juntos e os produtores têm plena consciência que tem que estar junto nesse momento”.
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