Os desafios observados na safra 2023/24 de preços baixos e alto custo de produção, somado às dificuldades da falta de mão de obra no campo, seguirão refletindo na safra 2024/25 que começa em menos de 30 dias. Especialistas pontuam que o produtor precisa ficar cada vez mais atento ao mercado externo, uma vez que a soja e o milho são produtos globais.
O cenário para a safra 2024/25 e a mão de obra do futuro foram alguns dos pontos discutidos durante o terceiro Fórum Técnico Mais Milho, na manhã desta quarta-feira (14) em Cuiabá (MT).
“Mato Grosso ao contrário dos outros anos sofreu muito com o clima e essa quebra não refletiu nos preços. Mas, nós temos que lembrar que a soja é um produto global. Então a produção global reflete aqui”, pontuou Mauro Osaki, pesquisador da área de Custos Agrícolas do Cepea/Esalq-USP.
O especialista salientou ainda que a safra 2024/25 se desenha para um mesmo caminho da 2023/24, principalmente no que tange à preços e custo de produção, o que pode impactar na rentabilidade do produtor.
“A safra 2023/24 foi um sinal de alerta quanto aos investimentos e a 2024/25 mostra que se terá pé no freio devido a essa mudança de cenários”.
Mauro Osaki lembrou ainda que o milho segunda safra “sempre se trabalhou no fio da navalha”, uma vez que é uma safra de riscos, podendo haver durante o seu plantio e desenvolvimento falta ou excesso de chuvas e até mesmo geada, como é o caso do Mato Grosso do Sul.
“O que preocupa hoje é o recuo do preço, o que diminui a rentabilidade. O produtor precisa recuperar o capital. Soja e milho caminham juntos hoje. Milho não tem margem para errar na 2024/25”, disse o pesquisador do Cepea, ressaltando que no caso do cereal a produtividade média e o custo de produção estão “empatados”.
Além disso, Mauro Osaki ainda chamou a atenção para o mercado externo, uma vez que, principalmente a Argentina e os Estados Unidos, estão ampliando os investimentos na produção de grãos.
“O agricultor vive momentos de ciclos de preços. Quando se vive o momento de alta, se esquece das vacas magras. Nós estamos expostos ao mercado internacional. O Brasil está produzindo mais do que a demanda da China. Precisa abrir novos mercados, olhar os que estão em crescimento. Os custos estão mais caros, a inflação no mundo alta. A Covid-19 elevou muito tudo e isso não é só questão de Brasil”.
Mato Grosso celeiro de emprego, mas falta de mão de obra
Outro desafio que permanecerá ainda pela safra 2024/25 é quanto à mão de obra. De acordo com Mateus Tavares, do Instituto CNA, a situação não se restringe somente a Mato Grosso, mas é observada em todo o país.
“É um dos gargalos. A tecnologia permite o controle dos custos, mas a falta de mão de obra impede o avanço. A CNA fez uma pesquisa que mostra que a mão de obra é um dos desafios do setor, pois há aumento de custos por conta dessa falta”, disse ele durante o Fórum Técnico Mais Milho.
Cerca de 4% dos produtores que responderam à pesquisa da CNA, destacou Mateus Tavares, revelaram utilizar ferramentas de gestão, “o que mostra também haver falta de pessoas capacitadas para fazer o uso destas ferramentas para o financeiro e tomadas de decisões”.
No âmbito de Mato Grosso, recente pesquisa divulgada pelo Imea e o Senar Mato Grosso, apontou que dentre os profissionais que atuam no campo, operadores de máquinas e vaqueiros são os mais ausentes.
“Nos chamou a atenção para a falta de vaqueiros. Talvez pelas mudanças de perfis. Há ainda uma migração para a cidade e não se vê a volta. Os produtores estão buscando artifícios para atrair, segurar o colaborador, como é o caso de bonificações”, comentou o superintendente do Imea, Cleiton Gauer.
O Fórum Técnico Mais Milho integra o projeto Mais Milho, que está em sua oitava temporada e é uma realização do Canal Rural, afiliada de Mato Grosso, em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Conforme o superintendente do Senar Mato Grosso, José Luiz Fidelis, a instituição vem buscando mudar o seu mote para atender melhor às necessidades dos produtores. Entre as mudanças está a ampliação da carga horária de determinadas capacitações, como é o caso de operador de máquinas e pulverizador.
“Quarenta horas não capacita a pessoa para atuar numa máquina, mais precisamente aqueles que não possuem experiência na área”.
Ainda segundo Mateus Tavares, do Instituto CNA, além de se falar em oportunidades de trabalho no campo e da remuneração, é preciso mostrar que no interior “há qualidade de vida”.
“Precisa-se começar a falar sobre isso. É preciso mostrar os benefícios também para atrair. Na cidade muitas vezes não se tem nem tempo para o lazer”.
Confira a entrevista de Mauro Osaki no Mercado & Companhia:
+Confira mais notícias do projeto Mais Milho no site do Canal Rural
+Confira mais notícias do projeto Mais Milho no YouTube
Clique aqui, entre em nossa comunidade no WhatsApp do Canal Rural Mato Grosso e receba notícias em tempo real.