Em um país com milhões de pessoas desempregadas, a situação do campo chega a ser contraditória: falta mão de obra. As oportunidades para trabalhar no campo são inúmeras, mas para isso precisa de capacitação e qualificação. E há quem vê nisso a chance de mudar, transformar, realizar sonhos.
Uma ex-vigilante que trocou a portaria de uma indústria pela rotina no campo, percorrendo o caminho pavimentado com conhecimento e capacitação profissional. Esta é a história da Janaína Lopes Rabelo, que viu a oportunidade de mudar de vida com os treinamentos oferecidos pelo Senar Mato Grosso.
A cuiabana, que há cerca de 12 anos mudou com a família para Campo Verde, região sudeste de Mato Grosso, que não conhecia a realidade do agro, hoje opera até colheitadeiras de algodão.
“O algodão é uma matéria-prima incrível. Ver o famoso ouro branco sem limites é muito bonito”, conta ela ao programa Senar Transforma desta semana.
Janaína trabalha na Fazenda São João Batista, da família Bergamasco, há cerca de um ano e meio. A propriedade, conforme o produtor Júlio César Bergamasco, possui duas décadas de história e uma área de 2,1 mil hectares, dos quais ao plantio de soja e algodão são dedicados em torno de 1,5 mil hectares.
Por lá, a produtividade esperada no algodão é positiva e o resultado, frisa Júlio César, “se dá pela dedicação dos funcionários, que são treinados para dar uma boa assistência na lavoura”.
Uma curiosidade, um sonho, uma realidade
Há quatro meses Janaína foi promovida para o setor administrativo, função estratégica para dar mais celeridade às demandas do time operacional.
Ela está o tempo todo conectada com quem está no campo, demais setores e fornecedores, para atender e dar mais agilidade no dia a dia da fazenda, pois como ela mesma diz: “não pode parar. A gente tem que estar o tempo inteiro movimentando”.
Quando o assunto é agro, Janaína fala com a naturalidade de quem conhece bem o tema. Mas, a realidade sobre o dia a dia numa fazenda é relativamente novo para a ex-vigilante, que ao se mudar para Campo Verde via nascer ali a admiração pelo mundo rural e o sonho de fazer parte dele.
“Quando chegamos à Campo Verde meu pai trabalhou em uma fazenda e às vezes acompanhávamos ele e eu via aquela máquina colhendo. Eu sou cuiabana e lá não tem essas coisas. Eu achava impressionante aquela máquina linda e pensava ‘será que eu tenho essa capacidade de um dia operar uma máquina dessas?’ ou de estar lá presente naquele meio na lavoura”, comenta ela ao Senar Transforma, do Canal Rural Mato Grosso.
Entre o trabalho de vigilante em uma sementeira e uma empresa de biodiesel, foram cerca de dez anos de trabalho, até que conheceu o gerente do Sindicato Rural de Campo Verde e mobilizador do Senar Mato Grosso, Adair Hanzen, e foi apresentada aos treinamentos ofertados.
Foram três anos de treinamentos, enquanto ainda trabalhava como vigilante. Conforme Janaína, sempre que terminava um já acionava o Sindicato Rural para ver se havia algum outro que poderia fazer.
“Não abria mão dos treinamentos. Era cansativo, mas estava lá. Presente, batendo ponto”, frisa.
Entre os treinamentos feitos pela egressa do Senar Mato Grosso estão de empilhadeira, pá carregadeira, classificadora de grãos, secador, colheitadeira cotton, manutenção e regulagem e colheitadeira de grãos.
“[Esses treinamentos] abriram uma janela na minha cabeça, porque eu tinha aquele mundinho de vigilante, de fazer ronda. Não tinha essa visão de ‘eu posso mudar de área’. A partir desses treinamentos eu comecei a ter uma visão de que eu poderia mudar. Que eu podia sair do meu mundo engessado e sair da minha rotina para algo que eu realmente gostava. Uma coisa que eu realmente queria, que foi a parte do agro”.
Quando recebeu a “convocação” para trabalhar no campo, quando ocorreu a transição, Janaína revela que ficou “muito nervosa”.
“A princípio eu não conseguia acreditar, porque é difícil uma mulher no campo. A gente conseguir uma brechinha ali é difícil. Sou muito grata por estar ali. Aquela imagem, aquele céu. É muito lindo”.
Capacitação para quem é do campo e da cidade
Mesmo não possuindo vínculo com o campo, os cursos, treinamentos e capacitações do Senar Mato Grosso podem ser acessados por todos.
Adair Hanzen destaca que Campo Verde, por exemplo, é uma região muito rica na agricultura, mas que também depende muito da mão de obra qualificada. De acordo com ele, por mais que se divulgue, ainda há pessoas que perguntam ‘ah, mas eu não trabalho na fazenda, eu posso fazer?’.
“Cada vez mais o Sindicato Rural vem divulgando esse trabalho, que todas as pessoas podem. Porque hoje, na verdade, para você estar no campo tem que estar capacitado. Começando com a Norma Regulamentadora, que é a base de tudo, depois manutenção, operação, gestão”.
A falta de mão de obra qualificada é um dos grandes gargalos do campo há muito tempo. Numa atividade que é tão cara, que tem maquinário robusto e com muita tecnologia, como pontua ao Senar Transforma o produtor Júlio César, “quem não acompanha a tecnologia hoje vai ficar para trás”.
A preocupação do produtor, assim como de muitos, reforça a importância do trabalho que o Senar Mato Grosso vem desenvolvendo. Sempre com o radar ligado para identificar os principais obstáculos enfrentados pelos produtores, a Instituição de ensino busca as melhores maneiras para superar tais desafios.
“Nós estamos com aproximadamente 200 treinamentos para ofertar ao produtor rural das mais diversas cadeias produtivas. É uma forma de fato de levarmos conhecimento. A cada dia que passa, nós estamos adentrando cada vez mais à níveis tecnológicos que exigem muito conhecimento e aperfeiçoamento”, ressalta o supervisor regional do Senar Mato Grosso, Hatyla Marques.
Ainda conforme ele, a capacitação é de suma importância, inclusive, para se obter bons resultados no campo e, principalmente, diminuir os custos de produção, que seguem altos.
“Tudo isso através das capacitações é possível. Dentro do objetivo do Senar Mato Grosso, se formos olhar as cadeias produtivas que temos, existem alguns treinamentos que atendem aquela cadeia e para a atividade é necessário às vezes nós termos conhecimento de forma global. Tem muita oportunidade. O conhecimento nunca é demais”.
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